PUBLICIDADE

Startup dos EUA cria PC de US$ 170 com ajuda de moradores de favelas do Rio

Endless, empresa do Vale do Silício que tem americanos e brasileiros como sócios, desenvolveu computador voltado para países emergentes que pode ser ligado em televisores comuns e não precisa de conexão à internet

Por Camilo Rocha
Atualização:
 Foto:

SÃO PAULO – Na semana passada, a presidente Dilma Rousseff apareceu ao lado do fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, para anunciar mais uma etapa do projeto de inclusão digital da rede social, o Internet.org, na comunidade de Heliópolis, em São Paulo. Embora mais famosa, esta não é a única iniciativa do Vale do Silício que visa a tornar a tecnologia mais acessível a populações de menor renda. Com brasileiros e americanos entre os sócios, a Endless, de São Francisco, nos EUA, desenvolveu “um computador para o mundo inteiro”. Nesta semana, a empresa iniciou uma campanha para lançar globalmente o produto.

PUBLICIDADE

A intenção é oferecer um produto acessível a pessoas de países emergentes que estão à margem da revolução tecnológica atual por não ter dinheiro para comprar ou ter dificuldade de usar um computador. O modelo foi desenvolvido a partir de testes em comunidades como a Rocinha e o Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.

De acordo com Marcelo Sampaio, carioca que é diretor de expansão da empresa, os testes incluíram principalmente jovens, mas também pessoas idosas e donas de casa que nunca tocaram em um mouse. “Queremos atingir um espectro grande de gente. Se uma senhora entrar no computador, terá algo do interesse dela lá”, explica.

Com design moderno, o computador da Endless pode ser ligado em televisores comuns e não precisa de conexão à internet para o uso de seus quase cem aplicativos, que incluem o Wikipedia, vídeo-aulas da Khan Academy, criador de currículos, programa de texto, editor de imagem e tocador de música.

A campanha de arrecadação no site Kickstarter, que tem o objetivo de dar escala global ao produto, já levantou US$ 83 mil de almejados US$ 100 mil, com 28 dias de prazo pela frente.

Segundo a Endless, o computador deve chegar ao consumidor final a um preço de US$ 169. O objetivo da empresa é fabricar o equipamento no Brasil para poder manter o preço baixo. A previsão de lançamento do computador no País é o primeiro semestre de 2016.

Antes da chegada do computador, a empresa pretende oferecer de forma gratuita seu software no Brasil a partir de agosto deste ano, com foco no licenciamento para governos usarem o produto na rede pública de ensino.

Publicidade

Rocinha

A Endless incluiu pessoas das comunidades que quer atingir em sua equipe. Uma dessas colaboradoras é Michele Silva, que a empresa conheceu graças a seu trabalho com o blog Viva Rocinha, iniciado por ela em 2011.

“Viramos amigos e meses depois a Endless abriu uma vaga para comunicação. Fui chamada para um piloto de 3 meses, mas já estou aqui há 2 anos”, diz Michele, que hoje cuida da presença online da marca e está em São Francisco para o lançamento mundial do projeto.

Michele explica que participou do desenvolvimento ao lado de outros membros da equipe que vieram das comunidades, reportando opiniões de usuários, pois “entendemos a linguagem com a qual a galera de lá está mais familiarizada”.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Três perguntas para Marcelo Sampaio, diretor de expansão da Endless

1.O que um computador acessível precisa ter, além de preço baixo? Os grandes fabricantes assumem que você está conectado à internet o tempo todo, o mercado todo está direcionado para a nuvem, mas isso é ignorar que a maior parte do mundo não tem internet ou se conecta de vez em quando, numa lanhouse, ponto de wi-fi gratuito ou com plano limitado. Por meio dos apps que funcionam offline, nosso computador oferece uma experiência maravilhosa com ou sem conexão com a internet.

2. A inclusão digital nas camadas mais pobres já não está acontecendo pelo smartphone? Pesquisas mostram que a maior parte das pessoas que tem condições de ter computador, compram um. O celular é usado principalmente para consumir conteúdo, a experiência de gerar conteúdo é totalmente diferente. Escrever um currículo, fazer uma pesquisa para a escola, um trabalho acadêmico, você não vai fazer isso no smartphone.

Publicidade

3. Como você foi parar na Endless? Por indicação de um amigo em comum na universidade de Stanford conheci Matt Dalio, presidente da Endless, que procurava um brasileiro para seu projeto. Ele entendeu que 80% do público-alvo para sua plataforma estava nos países emergentes. Ele queria começar o projeto pelo Brasil, mas não conhecia ninguém por aqui.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.