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Vale do Silício se volta para o ensino

Apesar do avanço de 55% em 2014, setor terá de enfrentar burocracia de escolas para ganhar escala e ser rentável

Por Camilo Rocha
Atualização:
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Natasha Singer The New York Times

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A indústria da tecnologia de ensino está repleta de empresas recém-nascidas cujas ideias inovadoras ainda não se mostraram eficazes – ou rentáveis. Mas isso não desanima os investidores, que injetam dinheiro em empreendimentos tão diferentes quanto aplicativos gratuitos de gestão de sala de aula para professores e lições de idiomas estrangeiros para alunos adultos.

O financiamento e investimento em equity para empresas de tecnologia do setor do ensino aumentou para quase US$ 1,87 bilhão no ano passado, alta de 55% ante o ano anterior, de acordo com novo relatório da CB Insights, um banco de dados de capital de investimento. Os números são os mais altos desde que a CB Insights começou a cobrir a indústria em 2009.

Os acordos de financiamento de mais destaque incluem a Pluralsight, empresa que proporciona treinamento online para profissionais de tecnologia, que captou US$ 135 milhões; Remind, um serviço gratuito de mensagens para professores que se comunicam com alunos e pais, que captou US$ 40 milhões de firmas como Kleiner Perkins Caufield & Byers; e Edmondo, uma rede social feita sob medida para o uso em sala de aula que é gratuita para os professores, captando US$ 30 milhões.

“O ensino é uma das últimas indústrias a serem tocadas pela tecnologia da internet, e estamos testemunhando um esforço para alcançar outros setores”, disse Betsy Corcoran, diretora executiva do EdSurge, serviço de notícias do ramo e firma de pesquisas. “Estamos vendo os nomes mais clássicos do capital de investimento – Kleiner Perkins, Andreessen Horowitz, Sequoia – começarem a prestar atenção nesse mercado.” Embora tenham aumentado acentuadamente, os números do financiamento destinado às tecnologias de ensino não passa de troco perto do dinheiro investido em software para o consumidor. Uber, o aplicativo para a contratação de motoristas, captou US$ 2,7 bilhões no ano passado.

Barreiras

As somas menores destinadas à tecnologia de ensino ilustram os desafios enfrentados pelas startups que tentam convencer o sistema público de ensino a adotar seus produtos inovadores. Com frequência, as empresas precisam lidar com secretarias locais de ensino com orçamento limitado e processo de compras e contratações lento. Para vencer a burocracia, muitas startups estão oferecendo aplicativos e sites gratuitos diretamente para os professores na esperança de as escolas acabarem comprando a versão completa do serviço.

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Mas ainda é cedo para dizer se essa estratégia de marketing voltada diretamente para o consumidor, muitas vezes chamada de “freemium” (mistura de gratuito e pago, em inglês), dará resultados para o software de ensino. “Ainda há muitas dúvidas a respeito do modelo de negócios de algumas empresas nesse setor”, disse Matthew Wong, analista de pesquisas da CB Insights. “Como o produto é gratuito, uma das perguntas é: como obter lucro com esses usuários?”

Um exemplo é o Remind, popular aplicativo de mensagens usado pelos professores para envia lembretes de lição de casa para seus estudantes e compartilhar notícias da sala de aula com os pais. Os técnicos das equipes esportivas também usam o app para enviar atualizações com a previsão do tempo e mudanças na programação dos treinos.

A propaganda de boca-a-boca transformou o desconhecido Remind em fenômeno nacional. Fundado em 2009 por dois irmãos em Chicago, o serviço tem hoje 23 milhões de usuários, alta em relação aos 18 milhões registrados cinco meses atrás, disse a empresa, e o serviço já foi usado para enviar mais de um bilhão de mensagens.

“Hoje em dia, basta um instante para pedir uma pizza, ou contratar uma corrida de carro usando Uber ou Lyft”, disse Brett Kopf, 27 anos, cofundador e diretor executivo da Remind. “Mas, quando o aluno enfrenta dificuldades em sala de aula, às vezes seus pais não ficam sabendo.

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Queremos facilitar esse tipo de comunicação em tempo real.” Enquanto outras startups de tecnologia de ensino foram lentas em aproveitar a onipresença dos celulares, o Remind cresceu rapidamente em parte porque seu sistema permite que os professores enviem mensagens usando diferentes canais – usando o site da empresa ou o aplicativo, por texto ou mensagem de voz.

Recentemente a Remind contratou estrategistas de crescimento e engenheiros com experiência em empresas de produtos voltados para o consumidor como Skype e Facebook. Kopf disse que a Remind planeja ganhar dinheiro ao cobrar uma taxa mensal por serviços adicionais – como sistemas de notificação de emergência para escolas. Mas, no momento, a empresa está dedicando os US$ 40 milhões em financiamento captados no ano passado para melhorar seu produto e expandir internacionalmente seu mercado, disse ele.

As startups de tecnologia de ensino que conseguirem envolver os professores e alcançar escala significativa poderão um dia lucrar com o modelo “freemium” usado com sucesso por marcas como o serviço musical Spotify. “Acho que há empresas que não conseguirão cruzar essa ponte”, disse Michael Moe, diretor executivo da GSV Capital, firma de capital de investimento. “Mas, se conseguirmos monetizar de 2% a 20% da rede, não há motivo que impediria isso de funcionar no ensino.” A GSV Capital tem investimentos em empresas de tecnologia para o consumidor como Dropbox e Spotify, bem como empresas de tecnologia do ensino como a Coursera, provedora de cursos online gratuitos. A Coursera ganha dinheiro vendendo diplomas certificados aos estudantes que concluírem seus cursos.

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Mas alguns investidores se mostram mais entusiasmados com as empresas de tecnologia do ensino que cobram diretamente por seus produtos, como aquelas que oferecem software como serviço a escolas ou treinamento prático para alunos adultos. A empresa Pluralsight, de Farmington, Utah, oferece por exemplo treinamento online para profissionais de tecnologia que desejam atualizar suas habilidades nas linguagens de programação e ferramentas de design mais atuais. A empresa cobra taxas mensais de assinatura de US$ 29 dos usuários individuais, atendendo a clientes empresariais que pagam taxas anuais mais altas para tornar os cursos disponíveis para seus funcionários. No ano passado, as cobranças da Pluralsight chegaram a quase US$ 100 milhões, disse a empresa.

“Como a tecnologia muda muito rapidamente, os profissionais de software perdem metade do que sabem ao longo de um período de dois anos”, diz Aaron Skonnard, diretor executivo da Pluralsight. “Eles podem nos usar como seu recurso principal para manter seus conhecimentos atualizados.” Esse tipo de fonte de renda recorrente atrai os investidores na tecnologia de ensino.

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“Estamos em busca de ideias que gerem renda”, disse Matthew Greenfield, diretor administrativo da Rethink Education, firma de investimentos de Manhattan. A respeito da Pluralsight, ele disse: “Como o serviço desempenha um papel central em suas carreiras, os usuários mantêm suas assinaturas.” A firma de Greenfield não investiu na Pluralsight. Mas uma das empresas em seu protfólio – Smarterer, um sistema de avaliação e pontuação de habilidades – foi comprado pela Pluralsight por US$ 75 milhões no ano passado.

Mas, levando-se em consideração a infância da indústria da tecnologia de ensino, os investidores disseram que estão sendo seletivos.

“Se conseguirmos fatia de mercado, usuários e envolvimento, podemos encontrar uma forma de construir um negócio viável”, disse John Doerr, sócio da Kleiner Perkins, que investiu no Remind. “Mas nada disso é fácil.” / Tradução de Augusto Calil

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