EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|Prosperidade e agonia: a fórmula

A matéria-prima que gera riqueza no século 21 é o conhecimento

PUBLICIDADE

Por
Atualização:

O número não é pequeno: 52,3 milhões de americanos vivem em comunidades em agonia econômica. Representa aproximadamente um sexto da população. Este é o resultado de um estudo desenvolvido pelo Economic Innovation Group e se baseia num índice criado utilizando-se apenas de dados oficiais. Enquanto isso, 84,8 milhões moram em comunidades que passam por um período de acelerada prosperidade. Um quarto da população. E esta história tem tudo a ver com tecnologia.

PUBLICIDADE

Não há índice neutro. Ele sempre revelará um bocado das premissas dos pesquisadores que o criaram. Ainda assim, são úteis, nos permitem compreender com mais clareza algo do mundo. O Economic Innovation Group funciona em Washington, mas nasceu no Vale do Silício. Dentre seus fundadores, um foi financiador do Facebook, outro é CEO da empresa de software por trás do Quicken, todos fazem dinheiro investindo em startups.

Se um índice revelará as premissas de quem o cria, deste grupo não poderia sair algo que derrubasse as crenças do Vale. Ainda assim, em alguns aspectos talvez eles estejam certos.

O think tank usa as técnicas do Vale – muito dado cruzado com algoritmos complexos – para compreender a economia dos EUA. O Índice de Agonia Econômica isola cada região por código ZIP – equivalente ao nosso CEP – e mistura números que incluem adultos sem diploma de ensino médio, desemprego, imóveis vazios, quantidade de pessoas abaixo da linha de pobreza e tudo o mais para organizar um ranking nacional. A partir do ranking, tenta-se compreender quais as características comuns das localidades que estão muito bem, e quais as dos cantos que vão mal.

O primeiro corte óbvio é geográfico. A prosperidade americana migrou para a Costa Oeste. No top 10 do índice, nenhuma cidade está na Costa Leste ou mesmo no Meio Oeste, as regiões que concentravam o PIB do país no período imediatamente posterior à Segunda Guerra. Se há uma característica comum a essas dez mais é o fato de que em todas a principal indústria é a da tecnologia. São Francisco, San José, Seattle, Austin, e por aí vai.

Publicidade

Mas não é só a indústria de ponta. Em todas as cidades prósperas há pelo menos uma grande universidade e a população jovem é grande. O índice de imigrantes é igualmente alto. Nem todas são grandes centros urbanos – mas, se não são, estão próximas de um. E há dois aspectos de infraestrutura sempre presentes. A de transporte – que permite fácil entrada e escoamento de produtos e serviços – e a banda larga, tanto móvel quanto fixa, com qualidade.

O que faz dinheiro, hoje, é uma sociedade bem-educada, com mobilidade facilitada e culturalmente diversa. São os números que o dizem. A expressão economia criativa não nasce no vácuo. O contrário também é verdade. Nas comunidades mais pobres – ou em agonia econômica – há poucos jovens. Há poucos estrangeiros. Não há universidade de ponta. E, em geral, têm a economia muito concentrada numa única indústria. A automotiva, por exemplo. 

E até as exceções parecem confirmar o padrão que se desenha. O Cinturão da Ferrugem, onde se baseou boa parte da economia industrial dos anos 1950 e 60, é dos locais que mais empobreceu. Há uma notável exceção: Columbus, em Ohio. Cidade próspera num mar de agonia. Muitos imigrantes, muitos jovens, e a Ohio State University.

A fórmula está dada para quem quiser colocá-la em prática. Que se abram as fronteiras, que se invista em universidades para pesquisa de ponta, e foco nos jovens. A matéria-prima que gera riqueza no século 21 é conhecimento.

Opinião por undefined
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.