Americanos tentam aprender a pensar ‘como computador'

Fazer abstrações e criar algoritmos para o cotidiano aumentam o interesse por ciência da computação

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Por Laura Pappano
Atualização:
Criança deve aprender lógica de comandos Foto: Charlie Mahoney/The New York Times

The Beauty and Joy of Computing (A Beleza e Alegria da Computação, em tradução livre), o curso que ajudou a conceber na Universidade da Califórnia em Berkeley, o professor Daniel Garcia explica um conceito importantíssimo em ciência da computação – a abstração – com ajuda de milk-shakes. “Em um livro de receitas, você não vai encontrar um milk-shake de morango. O que há é uma receita de milk-shake geral, com sorvete, leite e uma fruta à escolha do leitor”, explica o professor. “A ideia da abstração é esconder os detalhes.”

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A abstração requer o reconhecimento de padrões e a destilação da complexidade num resumo preciso e claro. É um método que permite melhorar aspectos de sistemas complexos sem compreender e dominar cada parte. Esta é uma ideia útil que, junto com outras ideias da ciência da computação que também são úteis, deixa as pessoas curiosas para saber mais. 

É óbvio que os computadores se tornaram parceiros indispensáveis na solução de problemas, para não mencionar companheiros pessoais. Mas, de repente, não basta ser um usuário fluente de interfaces de software. Compreender o que está por trás da “mágica dos computadores” agora parece crucial. 

Em particular, o “pensamento computacional” está cativando educadores – de professores de jardim da infância a professores universitários – oferecendo uma nova linguagem e orientação para lidar com problemas em outras áreas da vida. 

Desde 2011, o numero de cursos de graduação em ciência da computação mais que dobrou, segundo a Computing Research Association. Nas universidades Stanford, Princeton e Tufts, a ciência da computação é agora o curso mais popular.

Não é só: a PBS, rede americana que já exibiu programas como Vila Sésamo, está usando dinheiro da Fundação Nacional da Ciência dos EUA para ajudar a desenvolver um programa para crianças de 3 a 5 anos em que quatro macacos se metem em apuros e depois “saem das trapalhadas aplicando o pensamento computacional”, disse Marisa Wolsky, produtora executiva de mídias para crianças. “Vemos isso como um currículo inovador que ainda não está sendo feito.” 

Evolução. O pensamento computacional não é novo. Seymour Papert, professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT), usou o termo em 1980 para idealizar como crianças poderiam usar computadores para aprender. Em 2006, a então professora da Universidade Carnegie Mellon, Jeannette M. Wing, escreveu um artigo chamado “Pensamento Computacional”. Em um momento de vacas magras para a área de ciência da computação, o artigo serviu como um renascimento. 

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Do mesmo modo como a teoria da evolução de Charles Darwin é usada para explicar política e negócios, Wing defendeu o uso amplo de ideias da computação. E não só no trabalho. Aplicando o pensamento computacional, “podemos melhorar as eficiências de nossas vidas diárias”, disse ela numa entrevista, “e nos tornarmos um pouco menos estressados.”

Entre as principais habilidades que se pode aprender com o pensamento computacional estão reconhecer padrões e sequências, criar algoritmos, idealizar testes para descobrir erros, reduzir o geral ao específico – e vice-versa. Outro exemplo divertido é o “pipelining”: permitir que a ação seguinte numa sequência comece antes que a primeira complete a sequência. Pense numa fila de bufê de alimentação. “Quando se vai a um restaurante por quilo, veem-se garfos e facas na primeira estação”, disse ela. “Acho isso uma chatice. A gente não deveria ficar equilibrando o prato enquanto segura garfo e faca.” 

O pensamento computacional, disse ela, pode ajudar numa tarefa básica como planejar uma viagem – desdobrando-a em reserva de voos, de hotéis, de aluguel de carro – ou ser usado “para algo tão complicado como assistência médica ou tomada de decisões políticas”. Identificar subproblemas e descrever sua relação com o problema maior permite um trabalho objetivo. “Quando se tem interfaces bem definidas”, diz ela, “pode-se ignorar a complexidade do resto do problema”. 

Concorda com ela o professor Mark Guzdial, da Universidade Georgia Tech. “Resolver problemas com computadores é o que fazemos todos os dias”, disse ele. Como tornar as habilidades amplamente acessíveis é “um desafio interessante”.

/TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

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