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‘Falta um IPO de uma startup no Brasil’, diz professor da FGV

Responsável por mapa do ecossistema de startups, professor da FGV diz que País precisa de bons exemplos

Por Bruno Capelas
Atualização:
É preciso pensar como escolas e pais podem formar empreendedor, diz Sarfati Foto: Nilton Fukuda | ESTADÃO CONTEÚDO

Um mapa para conectar a todos. Essa é a ideia por trás do Mapped in Brasil, plataforma colaborativa que pretende reunir startups, aceleradoras, centros de pesquisa, investidores e agentes públicos que formam o ecossistema do empreendedorismo no País. “Quem não está no Brasil não sabe como funciona a nossa cena de startups. Um mapa pode ajudar nesse sentido”, explica Gilberto Sarfati, professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP) e responsável pela plataforma.

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Além disso, diz o professor, o Mapped in Brasil pode servir para gerar estudos e chamar atenção do governo para políticas públicas. “Hoje, você demora 180 dias para abrir uma empresa. É preciso remover barreiras para ajudar as startups”, avalia.

Para Sarfati, o ecossistema de startups do País está em um bom momento, mas ainda tem lacunas sérias. Uma delas, diz ele, são casos de sucesso que inspirem empreendedores, como empresas capazes de abrir capital. Isso pode mudar em breve, agora que o site de comércio eletrônico Netshoes fez seu pedido de IPO na bolsa de valores de Nova York. A seguir, confira os principais trechos da entrevista.

Por que fazer um mapa do ecossistema de startups?

O principal motivo para fazer um mapa é que quem não está no Brasil não sabe como é o nosso ecossistema de startups, nem quem atua nele. Quando abrimos um mapa, isso facilita que um investidor estrangeiro se aproxime do Brasil. Meu ideal é que nós tenhamos tantos pontos no mapa a ponto de despertar a atenção dos estrangeiros. Além disso, um mapa desses é matéria-prima para muitos estudos e ajuda a conectar os diferentes agentes desse sistema.

O mapa é um trabalho em progresso, mas que conclusões já é possível tirar dele?

É precipitado dizer, mas hoje o mapa já está perto do máximo que temos de aceleradoras e fundos de venture capital (VCs) no Brasil. Se você olha a distribuição de VCs, por exemplo, vai ver que são 39 no País, mas 37 deles estão no Sudeste. Piora: 26 desses fundos estão distribuídos em apenas quatro bairros de São Paulo – Vila Olímpia, Itaim Bibi, região da Avenida Paulista e Pinheiros. O efeito é óbvio: mesmo que surja uma boa startup no Norte e Nordeste, elas têm menos chance de ter acesso ao capital. As aceleradoras têm quase o mesmo problema, mas ao menos há uma dispersão maior, em outras regiões.

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Por que a concentração geográfica é ruim num universo de empresas conectadas?

O investidor precisa ter proximidade geográfica do seu investimento, até para ajudá-lo diretamente. O VC tem pouca chance de investir forte em uma startup do Nordeste se não estiver por lá. Existem exceções, mas é difícil. Uma das funções do mapeamento é incentivar ações de política pública para atrair VCs para fora do eixo Sul-Sudeste.

Como o sr. vê o momento atual das startups no Brasil?

Evoluímos muito nos últimos dois ou três anos. Não chegamos aos pés do Vale do Silício, mas é possível dizer que temos um ecossistema ativo, compatível com nosso tamanho.

O que falta?

Falta no Brasil uma startup que consiga fazer a oferta inicial de ações (IPO). Quando começarmos a ter empresas que lançam papéis na bolsa, vamos chegar no ponto máximo. Mais do que uma oportunidade de investimento, abrir capital é um reconhecimento público. É um exemplo que alimenta sonhos de outras pessoas – e vai aumentar o número de empreendedores. Hoje, vejo empresas com bom potencial para isso, como a Movile, a Conta Azul e o banco Neon.

Mas a abertura de capital tem de ser no Brasil ou no exterior?

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Pode ser fora do Brasil, não tem problema. O problema é que a gente tem um ecossistema de startups pouco internacionalizado – nossas startups costumam pensar muito no mercado brasileiro. É preciso mudar isso. Em Israel, as startups só pensam globalmente. Quando você pensa em abrir capital, isso faz diferença.

Como o governo pode ajudar os empreendedores?

Ainda somos um dos países mais burocráticos do mundo. Você demora 180 dias para abrir uma empresa – isso para não falar no tempo para infraestrutura, estrutura tributária e contratação de funcionários. É preciso remover barreiras para as startups. O legislativo brasileiro – o municipal, em especial – ainda é insensível aos desafios de abrir e manter uma empresa.

O que um ecossistema precisa para se formar?

Cada ecossistema tem peculiaridades. Mas há características reconhecidas: uma é a proximidade com universidades, gerando pesquisa e mão de obra para startups. Proximidade com capital e boa estrutura regulatória são importantes. São José dos Campos é um exemplo: lá, é possível abrir uma empresa em menos de uma semana. É preciso também perder o medo do risco: às vezes, o sucesso só vem depois que a pessoa quebrou um negócio e tentou de novo. Também é preciso reforçar a cultura: o que as escolas fazem para formar empreendedores? E os pais? É preciso pensar nisso. A cobertura ativa da imprensa também ajuda.

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