Um novo relatório do Fórum Econômico Mundial prevê que o blockchain – tecnologia na qual se baseia a moeda virtual Bitcoin – ocupará um lugar central no sistema financeiro global nos próximos anos. Divulgado ontem pelo Fórum, organização que reúne a elite global das finanças, o relatório é um dos mais vigorosos endossos até agora ao blockchain, apesar das origens imprecisas do Bitcoin – revelada ao mundo em um fórum online em 2009, a moeda virtual não tem até hoje um criador conhecido. “Em vez de ficar às margens do setor financeiro, o blockchain se tornará o coração pulsante dele”, disse o diretor de setores de serviços financeiros do Fórum, Giancarlo Bruno, em um comunicado divulgado junto com o relatório. Originalmente, o blockchain é um banco de dados em que transações com bitcoins são registradas e armazenadas. Ao contrário dos livros contábeis e bancos de dados usados por bancos e outras instituições, o blockchain é atualizado e mantido não por uma única companhia ou governo, mas por uma rede de usuários. Ela funciona de forma semelhante à Wikipedia, enciclopédia virtual mantida pelos usuários de todo o globo. Superação. Inicialmente, os executivos de bancos evitaram dar um aval ao Bitcoin, uma vez que a moeda virtual se tornou um instrumento bastante popular na internet para compra e venda de artigos ilegais, como drogas e serviços criminosos. Hoje, contudo, muitas instituições financeiras se concentram em maneiras para criar blockchains sem necessariamente precisar usar os bitcoins. O que é fascinante, porque o blockchain pode oferecer um novo meio de movimentar dinheiro e rastrear transações através das fronteiras e outras redes de modo mais seguro, transparente e eficaz do que o sistema atual. O relatório do Fórum Econômico Mundial observa que muitos avanços devem ocorrer nos bastidores das transações – de forma que os consumidores não necessariamente verão alterações em seu dia a dia. No entanto, tais mudanças devem resultar em serviços financeiros mais rápidos e baratos. Segundo o documento, a tecnologia vai ajudar a aprimorar as transações convencionais, como pagamentos e negociação de ações globais e no caso de áreas menos conhecidas como financiamento de trocas comerciais e títulos conversíveis contingentes. O relatório de 130 páginas do Fórum é resultado de um ano de pesquisa e cinco reuniões de executivos de diversas grandes instituições, incluindo o JPMorgan Chase, Visa, Mastercard e BlackRock. De acordo com o documento, 80% dos bancos em todo o mundo podem começar os projetos de blockchain no próximo ano. Grandes bancos centrais estão também estudando de que modo o blockchain alterará a maneira como o dinheiro se movimentará no globo. Muitos bancos já começaram a criar grupos de trabalho e a divulgar relatórios de pesquisa elogiando o efeito potencialmente transformador da tecnologia. Demanda. Hoje, a utilização da blockchain no mundo real é mínima, além da própria moeda. O que leva a algumas dúvidas quanto a se a tecnologia é a solução proverbial de um problema ou mais uma inovação que será amplamente utilizada no futuro. As moedas virtuais existentes continuaram a lutar com problemas de segurança. Uma das maiores bolsas de negociação da Bitcoin, a Bitfinex, recentemente perdeu o equivalente a US$ 60 milhões por causa de ação de hackers – o mais recente de vários incidentes ocorridos. Antes disso, em 2014, o bitcoin passou por um período de valorização, mas depois perdeu muita credibilidade com a quebra do Mt. Gox, uma das principais bolsas de bitcoin, causando prejuízos avaliados em cerca de US$ 460 milhões. O relatório do Fórum Econômico Mundial sugere que levará tempo para essas questões serem solucionadas. Além dos problemas com a tecnologia, o relatório afirma que o setor terá de trabalhar com os governos para criar regras padronizadas e leis que irão reger as transações. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO