O idealizador do CD

Maestro, cantor aspirante de ópera e presidente da Sony entre 1982 e 1995, Norio Ohga faleceu aos 81 anos

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Por Agências
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Quando Norio Ohga ainda era um aspirante cantor de ópera, ele escreveu para a Sony para reclamar da qualidade dos seus gravadores de fita. Esse ato mudou o curso de sua vida. Recrutado para trabalhar na empresa, ele seria o responsável por idealizar o novo formato desenvolvido pela indústria: o CD.

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A invenção transformou a companhia japonesa de eletrônicos em um império global de software e entretenimento. Presidente da Sony entre 1982 e 1995, Ohga morreu no sábado, 23, em Tóquio, por falência múltipla dos órgãos. Ele tinha 81 anos.

Inovação na música. Conhecedor de música, Ohga insistiu que o CD fosse desenhado com 12 centímetros de diâmetro para que conseguisse armazenar 75 minutos de música. A intenção era que a nova mídia pudesse arquivar a Nona Sinfonia, de Beethoven. Desde o começo, o empresário afirmava que a qualidade do CD era muito superior, mas as pessoas se mantinham céticas de que a tecnologia poderia substituir os discos de vinil. Herbert Von Karajan, Stevie Wonder e Herbie Hancock foram alguns dos que defenderam o som digital da Sony na época.

A empresa vendeu o primeiro CD do mundo em 1982, e, cinco anos depois, suas vendas já tinha ultrapassado as de LPs no Japão.

“Não é exagero atribuir a Ohga a evolução da Sony para além de produtos de áudio e vídeo para uma companhia que se aventura na música, cinema e games”, disse o atual CEO da Sony, Howard Stringer. Alguns decisões tomadas por Ohga durante a sua gestão, como a compra dos estúdios Columbia por US$ 3,4 bilhões, foram criticadas como muito custosas. No entanto, hoje, a maioria reconhece que o foco de Ohga em música, filmes e games foi fundamental para o sucesso da empresa.

“Estamos sempre atrás das coisas com as quais as outras companhias preferem não se envolver”, disse Ohga em uma entrevista de 1998. “Esse é um grande segredo do nosso sucesso”.

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Música na inovação. Fugindo do estereótipo do executivo japonês, Ohga não era nem um pouco tímido, usava o cabelo penteado para trás e tinha ar de artista. Sua persona levava um pouco de glamour para a imagem da Sony, uma empresa que então começava a ter ambições globais.

O compositor de Los Angeles e produtor de músicas pop famosas no Japão Joey Carbone conheceu Ohga em 1986, depois de escrever alguns jingles para a Sony. Ele lembra do executivo como alguém extrovertido e cosmopolita, que poderia falar de negócios e música com a mesma intimidade. Seu escritório era coberto de fotos dele com artistas do Japão e do mundo. ”Ele parecia um ator”, disse Carbone no sábado. “Ele estava sempre falando, sorrindo e gargalhando. Parecia ter muito amor pela vida e pela música. Além disso, parecia realmente amar o que fazia”.

Ele comandava a Filarmônica de Tóquio desde 1999. Mesmo aposentado, ainda conduzia orquestras algumas vezes por ano. Frequentemente, ele comparava o ofício de maestro e de empresário: “Como um condutor precisa trabalhar para trazer o melhor dos membros de sua orquestra, um presidente de empresa precisa trabalhar em cima dos talentos da sua organização”, disse, em 1996.

A Sony começou logo após a Segunda Guerra Mundial e construiu sua popularidade em cima de rádios de transistor, do Walkman, da TV Trinitron e do CD. Ohga cursou música na Universidade Nacional de Tóquio e na Universidade de Berlin, entre 1953 e 1957. Ele desejava uma carreira com barítono. Quandoos co-fundadores da Sony Masaru Ibuka e Akio Morita o questionaram sobre suas reclamações sobre o gravador, no entanto, ele decidiu mudar de caminho.

Ele já era um executivo da Sony aos 30 anos, uma raridade na companhia japonesa. Em 1970, virou presidente da CBS Sony Records, que se tornaria a Sony Corp. of America em 1988. Ele largou a rotina dentro da empresa em 2000. A companhia diz que ele foi fundamental para a construção da marca Sony, especialmente no design.

A Sony tem encontrado dificuldades nos últimos anos, em que perdeu mercado para as TVs de tela plana de rivais como Samsung e para eletrônicos de empresas como a Apple.

/ Ryan Nakashima (Associated Press)

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