Realidade virtual esbarra no preço alto

Ocorrência de náuseas em usuários também atrapalham popularização da tecnologia

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Por Nick Wingfield
Atualização:
Rosenfeld, fundador da Vrideos, que fechou as portas por não conseguir competir com Facebook e YouTube Foto: NYT

Para que determinada tecnologia se imponha no mercado, existe um acordo tácito: ela não deveria provocar náuseas nas pessoas que a utilizam.Um lembrete é o que ocorreu, na semana passada, durante a Consumer Electronics Show, feira de tecnologia realizada em Las Vegas, nos Estados Unidos. Em um evento, a fabricante de processadores Intel distribuiu óculos de realidade virtual a cerca de 250 pessoas para que pudesse assistir um vídeo da perspectiva de esquiadores que saltavam de um helicóptero. Todos receberam sacos para náusea, iguais aos existentes em aviões.

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De acordo com Laura Anderson, porta-voz da Intel, a companhia distribuiu os saquinhos “por um excesso de precaução e para brincar com a nossa experiência em imersão”. Ninguém precisou utilizá-los durante a apresentação.

Isso mostra que está na hora de a realidade virtual, uma das sensações tecnológicas do ano passado, se confrontar com a realidade. As vendas dos melhores modelos de óculos têm sido lentas, segundo a maioria das estimativas, por causa do preço alto, da falta de conteúdo imprescindível e do design pouco atraente. Modelos mais baratos para smartphones vendem muito mais, mas são limitados.

Muitos especialistas em tecnologia e os primeiros a adotar a realidade virtual continuam firmes em sua convicção de que a tecnologia acabará modificando a percepção das pessoas sobre entretenimento, o que inclui jogos e filmes. “Será um trabalho árduo, dada a evolução tecnológica, com a oferta de novo conteúdo e com o aumento da quantidade de informação”, disse Jan Dawson, analista da Jackdaw Research.

A realidade virtual agora caminha aparentemente para a fase da evolução de novas tecnologias conhecida como a “crise da desilusão”, segundo Sunny Dhillon, investidor de risco da Signia Venture Partners, que investiu em startups de realidade virtual. Para a consultoria Gartner, empresa de pesquisa em tecnologia, esse estágio do ciclo do exagero de novas tecnologias se dá depois de um período de expectativas infladas, mas antes de uma fase em que seus benefícios passam a ser aceitos em geral.

Perspectivas. As companhias que fabricam os fones mais famosos não informam os números relativos às próprias vendas, e afirmaram que, até o momento, estão satisfeitas com os resultados. A SuperData Research, empresa de pesquisa em tecnologia, calcula que a Oculus vendeu 360 mil unidades e a HTC 450 mil, desde o lançamento dos seus produtos, em março e junho do ano passado, respectivamente. Ambos os dispositivos exigem computadores caros com processadores potentes. A consultoria calculou que a Sony, que começou a vender seus óculos de realidade virtual em outubro, vendeu cerca de 750 mil unidades.

A expectativa era de que os óculos da Sony impulsionariam o setor da realidade virtual, por ser mais barato que os concorrentes, e utilizar o poder de processamento do console PlayStation 4, que já tem mais de 53 milhões de unidades vendidas. O conjunto formado pelo PlayStation VR e controles especiais é vendido por US$ 500, enquanto conjuntos comparáveis da HTC e da Oculus são vendidos por quase US$ 800 cada. No entanto, as vendas da Sony foram inferiores ao que a SuperData e outras esperavam. “As vendas de fim de ano foram bem decepcionantes para muitos deste setor”, afirmou Doug Renert, investidor de risco da Tandem Capital. “Não estou surpreso.”

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A Samsung informou na semana passada, durante a CES, que vendeu mais de 5 milhões dos seus óculos Gear VR, que funcionam com um smartphone da linha Galaxy e lentes especiais. A Samsung costuma fazer promoções em que dá praticamente de graça um óculos na compra de um celular da marca. As quedas no preço dos produtos, bem como melhorias em sua ergonomia, deverão determinar a aceitação da realidade virtual pelo público. “Não estamos no estágio de Newton, mas tampouco estamos no estágio do iPhone”, observou Renert. /TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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