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Vida escolar: na nuvem e sem proteção

Escolas americanas armazenam dados na nuvem sem a devida proteção e colocam privacidade de estudantes em risco

Por Redação Link
Atualização:

Escolas americanas armazenam dados estudantis na nuvem sem a devida proteção e colocam privacidade de estudantes em risco

Seguro? Armazenamento de informações sobre o desempenho escolar pode gerar banco de dados prejudicial para alunos. FOTO: Robyn Beck/AFP

Ariel BogleSlate

No passado, ter um resultado ruim nos exames de matemática da quarta série não assombraria um estudante por muito tempo depois da formatura (embora pudesse resultar em um castigo). Mas hoje não é mais assim.

 

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As escolas americanas estão migrando para o mundo online, oferecendo aos pais os resultados acadêmicos em tempo real. Os serviços na nuvem, que remotamente hospedam as informações sobre o avanço educacional dos alunos, vêm sendo cada vez mais utilizados para armazenar detalhes importantes sobre o estudante, como nome, religião e condições de saúde.

Mas, segundo um novo estudo do Centro de Direito e Política da Informação da Universidade de Fordham, em Nova York, as escolas não estão respeitando os termos e condições dos contratos desse serviço e estão fornecendo enormes volumes de dados sobre os estudantes para terceiros sem as proteções necessárias ou o consentimento dos pais. O relatório examinou contratos de serviço de internet em pequenas, médias e grandes diretorias de ensino. Das 54 examinadas, 95 usaram os serviços na nuvem, mas muitas deixaram de informar os pais sobre a amplitude de informações passadas para terceiros.

Além disso, poucos contratos restringem explicitamente a comercialização de dados sobre um aluno, embora usem terceiros para armazenar informações delicadas, como, por exemplo, quais estudantes têm direito a receber almoço grátis.

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As diretorias de ensino também parecem ignorar os detalhes dos contratos que assinaram. Os pesquisadores da Fordham tiveram muita dificuldade para encontrar pessoas nas escolas conhecedoras da política de terceirização de informações nas diretorias de ensino.

A documentação estava mal conservada e menos da metade das diretorias contatadas cumpria com a exigência de abrir os registros ao público no período de tempo exigido por lei.

Em resposta, a Software and Information Industry Association (SIIA), organização da indústria de software, informou em comunicado que o estudo não levou em conta o fato de a lei ter estabelecido práticas comerciais vigorosas para manter os dados dos estudantes protegidos. “Os provedores de serviços escolares sabem que, se não protegerem informações estudantis, perderão seus clientes e arcarão com as devidas consequências legais.”

Privacidade De acordo com o estudo da Fordham, muitos dos contratos assinados não atendem a vários critérios de privacidade federais.

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Um terço dos contratos de análise de dados não atendem ao Family Rights and Privacy Act, que exige que os dados sejam apagados quando não forem mais necessários para o fim ao qual foram fornecidos. Poucos contratos especificam o grau de codificação dos dados e, um número ainda menor exige que o provedor informe às escolas se ocorreu alguma violação.

Segundo Khaliah Barnes, da Electronic Privacy Information Center (Epic), entidade de defesa do direito de privacidade eletrônica, embora a lei estabeleça inúmeras salvaguardas, normas subsequentes baixadas pelo Departamento de Educação em 2008 e 2011, debilitaram a legislação. E acrescentou que as conclusões do estudo da Fordham confirmam o que o Epic vem ouvindo de pais e alunos: eles acham que estão perdendo o controle da informação. “Temos observado um aumento da coleta e disseminação de dados estudantis, mas uma queda na proteção da privacidade do aluno”, disse ela.

O estudo foi publicado em meio a uma reação liderada por pais de alunos contra o uso de provedores terceirizados para armazenamento de informações estudantis. Em novembro, o departamento escolar de Chicago, o maior do país, rejeitou uma controvertida administradora de dados, a InBloom, e criou sua própria plataforma.

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De acordo com a Education Week, a InBloom começou de modo promissor, com doações milionárias da Carnegie Corporation, de Nova York, e da Bill e Melinda Gates Foundation. Mas como os pais ficaram preocupados com os planos de reunir as informações dos estudantes num enorme banco de dados para empresas relacionadas com escolas, a InBloom foi rejeitada por inúmeros Estados. Em Nova York, uma ação foi impetrada para impedir o Departamento de Educação do Estado de se associar ao serviço.

Karen Sprowal, uma das autoras da ação, disse em comunicado que “desde que ouvimos falar sobre a InBloom não conseguimos mais dormir tranquilos. Qualquer informação com livre curso na internet nunca pode ser recuperada, e qualquer brecha ou mau uso destes dados pode prejudicar as perspectivas (do meu filho) por toda a vida, prejudicando sua capacidade de ser admitido numa faculdade ou conseguir um bom emprego”.

/ TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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