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Clínica brasileira vai usar inteligência artificial contra o câncer

Projeto da Oncoclínicas, com tecnologia da Microsoft, deve ajudar os médicos a delinear tumores durante tratamentos de radioterapia

Por Carolina Ingizza
Atualização:
Januzzi (esq.), da Microsoft, e Natel, da Oncoclínicas, se uniram contra o câncer Foto: FOTO:WERTHER SANTANA/ESTAD?O

Atualizada às 12h38 de 05/07/2017 com informações sobre outro projeto similar em andamento no Brasil.

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Médicos da rede brasileira Oncoclínicas, especializada em tratamento de câncer, vão começar a usar em breve um sistema de inteligência artificial no atendimento aos pacientes. A tecnologia, desenvolvida pela Microsoft, ajuda a identificar tumores, com base em exames, e a escolher a área mais adequada para terapia. Os testes começaram há cerca de duas semanas na Oncoclínicas, que já treina seu corpo clínico. A previsão é que o sistema esteja disponível nas 43 unidades do grupo no segundo semestre deste ano.

Por ora, o software está pronto para analisar informações de pacientes de radioterapia. A Microsoft utilizou dados, cedidos pela Oncoclínicas, para calibrar o sistema. Na prática, a inteligência artificial analisa imagens de exames como tomografia e ressonância magnética, e delineia a área do tumor para preparar a máquina de radioterapia. Hoje, o procedimento é manual e demora 40 minutos – o sistema reduz para três minutos.

Para o diretor presidente do Grupo Oncoclínicas, Luís Natel, outro benefício do sistema é permitir que o procedimento seja checado duas vezes, aumentando a segurança do paciente. “O fato de a máquina fazer o processo antes do médico, permite que ele cheque o resultado”, diz o presidente. Se, após avaliação da sugestão do sistema de inteligência artificial, o médico poderá fazer alterações.

“Os programas são equipados com visão computacional para facilitar a segmentação de tumores e também para cruzar dados que ajudem a planejar tratamentos”, explica o gerente de novas tecnologias e inovação da Microsoft, Alessandro Januzzi. O sistema é baseado na plataforma computação em nuvem Azure, também da Microsoft. O projeto é feito em parceria pelas duas empresas, que assinaram acordo de cooperação para desenvolvimento da tecnologia e não há valores envolvidos.

Segundo Ulysses Ribeiro Júnior, coordenador cirúrgico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), novas tecnologias não substituem o contato do médico com o paciente. “Como nós temos uma avalanche de conhecimentos todos os dias, é quase impossível estar a par de tudo”, diz. “A inteligência artificial poderá ajudar muito a estar atualizado para fazer o que é melhor para o paciente.”

O projeto fruto da parceria da Oncoclínicas com a Microsoft não é o primeiro a utilizar inteligência artificial no tratamento de câncer no País. Em junho, o Hospital do Câncer Mãe de Deus, em Porto Alegre, anunciou que iniciou o uso do sistema de inteligência cognitiva Watson, desenvolvido pela IBM, para recomendar opções de terapias para os pacientes, analisando as informações sobre o caso, além de um banco de dados de evidências científicas. A tecnologia da IBM já faz sugestões de tratamentos médicos para pacientes vítimas de sete tipos de câncer.

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Evolução. O sistema da Microsoft, adotado pela Oncoclínicas, pode ser retroalimentado com os resultados das análises e sugestões de tratamento. Assim, a cada aplicação bem sucedida de radiação ou correção feita pelos médicos, o sistema “aprende” e melhora suas análises ao longo do tempo. A tendência é que, nos próximos anos, o sistema passe a ser tão assertivo quanto um profissional de saúde ao fazer a preparação da máquina para uma terapia.

No caso da quimioterapia, o projeto está em fase inicial. A Oncoclínicas e a Microsoft fizeram uma parceria com Centro de Pesquisa Sociedade e Tecnologia da Universidade de São Paulo, que trabalha no desenvolvimento de um novo algoritmo que será utilizado pela inteligência artificial da Microsoft.

A tecnologia será alimentada com um banco de dados de diagnóstico e tratamento de 18 mil pacientes de quimioterapia e receberá uma base teórica de oncologia, segundo João Alvarenga, diretor de tecnologia da informação e inovação do Grupo Oncoclínicas. 

Quando estiver pronto, o sistema de inteligência artificial vai indicar os tratamentos mais indicados. Assim como na radioterapia, a tecnologia poderá evoluir a precisão das sugestões de tratamento ao longo do tempo. A previsão é de que o sistema para tratamento de quimioterapia comece a funcionar nas unidades da Oncoclínicas até 2019.

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