Por que o LinkedIn fará você odiar o Microsoft Word

Integração com a rede social vai sugerir profissionais para ajudar o usuário que estiver usando o Office

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Por Randall Stross
Atualização:
Banco de dados do LinkedIn estará disponível para consultas a partir do Word e Excel Foto: Reuters

Se a Microsoft impuser sua vontade, o vasto número de afiliados do LinkedIn, rede social de contatos profissionais com mais de 433 milhões de membros, ficará à sua disposição instantaneamente quando usar produtos da Microsoft como Outlook ou Skype. Quantos membros do LinkedIn você gostaria de consultar enquanto está usando o Excel ou digitando no Word? A Microsoft está apostando que muitos; isto faz parte da lógica da empresa para sua aquisição do LinkedIn por US$ 26,2 bilhões.

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Os diretores executivos das duas companhias, Satya Nadella, da Microsoft, e Jeff Weiner, do LinkedIn, explicaram as razões do negócio em uma apresentação de Power Point distribuída para os investidores. No centro de um gráfico intitulado “O perfil de um profissional em toda a parte”, está a imagem de um “profissional” anônimo do LinkedIn com flechas apontadas na direção de sete produtos da Microsoft.

Outlook e Skype são dois deles, e a utilidade de trazer informações do LinkedIn para esses aplicativos é muito clara: você pode saber de onde partem convites desagradavelmente persistentes de estranhos no LinkedIn.

Mas as flechas também apontam para Windows, Power Point, Excel e, surpreendentemente, para o Word. Não sou acionista da Microsoft, mas um dos 1,2 bilhões de usuários do Microsoft Office e fiquei perplexo ao ver meu software de processamento de palavras ser incluído nos motivos para o negócio.

Nadella ofereceu explicações em um e-mail enviado para os funcionários da Microsoft. “Esta combinação permitirá novas experiências, como o Office sugerindo um especialista que você pode conectar via LinkedIn para ajudá-lo em alguma tarefa que está tentando realizar”, disse. E continuou, prevendo que essas experiências “serão mais inteligentes e agradáveis”.

Inconveniência. Agradável não é o primeiro adjetivo que me vem à mente, nem o décimo. Se estou trabalhando no Word, não entendo porque receberia bem alguém se intrometendo no meu trabalho, mesmo um amigo próximo, imagine então um robô me dizendo sobre um estranho saído do banco de dados do LinkedIn.

Minha versão do Word, relativamente recente, não é diferente da original, criada nos primórdios do software. Não estou em rede com amigos, família e contatos profissionais. Escrever no Word pode ser o único tempo que gasto no meu computador em que posso ficar longe de todas as distrações sem fim do mundo conectado.

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Nadella, que está na Microsoft desde 1992, não aprendeu nada do desastre do Clippy? Era o assistente antropomórfico animado introduzido em 1996 que aparecia nos programas do Microsoft Office para oferecer ajuda. “Está escrevendo uma carta?” ele indagava incomodamente. O Clippy ficou famoso pela ira que provocou e, em 2010, a revista Time o incluiu na lista das 50 piores invenções de todos os tempos, junto com o asbesto, a gasolina com chumbo e banheiro pago.

Matthew G. Kirschenbaum, professor de Inglês na Universidade de Maryland e autor do livro “Track Changes: A Literary History of Word Processing”, diz que foi uma falha em compreender o que as pessoas que redigem necessitam. “Muitas das mais inovadoras ferramentas de redação hoje no mercado são precisamente plataformas livres de distrações”, disse ele.

Mas para ele, a ideia de um Microsoft Word impregnado pelo LinkedIn corresponde muito à fracassada estratégia do “Office em toda parte” adotada pelos predecessores de Nadella, Steve A. Ballmer e, antes dele, Bill Gates. Uma das principais características dos anos Gates-Ballmer foi a prioridade excessiva dada a novos produtos estreitamente ligados ao Windows e o Office. Essa estratégia gerou ações antitruste e também contribuiu para impedir a companhia de criar novas atividades totalmente independentes do Windows e Office, duas galinhas de ovos de ouro.

Até agora Nadella evitou tal estratégia e revogou muitas das más decisões tomadas por seus antecessores. Mas suspeito que ele e Weiner estão aflitos com casos extremamente ruins de cobiça do Facebook. Toda empresa de tecnologia, incluindo a Microsoft, contemplou uma compra, ou realmente tentou adquirir, o Facebook nos seus anos iniciais; e todas ainda são atormentadas pela ideia de uma compra que lhes escapou. Hoje a capitalização de mercado do Facebook é de US$ 320 bilhões, não muito longe dos US$ 394 bilhões da Microsoft.

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Gráfico social. Mas se os diretores executivos de outras empresas de tecnologia não podem mais comprar o Facebook ainda assim podem tomar emprestada a linguagem usada pelo seu fundador Mark Zuckerberg, especialmente uma frase chave dele, “gráfico social”.

Numa conferência conjunta com Weiner, na segunda-feira, Nadella falou de “venda social” e “gráfico Microsoft”, que Weiner imediatamente chamou de “gráfico corporativo”. O que, por outro lado, se harmonizaria com o “gráfico profissional” do LinkedIn, produzindo um novo, o “primeiro gráfico econômico do mundo”.

Os “gráficos” da Microsoft e LinkedIn se conectarão e, segundo Nadella, “é aí que começa a acontecer a mágica em termos de como o trabalho digital é completado”. O que Nadella não vê é como a extensão do “tecido social” do LinkedIn para o Word destruirá a mágica, não a promoverá.

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/TRADUÇÃO TEREZINHA MARTINO

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