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Opinião|O que o Google quer?

O Google lançou dois novos celulares, fone de ouvido, caixas de som inteligentes, óculos de realidade virtual, um notebook de primeira linha e até uma câmera digital

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Os Pixel Buds só vão conseguir fazer a tradução simultânea se forem usados junto ao smartphone Pixel 2, do Google Foto: REUTERS/Stephen Lam

O que, afinal, o Google quer fazendo hardware? É uma pergunta que se faz muito, no Vale do Silício. E não à toa: é justa. A empresa oscila, vai de um lado para o outro, vacila. Na quarta-feira, lançou dois novos celulares, fone de ouvido, caixas de som inteligentes, óculos de realidade virtual, um notebook de primeira linha e até uma câmera digital. É uma coleção que não causaria surpresa se viesse da Apple, ou da Samsung, mas o Google se mostra tão errático que qualquer consumidor tem o direito de se perguntar: vale comprar? Ou a empresa que nasceu dum site de buscas não vai abandonar essa ideia daqui a uns dois anos? Esta tem sido a regra.

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Em seu lance mais ousado, a turma de Mountain View comprou o braço de celulares da Motorola, em 2011, para logo vendê-lo, em 2014. A pressão não foi pequena. Outras empresas que fazem celulares baseados no sistema Android, feito pelo Google, começaram a reclamar. Se o Google entra no ramo de vender celulares, melhor deixar logo claro. Companhias como a Samsung estão no ramo dos celulares de ponta e seria complicado competir com o dono de seu sistema.

Agora em setembro, o lance foi mais tímido. Comprou parte da HTC, de Taiwan, também uma fabricante de celulares – mas só uma parte. Não levou fábricas ou escritórios, levou isto sim um time de engenheiros e designers. Para quê?

Há uma aposta aí, explicou o CEO Sundar Pichai em entrevista ao site The Verge. E é uma aposta que faz sentido. Ele dá um exemplo. Todos os dias, abre o app Google Fit, de condicionamento físico. O padrão é que uma determinada janela surja, mas não é a mais usada por Pichai, então ele clica noutra. Por que os apps não percebem como os usamos e se adaptam? Por que Google Fit já não abre na janela favorita de seu usuário?

O projeto do Google com hardware é esse. Para entender, basta lembrar a tradicional aposta da Apple. Faz a máquina e o sistema. É a lógica nos computadores Macintosh, assim como nos iPhones. Os gadgets simplesmente funcionam, não dão problemas, e tira-se o melhor de todas as peças. A intenção do Google é dar um passo além: integrar hardware, software e inteligência artificial. Suas máquinas, esta é a intenção, serão um negócio lucrativo, respeitável, mas principalmente uma demonstração do potencial futuro da tecnologia de ponta. O que pode vir a ser.

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Porque a lógica de uma fabricante de celulares, hoje, se baseia no marketing. Presta muita atenção na forma, na construção dum símbolo de status. No bojo final, porém, são todos iguais. As máquinas do Google tratam o design de forma distinta. São elegantes, porém tão espartanos quanto a cara do site: Google em cima, caixa de busca no meio, dois botões abaixo – o resto, tela branca. Não há curvas ou efeitos, é um design baseado em funcionalidade.

Inteligência artificial. Mas a câmera fotográfica, por exemplo, é pura inteligência artificial. Se há pouca luz, se o usuário quer desfocar o fundo, se gostaria de correr fazendo com que o vídeo não tremesse, tudo passa por uma câmera que pensa e se adapta, a tecnologia levada ao extremo porque tudo foi pensado no conjunto: o chip, a lente, o software, e o processamento de big data que só o Google consegue fazer.

Os fones de ouvido fazem tradução simultânea (ou tentam). A caixa de som compreende em que lugar da sala está, e ajusta o nível do som para soar melhor. A câmera digital percebe que uma cena interessante está ocorrendo e tira uma foto sem que o dono se toque. Ele está relaxado, conversando com amigos. Esta é a intenção do Google. Mostrar os limites deste encontro entre hardware e inteligência artificial.

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