SoundCloud endurece controle de copyright

Plataforma de áudio aumenta remoção de conteúdo e irrita DJs e músicos usuários

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Por Camilo Rocha
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O DJ e produtor Gustavo Guzzardi, de São Carlos, interior de São Paulo, há anos usa o SoundCloud para divulgar suas músicas, entre elas faixas que foram lançadas em selos da Europa. Por conta de uma produção sua licenciada para um selo estrangeiro, Guzzardi recebeu um aviso inusitado da administração da plataforma de áudio. No comunicado, o SoundCloud dizia que a faixa estava sendo removida por infringir direitos autorais do “proprietário” da música, ou seja, o selo europeu. “Assim que terminei de fazer o upload da faixa no meu perfil, recebi a mensagem automática deles”, conta Guzzardi. O produtor recorreu, alegando ser autor do trabalho, e conseguiu tê-la de volta no perfil.

O que aconteceu com Guzzardi não é um caso isolado, mas uma situação enfrentada por um número crescente de artistas no SoundCloud, ferramenta que se tornou uma das mais populares entre músicos, DJs e produtores para promover seus trabalhos. Nas redes sociais, aumentam as reclamações contra o mecanismo de remoção, que atinge faixas originais, remixes e sets de discotecagem. Desde o começo deste ano, o robô de identificação de conteúdo do SoundCloud passou a ser da Zefr, a mesma empresa que monitora o YouTube.

O músico paulista Kiko Dinucci, da banda Metá Metá, abandonou a plataforma depois de problemas com músicas licenciadas para um selo norte-americano. As músicas voltaram depois de suas queixas, mas a postura que privilegia o “proprietário comercial e não o autor” irritou Dinucci.

Já o DJ carioca Roger Lyra teve seu perfil inteiro removido por ter atingido a marca de três pedidos de remoção, no caso ligados a seu podcast mensal, que em episódios diferentes conteve músicas protegidas. “Minha conta era paga e eu era cliente há cinco anos. Perdi quase 20 mil seguidores”, lamenta.

Marcello Mansur, o DJ Memê, que já trabalhou com Lulu Santos e Lincoln Olivetti, já teve remixes e músicas autorais limadas de seu perfil no SoundCloud. “Apenas uma vez recorri. E não tive resposta”, conta. Para Memê, a plataforma segue a regra da indústria. “Se você assinou com uma gravadora, a música é deles. Seria o mesmo que Roberto Carlos decidir lancar ‘O Calhambeque’ pelo seu selo Amigo”, compara.

REMIXES

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De origem sueca, mas com base em Berlim, o SoundCloud é utilizado por nomes grandes como Madonna, Radiohead, Foo Fighters, Avicii e David Guetta. Longe do topo, há uma enorme base com milhares de criadores e tocadores de música de todo tipo, que fazem com que o site seja parada obrigatória para quem busca novos sons. Em 2013, a empresa declarou ter 250 milhões de usuários, entre criadores e ouvintes.

Desde o início, a plataforma contou com o apoio de DJs e produtores, que abarrotaram seus perfis com remixes e sets mixados. Virou comum encontrar no SoundCloud releituras “não-oficiais” de músicas.

O produtor paraense Jaloo começou a usar o SoundCloud para esse fim em 2010, pois a plataforma estava “bombando”. Desde então, teve removido um remix seu para uma faixa do músico australiano Gotye.

O remix é considerado parte da cultura pop dos últimos 50 anos, da sopa Campbell’s de Andy Warhol ao meme onde Batman aparece estapeando Robin, “Uma importante forma de expressão criativa”, como diz um texto sobre copyright do SoundCloud em seu blog oficial. O mesmo texto, porém, alerta que se alguém remixa a faixa de outra pessoa sem sua permissão “provavelmente está infringindo seus direitos”.

Ao Estado, a assessoria do SoundCloud comentou apenas que “não temos problema em abrigar conteúdo que esteja devidamente autorizado”.

Os artistas lamentam o endurecimento do site, que busca se enquadrar às regras de uma indústria que ainda não a aceitou completamente. Este mês, a Sony retirou todos os seus artistas da plataforma alegando falta de retorno financeiro.

Para Memê, o SoundCloud “tende a ser abandonado com essa inflexibilidade. Ainda é unanimidade, mas assim como aconteceu com o MySpace, uma hora cai”. Dinucci é ainda mais taxativo: “O SoundCloud ficou velho”.

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PARADAS MUSICAIS

SoundCloud

Com sede em Berlim, a empresa de origem sueca é um dos principais destinos hoje para quem quer divulgar e ouvir música nova. De acordo com pesquisa britânica, um em cada dez usuários da internet entre 16 e 64 anos acessa o SoundCloud pelo menos uma vez por mês

Mixcloud

Plataforma inglesa para onde tem migrado DJs e músicos insatisfeitos com o SoundCloud. O conteúdo sofre limitações: não pode ser baixado como no SoundCloud, apenas ouvido em streaming; e músicas individuais não são permitidas, apenas arquivos longos de áudio, como álbuns e sets.

Bandcamp

Site utilizado por artistas independentes de diversos gêneros, que contam com várias opções para oferecer sua música, de streaming gratuito à download pago. No começo do ano, a empresa declarou que artistas usuários já tinham recebido US$ 100 milhões com vendas de música no site.

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iTunes Store

Apesar de não oferecer streaming, apenas download, a loja da Apple continua sendo um ponto de venda e promoção obrigatório para artistas musicais. A situação deve mudar este ano com a chegada do novo serviço de streaming da Apple, que comprou a Beats Music para esse fim.

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