Suicídios em fábricas chinesas

Dez trabalhadores de fábricas de fornecedores de produtos da Apple, Nokia, HP e Dell morreram este ano

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Por Agências
Atualização:

Vestido de branco, a cor do luto na China, o pai de Ma Xiangqian, 19, chora nos portões de um amplo complexo tecnológico, com mulher e filha ajoelhadas a seu lado. Ma foi um dos nove trabalhadores que morreram aparentemente por suicídio em complexos industriais chineses neste ano, o que despertou questões sobre as condições de vida dos operários na região do delta do rio Pérola, na China — conhecida como “a oficina do planeta”.

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Os pais dizem que Ma, encontrado morto no sopé de uma escadaria da fábrica em janeiro, morreu em circunstâncias misteriosas. E querem saber o motivo. “Tudo que queremos é a verdade. Não queremos nem mesmo indenização”, disse o pai.

A fábrica pertence à Hon Hai Precision Industry, gigante taiwanesa que produz computadores, consoles de videogames, celulares e outros aparelhos eletrônicos sob contratos com a Apple e muitas outras grandes marcas mundiais.

O presidente do Conselho da Hon Hai e um dos mais conhecidos empresários de Taiwan, Terry Gou, conduziu a imprensa, na quarta-feira, 26, em uma rara visita ao complexo industrial. “Estou muito preocupado com isso e nem consigo dormir à noite”, disse Gou. “De um ponto de vista científico, não estou certo de que sejamos capazes de deter todos os casos. Mas, como empregadores responsáveis, precisamos assumir a responsabilidade de preveni-los ao máximo.”

Há muito em jogo para a Hon Hai e sua subsidiária Foxconn, que fabrica celulares para a Nokia e outras marcas mundiais, em meio aos crescentes apelos de ativistas por um boicote mundial a produtos como os mais recentes modelos do iPhone, da Apple.

“A Hon Hai precisa enfrentar a questão imediatamente. Se não o fizer, Nokia, HP e Apple poderiam reduzir seus pedidos, devido à pressão que as vendas de seus produtos sofreriam”, disse o analista Andrew Deng, da Taiwan International Securities.

A Hon Hai e a Foxconn estão sob ataque por sua cultura corporativa severa e secreta.

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Fora do complexo tecnológico, trabalhadores reagiram bravos a uma carta que foram obrigados a assinar, incluindo uma cláusula dizendo que a empresa não pagaria nada além do mínimo legal por ferimentos fora do local de trabalho.

Confrontado com a carta, Gou pediu desculpas e disse que iria retirá-la, chamando a linguagem usada de “inapropriada”.

APPLE

A Apple disse na quarta-feira que está triste com os supostos suicídios e que continuará a inspecionar todas as fábricas onde seus produtos são feitos.

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“Estamos tristes com os recentes suicídios na Foxconn”, disse o fabricante dos iPhones e iPads em sua primeira declaração sobre as mortes. “Estamos em contato com os diretores da Foxconn e acreditamos que eles estão lidando com muita seriedade com o caso”, disse a Apple acrescentando que uma equipe própria também irá fazer uma avaliação do trabalho da Foxconn em solucionar o caso.

Separadamente, a Dell disse que vai investigar qualquer denúncia de condições de trabalho na sua cadeia de produção. “Esperamos que nossos fornecedores adotem os mesmos padrões que temos em nossas instalações. Nós fazemos esses padrões serem cumpridos por uma série de meios, incluindo o código de conduta da indústria de eletrônicos, avaliações com os fornecedores, auto-avaliações e auditorias”, afirmou a declaração da Dell.

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