Um novo impulso para o campo

Se superar desafios de conectividade da área rural, Brasil pode usar tecnologia para dar salto na produção de alimentos

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Por Fabrício Lira Figueiredo
Atualização:

O agronegócio é um dos setores mais importantes da economia brasileira: em 2017, gerou mais de 93 mil empregos no País. Somos o maior exportador global de alimentos – com um superávit de US$ 71 bilhões registrado em 2016 na balança comercial mundial. Essa posição de liderança foi construída ao longo de décadas de desenvolvimento da agropecuária tropical.

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As próximas décadas trazem perspectivas favoráveis ao agronegócio brasileiro, em função do aumento na demandas interna e externa por alimentos. Segundo projeções da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2050, a população mundial chegará a cerca de 9,6 bilhões de habitantes e, para atendê-la, o setor agrícola terá de aumentar a produção global de alimentos em cerca de 70%.

Trata-se de um desafio que a transformação digital – em curso em vários setores da economia global – poderá ajudar a vencer também no agronegócio. A internet das coisas – apelido dado à revolução que vai conectar todos os objetos à nossa volta – apresenta-se como uma ferramenta essencial para os produtores rurais aproveitarem ao máximo os recursos disponíveis e reduzirem custos operacionais.

A partir de uma série de dispositivos conectados que vão coletar, armazenar e processar grandes conjuntos de dados, novas aplicações se tornarão realidade: gestão automatizada de pragas e da aplicação de insumos, manejo inteligente de plantio e colheita, predição de microclima e antecipação de falhas são algumas delas.

Existem, entretanto, diversos gargalos no País para a adoção de novas tecnologias no campo. Uma barreira crítica está na infraestrutura de telecomunicações, incipiente nas áreas rurais e remotas do Brasil. Isso dificulta a oferta de conectividade em larga escala nessas regiões. As redes móveis públicas, por exemplo, estão concentradas majoritariamente em áreas urbanas e ao longo de grandes rodovias. Por isso, são poucas as opções de acesso disponíveis para as vastas áreas de plantio, com níveis de cobertura e desempenho adequados e custos viáveis.

Algumas iniciativas vêm sendo adotadas no País nos últimos anos para resolver esse problema. Entre elas, destacam-se o licenciamento das faixas de frequência de 450 MHz e 700 MHz – que propiciam cobertura móvel mais ampla – para as grandes operadoras de telecomunicações e o lançamento do satélite nacional SGDC (Sistema Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas) da Telebrás, que promete levar banda larga a áreas remotas. Vale mencionar a recente implantação da rede 4G privada e adaptada para a faixa de 250 MHz, desenvolvida pelo CPqD com apoio do BNDES, que está levando banda larga com ampla cobertura, viabilizando o uso de internet das coisas na usina São Martinho, referência no setor sucroalcooleiro. 

Olhando para o futuro, as oportunidades são promissoras, com a chegada das redes 5G e os avanços nas áreas de inteligência artificial. Muitas inovações, como carros autônomos e sensores inteligentes, se tornarão realidade na próxima década. Esse movimento começa a ser explorado pelos empreendedores brasileiros, como demonstra o expressivo crescimento das startups focadas no agronegócio. Sem dúvida, elas representam um vetor de inovação estratégico para o País, que deve ser incentivado.

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Com esse cenário à frente, o Brasil tem excelentes chances de ampliar seu protagonismo global no agronegócio, evoluindo do atual status de “celeiro” para o de “locomotiva” do mundo nesse setor.

*É GERENTE DE ESTRATÉGIA DE AGRONEGÓCIO INTELIGENTE DO CENTRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM TELECOMUNICAÇÕES (CPQD)

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