Antiga “zona da luz vermelha” de Lisboa, as docas do Cais do Sodré hoje estão povoadas por jovens empreendedores tentando deixar a crise econômica portuguesa para trás e transformar o Rio Tejo no novo point das startups europeias.
Cinco anos após a intervenção da União Europeia nas contas portuguesas, a economia do país ainda cresce lentamente. No entanto, com custos bem abaixo de outras capitais do Velho Continente, a cidade se espelha no exemplo de Berlim.
Anteriormente isolada pela Cortina de Ferro, o cenário empreendedor floresceu em Berlim na última década graças a baixos custos e uma força de trabalho inspirada por seu estilo de vida alternativo. Com seu centro histórico e sua gastronomia atraente, Lisboa pode replicar o exemplo.
Segundo a consultoria Eurostat, o custo médio da hora de trabalho em Portugal foi de € 13,2, contra uma média europeia de € 25 – na Alemanha, os valores chegam a € 32,2. O mesmo vale para os aluguéis: o custo médio do metro quadrado em Lisboa por mês é de € 18,5, contra € 66, segundo a consultoria especializada em imóveis Cushman & Wakefield.
“Lisboa é excitante”, afirma o investidor alemão Simon Schaefer, que decidiu criar espaços de escritório capazes de abrigar 400 funcionários na capital portuguesa. A ideia é replicar um projeto semelhante fundado por ele em Berlim em 2012. “Quando você vê empreendedores internacionais, Lisboa deve estar no mapa para ser a sede de uma empresa”, disse.
Filho pródigo. Nem sempre foi assim. Quando a crise financeira abateu Portugal, milhares de jovens passaram a deixar o país, seguindo o exemplo de gerações passadas. Apesar do talento, não havia capital disponível para financiar startups.
Quem se beneficiou foi o Reino Unido Grã-Bretanha: em 2009, o empreendedor José Neves fundou por lá a varejista online de roupas de luxo Farfetch. Hoje, ela é a segunda empresa mais valiosa do Reino Unido, diz a consultoria CB Insights.
Outra empresa – a Seedrs – foi co-fundada pelo português Carlos Silva em Londres. Hoje, ela é a maior empresa de financiamento coletivo da Europa.
A migração, porém, rende frutos para a terrinha. Como bons filhos pródigos, Farfetch e Seedrs hoje têm operações grandes em Portugal. Metade dos mil empregados da Farfetch está em solo português – e 81 das 140 vagas atualmente abertas pela empresa são no país também.
Hoje, o setor de startups em Portugal ainda é novo, e como muitas empresas ainda estão em estágio inicial, há poucos dados sobre o setor. Porém, o atual governo do Partido Socialista têm investido pesado no setor, por uma razão clara: ele cria muitas vagas de trabalho.
Em julho, por exemplo, quando o governo se ofereceu para co-financiar startups, investidores pediram mais de ¤ 500 milhões – as propostas ainda estão sendo avaliadas.
“Queremos ajudar as startups não só porque elas são de companhias novas, mas também porque trazem inovação às indústrias tradicionais”, disse o secretário de indústria João Vasconcelos, que antes trabalhou em uma das principais incubadoras de Lisboa.
Para Vasconcelos, a prioridade é ajudar startups a atrair investimentos estrangeiros, através de incentivos e da regulamentação correta. Entre as medidas recentes do governo local, há isenção de impostos para investimentos de até ¤ 100 mil euros no setor. / TRADUÇÃO DE BRUNO CAPELAS