Com assistentes de voz, casa conectada fica mais perto de virar realidade

Sistemas baseados em inteligência artificial agora controlam de fogão à TV; no Brasil, desafio é fazer com que eles ‘entendam’ português

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Por Bruno Capelas
Atualização:
Visitante conversa com assistente pessoal Alexa para controlar purificador de ar durante CES Foto: John Locher

Geladeiras, máquinas de lavar e outros eletrodomésticos conectados à internet não são exatamente uma novidade no mundo da tecnologia. Surgidos há alguns anos, eles ainda têm pouca utilidade para a maioria dos consumidores e são difíceis de usar. Mas, nesta semana, durante a Consumer Electronics Show (CES), maior feira de tecnologia do mundo realizada em Las Vegas, nos Estados Unidos, o sonho da casa conectada ficou um pouco mais próximo da realidade, graças à popularização dos assistentes pessoais.  Esses programas baseados em inteligência artificial – como Google Assistant e Alexa, da Amazon – começaram a chegar aos smartphones em 2014, mas só ganharam força quando viraram a “alma” das caixas de som conectadas, categoria que tem registrado crescimento astronômico em vendas nos EUA. Elas permitiram que qualquer pessoa pesquise na internet, ouça receitas ou toque músicas em sua casa usando só a voz.

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“Pesquisas indicam que crianças e idosos têm dificuldades para usar smartphones, mas adoram conversar com a caixa de som”, disse Lilian Rincon, diretora de desenvolvimento de produtos do Google Assistant, ao Estado. "É um dispositivo barato: por US$ 40, você consegue comprar um nos EUA", afirma o professor Gabriel Rebeiz, membro do  Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) e pesquisador da Universidade da Califórnia em San Diego.  Na feira em Las Vegas, os assistentes pessoais não estavam mais presentes apenas nas caixas de som, mas apareceram integrados a geladeiras, fogões, termostatos e TVs. Os produtos foram as grandes apostas de empresas de tecnologia, como LG e Samsung, startups e, até mesmo, empresas tradicionais, como a Whirlpool (linha branca) e Legrand (lâmpadas e fechaduras). Bate-papo. A responsabilidade dos assistentes pessoais é grande. A indústria acredita que eles serão capazes de resolver um dos maiores problemas da casa conectada: a interoperabilidade. Trata-se da capacidade de dispositivos diferentes conversarem entre si. A falta dessa integração complica a vida de quem tenta criar um sistema único, da fechadura à cozinha, sem usar produtos de um mesmo fabricante. Conforme esses produtos vão se tornando compatíveis com os assistentes pessoais, porém, não vai mais importar a marca, mas sim com qual assistente pessoal o produto “fala”. “O mundo ficou complexo demais para que uma única empresa desenvolva uma linha de produtos completa”, disse I. P. Park, presidente da sul-coreana LG, durante coletiva da empresa na feira. A companhia anunciou parcerias com Google Assistant e Alexa, da Amazon – os assistentes estarão presentes em eletrodomésticos, caixas de som conectadas e até mesmo em um robô, CLOi, feitos pela sul-coreana. “Queremos uma estratégia de conectividade aberta. Com inteligência artificial, as máquinas da sua casa poderão trocar dados. Você não vai mais precisar ler o manual.” Há, porém, quem esteja tentando jogar o jogo “sozinho”. É o caso da sul-coreana Samsung, que aposta no assistente de voz próprio, a Bixby. Lançada para os smartphones Galaxy S8 e Galaxy Note 8, a assistente digital agora chega às geladeiras, TVs e aparelhos de casa da marca. Sonho meu. A promessa dos assistentes de voz como “gerentes” da casa conectada é algo que ainda pode demorar alguns anos. “Queremos que produtos de diferentes marcas conversem pelo Assistant, mas ainda estamos distantes disso”, diz Lilian, do Google.

Do lado dos fabricantes, ainda é preciso estabelecer padrões. “Por trás da interface, há uma discussão importante sobre protocolos de comunicação da indústria por fazer”, avalia Renato Franzin, pesquisador da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Isso é importante, diz ainda Rebeiz, do IEEE, para não deixar a casa inteligente refém dos sistemas (e ambições) de uma ou duas empresas gigantes.

Nos trópicos. Se a casa conectada é uma promessa próxima nos EUA, ainda não está tão perto no Brasil. Segundo especialistas, o idioma é a principal barreira: hoje, apenas Siri (Apple), Cortana (Microsoft) e Assistant (Google) “entendem” português. Mas não basta falar. É preciso ter conversas significativas com as pessoas. Além disso, as caixas de som conectadas que são sucesso lá fora ainda não chegaram aqui. Outro entrave é a infraestrutura: enquanto os EUA vão testar 5G no fim de 2018, no Brasil a nova geração da telefonia celular só deve chegar em 2021. Para Greg Roberts, diretor da consultoria Accenture, se a indústria acelerar no exterior, o Brasil pode se desenvolver mais rapidamente. “A demanda fará a infraestrutura evoluir. Aposto nisso.”

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