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Startups em busca de mais espaço na USP

Alunos e professores criam ações para aproximar academia do empreendedorismo

Por Ligia Aguilhar
Atualização:

Rafael Arbex/Estadão

 

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O físico Marcelo Souza deixou o Ceará há seis anos para fazer um mestrado, seguido de um doutorado, na Universidade de São Paulo (USP). Especializou-se em fotomedicina, assunto no qual hoje é referência, e desenvolveu em sua pesquisa um curativo portátil e flexível que utiliza luz para reduzir dores e inflamações. Seu plano era licenciar a tecnologia, mas após uma temporada na Universidade de Harvard, nos EUA, ele decidiu empreender.

Na semana passada, a startup criada por ele para comercializar o produto, a Bright Photomedicine, foi a vencedora do primeiro programa de aceleração de startups realizado dentro de uma universidade pública no Brasil, em uma parceria da USP com o Startup Farm, programa itinerante que roda o País e funciona como uma espécie de escola para ensinar potenciais empreendedores a estruturar seus negócios em poucos tempo – no caso em questão, apenas cinco semanas.

“Falta muito conhecimento sobre empreendedorismo nas universidades brasileiras. Especialmente na pós-graduação, onde está o filé da pesquisa científica, fala-se muito pouco no assunto”, diz Souza.

Se empreendedorismo por si só ainda é um tema novo no Brasil, a ideia de transformar pesquisas de ponta em negócios é um tema ainda mais sensível, já que alguns docentes e pesquisadores acreditam que essa é uma forma de promover a mercantilização da ciência. É a união da academia com o mercado, porém, que há anos ajuda locais como o Vale do Silício e Israel a assumir a dianteira da inovação tecnológica.

Rafael Arbex/Estadão

 

“As universidades precisam perceber que já não podem mais se basear apenas no tripé pesquisa, ensino e extensão. No século 21, há um quarto objetivo ligado a esse tripé que é inovar e fazer essa inovação chegar aos cidadãos”, diz o professor Fábio Kon, vice-coordenador do Centro de Competência em Software Livre (CCSL) do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP.

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Kon é um dos professores que estão ajudando a levar a cultura empreendedora para dentro da USP. “Sempre gostei de produzir software, mas percebia que muita coisa feita no Brasil não ia para a frente. Transformar ciência em negócios ainda é um tema pouco explorado nas universidades”, diz.

Ele negociou a realização de uma edição do programa da Startup Farm na universidade motivado por uma pesquisa realizada em Israel em 2013 para conhecer o ecossistema de empreendedorismo do país. “Vi que a aceleração dava muito certo por lá e voltei com a vontade de trazer isso para a USP.”

Alan Leite, diretor executivo da Startup Farm, diz que a USP não foi a primeira universidade a procurar o programa para uma parceria, mas que o interesse por empreendedorismo ainda é maior entre as universidades privadas do que nas públicas. “Foi um desafio vender o programa para os alunos porque hoje o parâmetro de sucesso da academia é publicação científica”, diz.

O programa de aceleração realizado na USP foi aberto para qualquer cidadão, mas tinha como meta envolver os alunos no processo e promover a cultura empreendedora. “Precisamos da academia para gerar inovação, porque é dentro de lugares como o CCSL que estão laboratórios com pesquisas de ponta que podem ter impacto global”, diz Leite.

Tradição

Rafael Arbex / Estadão

 

Aos poucos a universidade se abre ao empreendedorismo. Já saíram da USP empresas de tecnologia conhecidas hoje no País, como o Buscapé, a 99 Táxis e a Kekanto.

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Iniciativas encabeçadas pelos alunos como o Núcleo de Empreendedorismo da USP (NEU), e uma série de disciplinas focadas no assunto, incluindo um mestrado em empreendedorismo, foram criados na universidade nos últimos dois anos.

A promoção ao empreendedorismo e a inovação hoje fazem parte das normas da universidade e do plano de metas para 2015. Ainda assim, entre os alunos há um consenso de que falta muito para uma mentalidade empreendedora se disseminar no campus, especialmente fora dos cursos de engenharia e administração de empresas.

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Para as startups que participaram do programa de aceleração na universidade, os ganhos são notáveis. Formado em administração de empresas pela USP, Leandro Scalize, cofundador da startup RankMyApp, segunda colocada no programa de aceleração, melhorou seu produto. “Encontrei um estatístico do IME que me ajudou a aprimorar o algoritmo do sistema. Teria dificuldade de encontrar alguém como ele no mercado”, diz.

Já a Home Bistrô, que se propõe a ser um Airbnb gastronômico e ajudar cozinheiros a transformar suas casas em restaurantes, encontrou um diretor técnico (CTO) dentro da universidade. “Precisávamos de um técnico para fazer o nosso site e encontramos o Paulo, que é mestre pela USP e seria um profissional caro para contratar no mercado”, diz Henry Couto, cofundador da startup.

Formado e pós-graduado em ciências da computação, Paulo Cheque, agora CTO da Home Bistrô, é exemplo do impacto do empreendedorismo na geração de inovação. Por anos ele desenvolveu jogos como passatempo, mas não sabia como colocá-los no mercado. Após trabalhar em startups, decidiu empreender. “Sempre quis ter apoio para isso na graduação. Vejo que aos poucos as coisas estão mudando na USP e espero que continuem assim”, diz. “Se eu fizer sucesso no futuro, adoraria investir em empresas de alunos da faculdade.”

Buscapé

O site de comparação de preços foi criado por estudantes da Escola Politécnica em 1998 e vendido em 2009 por US$ 342 milhões.

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99 Táxis

O app de táxis foi criado por um ex-aluno da Poli em 2013 e recebeu R$ 130 milhões de investimento só neste ano.

Kekanto

O app criado por alunos da USP funciona como um guia de serviços; já recebeu quatro rodadas de investimento e soma 2 milhões de usuários.

Worldpackers

Criada por um ex-aluno de economia, ajuda viajantes a encontrar hospedagem de graça; recebeu aporte de cerca de R$ 2 milhões.

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