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'Queremos espalhar conteúdo sem restrição ou espera'; diz Popcorn Time

Plataforma que oferece filmes e séries de forma gratuita e ilegal na internet ganha popularidade e incomoda indústria do cinema e produtoras de TV; em entrevista ao ‘Link’, desenvolvedor do serviço criado na Argentina conta sobre seu funcionamento

Por Camilo Rocha
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“O aplicativo de pirataria de filmes Popcorn Time está morto.” A manchete de março de 2014 do site da Variety, publicação que cobre a indústria do cinema americana, trazia um certo tom de triunfo. Não sem motivo: o Popcorn Time, programa lançado em 2014 que permite o streaming ilegal de filmes e séries em uma plataforma de fácil uso, representava uma séria e atrevida ameaça aos donos das obras de TV e cinema.

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Mas durou pouco a morte do Popcorn Time, causada pela própria equipe que o criou. Como tantas vezes Hollywood fez com seus personagens, o aplicativo ressurgiu para assombrar a indústria, não apenas através de uma, mas de várias novas encarnações. Originalmente desenvolvido por um grupo da Argentina, o Popcorn Time é um software aberto, ou seja, qualquer um pode acessar seu código e colocar uma nova versão no ar. Uma olhada no Google revela muitos Popcorn Time: italiano, espanhol, sueco e até brasileiro.

O Estado conversou via e-mail com um representante do Popcorn Time, que se manteve anônimo, usando apenas o codinome KsaRedFx. Chegar nele (ou nela) foi fácil: bastou um email enviado ao endereço de atendimento à imprensa disponibilizado no primeiro site Popcorn Time que aparece nas buscas do Google (e que vem com o domínio .io, do Território Britânico do Oceano Índico). KsaRedFx conta que é parte da equipe da plataforma desde o início. Ele cuida hoje das áreas de imprensa e desenvolvimento.

Segundo ele, cerca de 20 pessoas trabalham na equipe deste braço do Popcorn Time. “Mas nosso código é aberto. Isso quer dizer que qualquer pessoa pode contribuir e muitos o fazem regularmente”, lembra. Ele afirma que sua equipe não tem contato com outros ramos do Popcorn Time. “Os outros não nos contataram ou simplesmente não estão alinhados com nossos objetivos de sermos gratuitos e de código aberto.”

Em novembro do ano passado, a revista Wired conversou com um desenvolvedor do Popcorn Time registrado em domínio sueco. O representante disse que o programa tem milhões de usuários e cerca de 100 mil downloads por dia. KsaRedFx não confirmou estes números, pois se referem só àquele domínio; o seu ramo (do ponto io) não divulga nenhum número.

O Popcorn Time é diferente de sistemas anteriores por ser extremamente simples de usar e ter uma interface limpa e bonita, lembrando muito a do Netflix. Ao contrário, porém, da plataforma legal de streaming, cujo catálogo é restrito pelo copyright e pelo calendário das distribuidoras, o Popcorn Time é uma farra de lançamentos recentes, incluindo temporadas de séries inéditas no Brasil e filmes que nem chegaram aos nossos cinemas.

Como experiência de usuário, o site é muito superior à poluição visual de precursores como Pirate Bay e Kickass Torrents,, que também exigem familiaridade do usuário com o manejo de torrents (arquivo com dados para compartilhamento e acesso a arquivos muito usado para downloads não-autorizados). O Popcorn Time conecta o usuário com torrents do conteúdo em outros sites. Estes são transmitidos via streaming, sem necessidade de download.

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O serviço não se considera ilegal pois não manipula os torrents, ou seja, o conteúdo. “As pessoas não sobem torrents no Popcorn Time. O site não é usado para compartilhar torrents”, garante KsaRedFx. Para Mariana Giorgetti Valente, do Internet Lab, esse argumento pode não colar em um tribunal brasileiro. “Um ato que seja um elo na cadeia da violação de direito autoral, mesmo que sem envolver lucros, poderia sim ser considerado uma violação também”, pondera.

PREOCUPAÇÃO

No começo do ano, um documento enviado aos acionistas da Netflix aponta a popularização do Popcorn Time como motivo de preocupação. Para KsaRedFx, “não competimos com eles. Não somos um negócio ou queremos ganhar dinheiro com o Popcorn Time. Queremos ajudar a espalhar conteúdo que seja livre de restrição ou espera”. Procurada pela reportagem, a Netflix brasileira não quis se pronunciar.

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O serviço, que ganha adeptos rapidamente no Brasil, já acendeu a luz amarela também no Fórum Nacional de Combate à Pirataria e Ilegalidade, associação civil que reúne entidades empresariais e sindicatos, entre elas o braço latino-americano da MPA (Motion Picture Association), representante dos grandes estúdios de cinema dos EUA.

De acordo com Edson Vismona, presidente do Fórum, a entidade já realiza investigações junto a provedores de acesso para tentar identificar usuários do programa, mas não quis fornecer mais detalhes sobre esse tipo de operação. No exterior, esse tipo de ação vem sendo realizada regularmente. Uma produtora especialmente dedicada a localizar infratores foi a Voltage Pictures, do sucesso Clube de Compras Dallas.

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