O Steve Jobs da era Mad Men

Livro conta a saga do fundador da Polaroid, Edwin Land, visionário da tecnologia nos anos 50

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Por Diogo
Atualização:

Livro conta a saga do fundador da Polaroid, Edwin Land, visionário da tecnologia nos anos 50

SÃO PAULO – Fabricar bons produtos não era o suficiente para ele. Era preciso ter impacto. Refinar a tecnologia e o design eram suas obsessões. Por isso, recrutava jovens universitários capazes de criar e pensar fora dos padrões. Talentoso para falar em público, sabia que para conquistar corações e bolsos era necessário surpreender e encantar. Ficou famoso porque era a personificação de sua empresa. Foi chamado de visionário e ganhou fãs pelo mundo.

 

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Apesar da descrição acima funcionar para Steve Jobs, ela, na verdade, é de Edwin Land, um dos ídolos e inspirações do fundador da Apple. Como o pupilo, Land comandou em sua época uma empresa que estava na vanguarda da inovação tecnológica: a Polaroid.

Essa analogia é o ponto de partida de Instant – The Story of Polaroid (Princeton Architectural Press, sem edição brasileira), escrito pelo jornalista americano Christopher Bonanos. O livro mostra que o roteiro de Land à frente da Polaroid, empresa que criou em 1937 e comandou até 1980, em muito lembra o caminho da atual empresa mais valiosa do mundo sob Jobs. “Ele foi capa das revistas Time e Life, ele era retratado pela imprensa da mesma maneira que Steve Jobs era”, diz Bonanos em entrevista ao Link por telefone.

No começo, a Polaroid desenvolveu uma tecnologia para escurecer vidros com o comando de um botão – a chamada “polarização” que deu nome à companhia. Formado em química pela Universidade de Harvard, Land desejava que seus funcionários fossem além de simplesmente entregar o que era pedido: “Criamos um ambiente em que se esperava de um homem que se sentasse e pensasse por dois anos”, afirmou Land numa entrevista.

Valorizava-se tanto a pesquisa que um “Departamento de Pequisas Miscelâneas” testava e maturava ideias de vários tipos. Algumas nunca vingaram, mas outras ganharam vida, como foi o caso do filme de revelação instantânea, o produto que colocou a Polaroid na história.

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Por trás do grande sucesso, Bonanos relata haver uma história com contornos de um mito “bem amarrado demais para ser verdade”. A ideia teria surgido durante as férias de Land com a família. Depois de fazer retratos da filha, ela teria lhe perguntado: “Por que não posso ver as fotos agora?”. Essa teria sido a fagulha para a invenção da revelação instantânea. Depois de alguns anos de pesquisa, a novidade foi apresentada em 1947, num evento grandioso em Nova York. Frente a uma plateia de cientistas e jornalistas, Land se deixou fotografar e ele mesmo revelou, instantaneamente, um retrato seu.

As expectativas iniciais da Polaroid foram superadas e por muito. Previa-se a venda de 50 mil unidades do chamado modelo 95. Até 1953, ano de aposentadoria da câmera, foram mais de 900 mil. Os números são ainda mais surpreendentes levando-se em consideração que os primeiros filmes instantâneos, ainda em preto e branco, tinham problemas. Fotos sumiam depois de um certo tempo. A solução foi incluir um lenço embebido em um produto químico para fixar a imagem. Nada que diminuísse o entusiasmo dos consumidores.

Um bilhão

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Prova disso foi o crescimento que a Polaroid experimentou nas décadas seguintes, principalmente após o lançamento da famosa SX-70 em 1972, modelo que tomou o mercado e se firmou como parte da cultura americana.

“Nos EUA, ela estava em toda a parte. Um número significativo das fotos tiradas todos os anos eram Polaroid. No fim dos anos 70, havia um bilhão de fotos Polaroid sendo feitas todos os anos. Dava para comprar filme em qualquer farmácia e supermercado. Era tão fácil de achar quanto o filme convencional. O impacto foi enorme. Chegou a um ponto em que as pessoas diziam que aquele era o futuro da fotografia”, disse Bonanos na entrevista ao Link.

Ninguém queria ficar fora do futuro, especialmente a Kodak, que passou de fornecedora a concorrente da Polaroid quando resolveu lançar seu próprio sistema de foto instantânea. Vendo muitas de suas patentes violadas, Land processou a Kodak em 1976. Em 1991 a decisão finalmente saiu e a Polaroid ganhou a causa: deveria receber US$ 909 milhões de indenização, a maior da história. Pelo menos até 2012, quando a Samsung foi condenada a ressarcir a Apple em US$ 1,05 bilhão pelo mesmo motivo.

Eis mais um ponto de proximidade com Jobs e Apple.

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Porém, o triunfo e a injeção extra no caixa não impediram a queda da Polaroid. Depois de fracassar com o projeto de uma filmadora (chamada Polavision), Edwin Land perdeu a confiança da diretoria da empresa e foi retirado do cargo de diretor-executivo em 1980. Para Bonanos, sem Land, a empresa deixou de olhar para o futuro: “Qualquer que fosse o futuro da fotografia, eles teriam de ter uma parte nisso. Eles não poderiam achar que continuar fazendo filme e diminuir os custos de produção garantiriam a sobrevivência”.

O fim do império

Land acompanhou de longe a deterioração de seu império. O fim começou quando a revelação de fotos em uma hora se tornou popular, tirando a vantagem da Polaroid sobre as concorrentes. Antes um polo de atração de cientistas, a companhia se viu sem novas ideias durante as décadas seguintes, quando decretou falência duas vezes. Em fevereiro de 2008 veio o golpe final no legado de Land: a Polaroid deixaria de produzir seu filme.

Bonanos não vê o mesmo acontecendo com a empresa de Steve Jobs: “Sou muito otimista a respeito do futuro da Apple. Não acho que ela vá se desmantelar como aconteceu com a Polaroid”. As ideias todas da Polaroid dependiam de Land, diz ele, o que não é o caso da Apple: “Jobs era um excelente designer industrial e publicitário, mas ele não inventou o MP3 player. Ele inventou maneiras melhores de comprar música e redesenhou o aparelho, bom em fazer as transações suaves e fazer do produto fácil de usar e lindo. Mas a tecnologia não era dele”.

—-Leia mais: • Link no papel – 29/10/2012

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