O caçador russo de ameaças

Eugene Kaspersky fala sobre Rússia, ameaças digitais e cibercrime

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Por Redação
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Eugene Kaspersky é um apaixonado por desafios. Criptógrafo por formação, começou a trabalhar para o governo da antiga União Soviética em 1987.Em 1989, quando trabalhava para o Ministério da Defesa Russo e para a KGB, teve sua máquina infectada por um vírus. Daí, a curiosidade o transformou em um dos maiores estudiosos do planeta em ataques digitais. Em 1991, seu primeiro software de proteção, denominado AVP, foi lançado. Por conta de um disputa com outra empresa norte-americana, o programa foi renomeado para Kaspersky Antivírus.

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Hoje, Kaspersky é CEO da Kaspersky Labs, emprega mais de 2.000 pessoas e é responsável pela proteção de mais de 300 milhões de sistemas pelo mundo. Ele falou ao Link sobre ameaças digitais, Rússia e zumbis virtuais.

Hoje, qual a maior ameaça digital?Tudo que está conectado está sob possível ataque. Telefones, computadores, tudo que tem um endereço IP é um alvo potencial. E o usuário não é mais o principal alvo. Hoje, temos duas grandes redes de computadores “zumbis”, máquinas que são sequestradas sem que usuário saiba e são utilizadas para diversos fins. São 23 milhões de máquinas. Os usuários não fazem a menor ideia que fazem parte de um esquema de cybercrime. E com apenas 30.000 desses zumbis, um hacker conseguiu desconectar a Estônia da web. Se todos os zumbis forem combinados, nenhum país será páreo.

E qual é o objetivo desses ataques? Lucro. Hackers querem dinheiro, essencialmente. Existem golpistas que inserem antivírus falsos nas máquinas e, ao ligá-la, o usuário descobre que precisa pagar uma taxa para desbloquear o computador. Essas redes de zumbis são alugadas por alguns desses falsários, que as usam para captar dinheiro para si mesmos e para quem concentra o controle dessas máquinas escravizadas. E infelizmente ainda não foi possível rastrear quem as comanda.

A Rússia é um dos países mais importantes dos Bric. O ChatRoulette é obra de um russo, o ICQ foi ressuscitado por lá. Como você vê o papel da Rússia no mundo digital?Bem, nós ainda temos um longo caminho a percorrer. Graças ao alto nível do ensino na Rússia, temos muitos jovens talentosos. Mas ainda temos um estágio a vencer no que tange o uso de nossa força de trabalho especializada. Faz parte do perfil do russo essa postura de descobrimento, de desbravar o insondável. Por isso que naturalmente temos esse tipo de habilidade. Matemática é como um jogo, um quebra-cabeças. E adoramos esse tipo de desafio. E é por causa disso que muitos engenheiros acabam desenvolvendo software malicioso. Como o mercado local não consegue absorver a oferta, faltam empregos que paguem bem. E é aí que nasce um cyber criminoso.

No ranking das ameaças digitais, quais países são os mais perigosos? China, Brasil e Rússia são os maiores criadores de malwares. E cada país tem seu próprio estilo. Na China, o alvo são os jogos online. Já a Rússia se especializou na criação de malwares de alto padrão. O Brasil desenvolve poderosos cavalos de tróia bancários.

E qual seria a solução para esses problemas? É vital que exista uma maior regulamentação governamental da internet. Cada pessoa precisaria ter uma tipo de identificação digital, que retirasse o fator anonimidade do espaço digital. Só quando isso acontecer teremos mais segurança.

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Maior controle da web pode significar menores liberdades pessoais. Como equilibrar isso? Ah, mas aí é fácil. Se o governo abusa, as pessoas trocam o governo (risos). Da mesma forma que o cidadão tem direito a liberdade, ele precisa ter direito a segurança. É aí que entra a necessidade da identificação.

A maioria das empresas de antivírus é americana. Existe um preconceito pelo fato de você não ser americano?Olha, já teve muito mais. Quando começamos, era comum a desconfiança. Mas o tempo provou que nossa tecnologia de detecção é eficiente. Tem onde melhorar, é claro, mas investimos constantemente nisso, para aumentar a eficiência de nossas ferramentas de antivírus. Hoje conseguimos alguns contratos importantes, mas é o usuário final nosso maior cliente.

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