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Por dentro da rede

Opinião|O ouro da internet

É fácil criticar informação errada ou falsa na internet, mas é fundamental relembrar seus benefícios.

Atualização:

É fácil criticar informação errada ou falsa na internet, mas é fundamental relembrar seus benefícios. Hoje, que a temos quase onipresente, às vezes esquecemos seu inestimável valor e os bens que ela nos trouxe. A facilidade de encontrar e publicar conteúdos, a comodidade de comprar sem sair da cadeira ou enfrentar congestionamentos, dialogar com todos. Para os “antigos” onde me insiro, a rede permite, por exemplo, vasculharmos sebos em busca de livros usados, entulharmos a casa de quinquilharias adquiridas de terceiros, sem falar nas diatribes que podemos manter com os “hereges”, em qualquer lugar do mundo, que de nós divirjam.

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Há ouro na internet. Como é bom poder assistir a vídeos, ouvir músicas, acessar conteúdos raros que, sem a rede, dificilmente estariam ao nosso alcance, ou sequer saberíamos de sua existência. Os abnegados que colocam à nossa disposição tanto valor e ferramental merecem nosso profundo reconhecimento. Dou alguns exemplos de preciosas pérolas que se acham na rede. Há uma entrevista do Carl Jung dada à BBC, em 1959, em que comenta trechos de sua vida e experiência, incluindo-se a discussão com Freud, de quem fora aluno. Há perturbadoras e proféticas declarações, como a de com Aldous Huxley, 1958, comentando o Admirável Mundo Novo.

Num vídeo de Martin Heidegger sobre filosofia e linguagem temos a citação de Goethe de que “as coisas realmente profundas só podem ser ditas pela poesia” e onde ele comenta trechos de Karl Marx. A também filósofa e sua ex-amante, Hannah Arendt, também está presente, numa interessante entrevista de 1964. Finalmente, há uma não tão longa mas deliciosa entrevista do matemático, lógico e filósofo Bertrand Russel, também dada à BBC em 1959, onde conta historietas suas e da constante luta pela liberdade, contra o militarismo. 

Dentre as curiosidades de que ficamos sabendo, ele narra seu encontro, ainda menino, com William Gladstone, e, de forma humorística, como o cachimbo, companheiro inseparável, salvou a sua vida. Vou deixar à curiosidade do leitor. Um momento inestimável é quando o repórter, fazendo analogia à descoberta dos pergaminhos do Mar Morto, pergunta que conselho ele gostaria que chegasse às gerações do futuro. É fácil encontrar esse trecho, bastando procurar por “Bertrand Russell’s advice”. Há versão com legendas em inglês.

Bertrand Russel deixa dois conselhos a todos nós: um de caráter intelectual e outro de caráter moral. O de caráter intelectual é: “Quando você estiver estudando qualquer tema, ou considerando qualquer filosofia, atenha-se apenas ao fatos, e a que verdade esses fatos levam. Nunca se desvie pelo que você gostaria de acreditar, ou pelo que você pensa ser melhor para a humanidade. Atenha-se apenas aos fatos!”. Em seguida ele trata do conselho moral, onde começa relebrando-nos que “amar é sábio e odiar é tolo”, para, espantosamente, ouvi-lo dizer, em pleno ano de 1959: “Nesse nosso mundo, que está se tornando cada vez mais e mais interconectado, temos que aprender a tolerar-nos mutuamente.

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Certamente ouviremos e teremos que conviver com coisas de que não gostamos. Mas se quisermos ‘viver juntos’, e não ‘morrer juntos’, precisamos de tolerância e caridade, absolutamente vitais para a continuação da vida neste planeta.”

Encerro com Hamlet: “... o resto é silêncio”. Ótimo 2017 a todos!

Opinião por Demi Getschko
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