A corrida das escolas pelo novo Zuckerberg

Universidades dos EUA apostam em aulas para preparar fundadores de novas startups

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Por Redação Link
Atualização:

SPIKE JOHNSON/THE NEW YORK TIMES

 

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por Natasha Singer, do ’The New York Times’

O estatuto original da Universidade Rice, redigido em 1891, estabelece que a escola é dedicada ao progresso da literatura, ciência e arte. Nos dias de hoje, a Rice parece igualmente dedicada a encontrar o próximo Mark Zuckerberg. A universidade passou a oferecer cursos acadêmicos focados em empreendedorismo estratégico e financeiro, workshops para startups e um programa de verão para estudantes interessados em fundar empresas.

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Em agosto, a Rice anunciou uma multimilionária “iniciativa empreendedora” para desenvolver mais cursos e programas sobre o tema. Os diretores planejam ainda levantar um centro de empreendedorismo com aulas e serviços de apoio a projetos de estudantes. “Queremos que a Rice esteja no topo da lista de escolas que estudantes com pretensões empreendedoras considerem um bom lugar para realizar suas ambições”, diz David W. Leebron, presidente da Rice. “Esse é um grupo incomum de estudantes, que reúne alguns dos mais brilhantes e criativos.”

Dez anos atrás, bastava oferecer uns poucos cursos de empreendedorismo, workshops e clubes. Mas universitários, forçados por um disputado mercado de emprego e inspirados pelas histórias de sucesso do Vale do Silício, esperam agora universidades que os ensinem a converter suas ideias em negócios ou empreendimentos.

Em consequência, universidades americanas – particularmente, as instituições consideradas de elite – entraram numa dura competição pela inovação em seus programas acadêmicos. Em 2011, Harvard abriu um Laboratório de Inovação que já ajudou a começar mais de 75 empresas. No ano passado, a Universidade de Nova York fundou um laboratório de empreendedorismo e, em 2015, a Universidade Northwestern abriu um centro de startups para estudantes, chamado de Garage.

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“Os estudantes de hoje estão ávidos para impactar e temos de responder a isso”, diz Gordon Jones, responsável pelo Colégio de Inovação e Design da Universidade Estadual de Boise e ex-diretor do Laboratório de Inovação de Harvard.

Limitado. A febre de empreendedorismo, contudo, é vista com ceticismo por alguns acadêmicos. Eles acreditam que falta rigor acadêmico e peso aos programas universitários focados em startups.

Mesmo alguns educadores empreendedores dizem que faculdades e universidades que se gabam de “inovar e romper” estão promovendo programas limitados, sem encorajar os estudantes a encarar problemas mais complexos. “Muitas dessas universidades querem entrar no jogo porque está na moda”, diz Jones. “As que trabalham direito investem pesado e dão meios para os estudantes enfrentarem problemas.”

Na tentativa de desenvolver ecossistemas empreendedores ricos, muitas instituições seguem um roteiro estabelecido anos atrás pela Universidade de Stanford, no Vale do Silício, e pelo MIT. Depois do comitê consultivo universitário concluir que a universidade de Princeton falhou ao competir com outras universidades, os esforços foram redobrados. Em novembro, Princeton comemorou a abertura de um centro de empreendedorismo e iniciou um programa de verão em Nova York, que permite que os estudantes frequentem startups.

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O crescimento do empreendedorismo no campus é claro, dizem os administradores. Em 1985, universidades dos EUA ofereciam apenas cerca de 250 cursos de empreendedorismo, segundo relatório recente da Fundação Ewing Marion Kauffman, que financia educação e treinamento na área. Em 2013, havia mais de 400 mil estudantes em cursos desse tipo.

A perspectiva de começar o próximo Snapchat ou Instagram atrai estudantes. Mas, num mercado de trabalho apertado, onde jovens esperam trocar de patrão a cada poucos anos, universitários se inscrevem nos treinamentos para startups na esperança de se tornarem autônomos. “Nossa geração não está mais interessada em fazer a mesma coisa pelo resto da vida”, diz Mijin Han, um estudante da Universidade de Rice. “Nossa geração quer aprender coisas diferentes. Se o ambiente não proporcionar isso, pulamos fora.”

Entretanto, o preparo rápido pode parecer conflitante com tradicionais premissas de formar pensadores críticos e deliberativos. “Inovações reais são ancoradas em conhecimento, não apenas em pensar em algo novo”, diz Jonathan Jacobs, presidente do departamento de filosofia da Universidade da Cidade de Nova York. “Francamente, isso não educa as pessoas.” /TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

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