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Vida digital: Jamie King

“Atuamos como uma pequena rede de distribuição”, define King, criador da Vodo.net, que quer salvar a indústria a partir da pirataria digital

Por Filipe Serrano
Atualização:
 Foto: Paulo Pinto/AE

Para ele, a solução para a indústria do entretenimento passa longe de downloads remunerados ou sites que cobram assinatura para passar filmes e séries – algumas das apostas digitais de gravadoras, estúdios de cinema e produtoras de televisão. Um dos criadores da série de documentários Steal This Film, o inglês Jamie King quer mesmo é que todos possam roubar os filmes, de graça e legalmente.

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King propõe um modelo bem diferente do que se encontra na internet. A ideia é usar as redes de troca de arquivo (torrent) para distribuir obras – em geral filmes longa e curta-metragem independentes – que os criadores liberam para download, sem abrir mão de qualquer direito autoral, como acontece com estúdios de cinema convencionais.

Os filmes lançados não são como os vídeos que circulam nas redes de torrent. Eles passam antes por uma seleção feita por usuários que contribuem com doações para o site que Jamie King desenvolveu, o Vodo.net.

Leia também - Como funciona o Vodo.net

A página, que está no ar desde outubro, tem servido como uma marca para lançar novos diretores e produtores de obras audiovisuais independentes. “Basicamente atuamos como uma pequena rede de distribuição”, conta. A ideia é conseguir a atenção das milhões de pessoas que frequentam sites de torrent para os filmes lançados pelo Vodo e associá-los ao site. “Tudo que a gente pede aos diretores é uma cópia digital do filme para compartilhar; em troca, eles recebem uma forma boa de distribuir e promover seu filme e lucrar”, explica.

Os espectadores online podem fazer doações voluntárias para cada um dos filmes e, assim, ajudar a bancar os custos de produção. Mas King confessa que o modelo não tem se sustentado só com doações. “Conseguimos alguns milhares de dólares, mas não temos tido doações suficientes”, diz. Por isso ele vê mais potencial em conseguir patrocínio para os filmes. “Se conseguirmos ter um milhão de downloads, então poderemos achar um patrocinador para lançar um filme e dividir o dinheiro com o criador.”

Ele diz estar negociando com duas empresas. Os quatro longas e cinco curtas que o Vodo colocou para download até agora chegam a uma média de 350 mil downloads cada um. Os mais populares foram o filme Lionshare e o documentário Us Now, ambos sobre cultura na era da internet. Todos são distribuídos online, e o Vodo.net conseguiu o apoio de sites e programas de download de torrent. Os sites dão destaque aos novos lançamentos do Vodo.

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Pirataria do bem. Jamie King é enfático em relação à troca de arquivos. Ele acredita que as redes de torrent não tomam o mercado das grandes produções. “Se um filme é baixado, ainda há mercado na TV, há pessoas que não fazem download”, diz.

Para ele, o torrent ainda pode ajudar a descobrir e ampliar o potencial de vendas de um filme. “O torrent será o primeiro passo – e talvez ‘o’ passo – para estudar o potencial comercial do filme”, diz. “Pode até ser uma plataforma para renovar o potencial de um filme que já foi lançado há dois ou três anos, já passou no cinema e na TV, e está vendendo poucos DVDs.” Assim, mesmo que piratas, os downloads podem trazer de volta filmes e documentários que estavam condenados ao esquecimento.

King, que antes dava aulas de filosofia, se deu conta da vantagens do torrent depois de fazer o Steal This Film, em 2006 e 2007, um dos principais documentários sobre troca de arquivos na internet. O filme, ironicamente, tinha copyright para que as pessoas que fizessem o download pudessem legalmente roubá-lo. “O torrent tem muito potencial para quem produz filmes e, no caso, nós mesmos éramos os criadores”, diz. “Aí você começa a pensar em todas as coisas que pode fazer com essa rede, Vodo acabou sendo uma ideia óbvia.”

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