Para acabar com fila de espera, INPI estuda aprovação automática

Medida passa por consulta pública, que será encerrada em 21 de agosto; ‘limpeza’ deve ocorrer em até 3 anos

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Por Matheus Mans
Atualização:
O presidente do INPI, Luiz Otávio Pimentel, quer reduzir espera para dois anos Foto: André Telles/INPI

Para eliminar de uma só vez as mais de 230 mil patentes que aguardam registro no Brasil, o Instituto Nacional de Propriedade Industrial quer aprovar todos os documentos de forma automática, sem analisar se o projeto é original e passível de registro. O objetivo, segundo o INPI, é facilitar o escoamento de novas patentes que chegam para exame e acelerar a inovação no País.

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“Se não tomarmos uma atitude agora, o número de patentes só vai aumentar no Brasil. A projeção é que passe de 300 mil em 2029”, afirma Luiz Otávio Pimentel, diretor do INPI, em entrevista ao Estado. “Eu não posso simplesmente cruzar os braços e esperar uma solução.”

As vias tradicionais para reduzir a fila, segundo ele, são inviáveis. O orçamento do INPI para 2017 era estimado em R$ 135 milhões, mas, após os cortes por conta da crise fiscal, ficou em R$ 63,9 milhões. Ele não é suficiente para que a entidade contrate pessoal para colocar os pedidos em dia.

Mesmo no caso da aprovação automática, Pimentel diz que vai precisar de uma verba adicional de R$ 28 milhões para contratar servidores extras para cumprir o prazo proposto de três anos. 

Hoje, o INPI possui 357 examinadores, que analisam, em média, 55 patentes por ano. Para efeito de comparação, o escritório de patentes dos EUA possui 7 mil examinadores, que analisam, em média, 38 patentes por ano; todos os escritórios de registro de patentes de países da União Europeia têm, em conjunto, 4 mil examinadores – cada um analisa 27 pedidos ao ano. Além disso, em outros países, o uso de tecnologias avançadas de análise de grandes conjuntos de dados (Big Data) é comum no segmento.

Método. No caso da aprovação automática, todos os registros que aguardam patente seriam aceitos pela entidade – com exceção de farmacêuticos, que ainda precisam passar por aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“Estamos aguardando a consulta pública, que deve ser encerrada em 21 de agosto, para saber se pessoas e empresas querem esta medida ou se preferem continuar na fila, do jeito que está”, diz Pimentel.

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Segundo ele, caso existam problemas nas patentes aprovadas, como repetição de uma mesma tecnologia, as empresas que se sentirem lesadas terão de procurar a Justiça ou pedir um processo de nulidade, no INPI, em até 90 dias.

Reações. Questionados pelo Estado, empresas, instituições de ensino e advogados mostraram não concordar com a medida. “É o maior absurdo que eu já vi na minha vida”, exclama Ado Jório, pró-reitor de Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Se eu mandar uma patente falando que beber água é minha invenção, vão aceitar e todo mundo vai pagar royalties pra mim? Uma medida como essa vai rasgar a Lei de Propriedade Intelectual.”

Para o advogado especializado em proteção intelectual Luiz Fernando Villela, do Vainer & Villela Advogados, a medida não vai resolver o atraso na aprovação de patentes.

“O INPI está apenas jogando o problema na mão do Judiciário”, afirma o advogado, em entrevista ao Estado. “Se a patente aprovada não estiver de acordo com a Lei de Propriedade Intelectual, muitos processos devem se arrastar na Justiça por muitos anos.”

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