Vida Digital: Criolo

Como ele rompeu a fronteira do rap e gerou um burburinho na internet em torno do seu novo disco

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Por Tatiana Mello Dias
Atualização:

Foi de uma hora para outra: todo mundo começou a querer ouvir o Criolo. Foi tamanha a procura pelo disco Nó na Orelha, na íntegra em seu site e no Facebook, que a página saiu do ar várias vezes – e a cada vez que alguém famoso divulgava o disco no Facebook ou no Twitter, o site caía de novo. Mas não atrapalhou. Tudo foi reestabelecido e Nó na Orelha contabilizou 25 mil downloads em três dias.

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“Não foi qualquer coisa que aconteceu”, diz Kleber Gomes, o Criolo, com uma voz tão doce e rouca quanto a que dá vida a “Não Existe Amor em SP”, faixa que circulou incessantemente pela rede nos últimos tempos. “Fico feliz por saber que a música está indo no coração. As pessoas pensam que estamos insensíveis, mas acho que isso prova o contrário.” A balada “Não Existe Amor em SP” rompeu a barreira do rap e levou Criolo a ouvidos não tão acostumados ao gênero. “Se as pessoas estão curtindo é porque estão compreendendo o texto. E quando você estabelece o diálogo, não importa se é maxixe, xaxado, rap.”

Criolo Doido, como é conhecido no rap, está na cena há 23 anos. Tinha 60 canções escritas em oito anos – mas esse seu lado pouca gente conhecia. Cogitava, como diz, pendurar as chuteiras. Mas conseguiu o apoio que viabilizou a parceria com os produtores Marcelo Cabral e Daniel Ganjaman. Eles ajudaram a delinear as linhas do que seria seu primeiro disco de canções. Tudo aconteceu em menos de um ano. O primeiro single, com “Grajauex” e “Subirodoistiozin”, foi lançado em dezembro. Logo depois “Não Existe Amor em SP” começou a se espalhar. E, quanto mais boca a boca virtual, mais expectativa para o disco.

A espera acabou na terça, 26. O disco foi lançado na íntegra no site e no Facebook. Para Criolo, isso é uma obrigação. “Se eu quero que as pessoas escutem, isso é problema meu, não delas. A necessidade de dividir o que se passa no meu coração é minha.” É por isso que Nó na Orelha será também lançado em CD (será vendido em shows e lojas por R$ 15) e vinil (R$ 50). A bolacha, aliás, emocionou Criolo, acostumado a percorrer os arredores da Rua 24 de Maio, no centro de São Paulo, para comprar vinis.

O disco físico ainda não chegou, mas o músico já tem o primeiro troféu: o primeiro single. “Cresci no meio do rap. A honra que é você pegar o seu vinil… A gente nem dormia esperando. ‘Cara, tá chegando. Cara, não acredito. Depois de velho, cara’”, ri. Os vinis foram produzidos por uma fábrica na República Tcheca – prensar lá é mais barato do que aqui. “A falta da grana faz que você se movimente.”

A falta de dinheiro, aliás, é o motivo pelo qual ele faz questão de lembrar que muita gente talentosa fica pelo caminho por não conseguir viabilizar o disco. Sua obra tem sido elogiada, sim. Mas ele mantém os pés no chão. “Poderia listar cinco caras que se tivessem essa oportunidade teriam feito o disco da década.”

E faz questão de lembrar as suas mais de duas décadas de rap. No final da entrevista, ao ser avisado de que o microfone estava aberto e ele poderia falar o que quisesse, não hesitou. “Quero dizer que os MCs do meu País são especiais. Tenha carinho e respeito por quem faz rap no Brasil, porque eles sabem o que estão fazendo e fazem com o coração. E a eles devo a minha vida.”

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