Startups de bebês dão seus primeiros passos no Brasil

Com soluções como acompanhamento de saúde e entrega de produtos, empresas buscam novo mercado

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Foto do author Bruna Arimathea
Por Giovanna Wolf e Bruna Arimathea
Atualização:

A cada dia, nascem cerca de 392 mil bebês no mundo, segundo dados da Unicef. Mesmo antes de saírem da barriga de suas mães, eles já fazem parte do mundo do consumo, exigindo produtos e serviços especiais. Atentas a esse mercado, startups já desenvolvem soluções tecnológicas para facilitar o dia a dia de mães e pais no cuidado de seus filhos. 

É o caso da paulistana Avocado, que desenvolveu um app de delivery de produtos muito usados por bebês, como fralda, lenço umedecido, hidratante e xampu. Ao todo, o portfólio da empresa tem cerca de 400 itens, que podem ser requisitados via app e entregues em até duas horas. “Queremos evitar que as pessoas percam tempo indo ao supermercado ou à farmácia”, diz a fundadora Mariam Topeshashvili, formada em Ciência Política e Economia pela Universidade Harvard

Delivery.Avocado, de Mariam, entregafraldas Foto: Felipe Rau/Estadão

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Criada em 2018, a Avocado já recebeu duas rodadas de aportes que somam US$ 1,7 milhão. Para oferecer o serviço para seus 8 mil usuários, a startup compra os produtos da indústria e os estoca em um galpão na região de Pinheiros, em São Paulo. Hoje, a empresa de Mariam faz entregas só na capital paulista, com ajuda logística da Loggi. Para 2020, o plano da empresa é inaugurar mais dez galpões de distribuição na cidade e ter mais produtos disponíveis no app, a fim de atender toda a família.

Quem também percebeu potencial no setor é a Liv Up, que faz marmitas saudáveis sob demanda. Após receber um aporte de R$ 90 milhões em setembro de 2019, a startup testa ampliar seu serviço para alimentação de bebês e crianças. “Estamos conversando com mães, pais, pediatras e nutricionistas para entender a dor do setor”, diz Victor Santos, presidente executivo da startup, que deve lançar um novo produto nos próximos meses.

Para Dani Junco, fundadora da aceleradora B2Mamy, que incentiva negócios criados por mães, o segmento de maternidade traz vantagens para o empreendedor. “A chance de errar quando se empreende em um nicho como esse é menor”, diz. “A startup consegue determinar e conhecer melhor o seu público e se tornar autoridade no assunto”, diz. Além disso, o setor também traz enorme efeito de rede: mães costumam trocar entre si indicações de serviços, o que pode ajudar na divulgação das empresas. Por outro lado, a cobrança por qualidade também cresce. 

Engatinhando

Aqui no Brasil, o setor ainda engatinha, com poucas nomes de peso. Lá fora, porém, as startups de bebês já dão passos mais avançados. É o caso da americana Yumi, que entrega alimentos para bebês por assinatura e já levantou US$ 12,1 milhões em aportes. Iniciativas de produtos tecnológicos também têm surgido: a Pampers, por exemplo, lançou uma fralda inteligente no final do ano passado. Munida de um sensor, a fralda avisa aos pais quando está molhada. 

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Para Dani, da B2 Mamy, há um entrave cultural para o setor. “Falar sobre filhos no mundo corporativo ainda é algo novo – ainda há mulheres que são demitidas só por serem mães”, diz. “É também um setor muito feminino, porque ainda é minoria o grupo de homens que cuidam de bebês.” Além disso, as principais histórias das startups de bebês passa mais por necessidades sentidas pelos empreendedores e menos pela percepção de oportunidades de negócios. 

Foi o que ocorreu com Michel Zreik, cofundador da Lá Vem Bebê, de São José dos Campos (SP). Engenheiro eletrônico, ele trabalhava fazendo mísseis para a Força Aérea Brasileira (FAB). 

Zreik resolveu trocar as armas pelos códigos ao observar que irmãs e amigos ganhavam tantas fraldas ao fazer um chá de bebê que elas nem cabiam dentro de casa. Pela plataforma da startup, é possível criar gratuitamente uma lista de presentes online para quem for participar da festa – a startup, porém, cobra uma comissão de 9% sobre o valor de cada presente recebido. 

Sem choro

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Outra empresa nascida após uma dor específica foi a Bella Materna, dona de um app que acompanha a saúde de mães e bebês. A startup foi criada depois que o fundador Ricardo Franco teve de levar o filho ao hospital com febre alta e descobrir que o problema estava apenas no nascimento de um novo dente – e não em algo mais sério. 

Pelo app, um grupo de 180 profissionais – que inclui enfermeiros, nutricionistas e consultores de amamentação – ficam à disposição para consultas de mães e pais a qualquer hora do dia. Para faturar, a startup fechou parcerias com planos de saúde e empresas, que podem oferecer o app da Bella Materna como benefício a funcionários. 

Cuidado.Canguru, de Landsberg, acompanha gravidez Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Já a startup Canguru, acelerada pelo Eretz.bio, divisão de inovação do Hospital Israelita Albert Einstein, foca em acompanhar o período de gravidez. Com quase 400 mil contas cadastradas, o aplicativo tem uma espécie de “Facebook para mães”, onde as mulheres podem dividir experiências. Além disso, há funções como uma agenda digital com lembretes de consultas e informações gerais sobre gravidez, parto e possíveis sintomas. 

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“Buscamos oferecer ferramentas para levar conhecimento para a mulher”, diz o médico da família Gustavo Landsberg, fundador da startup. O modelo de negócios da empresa é baseado em parcerias com operadoras de saúde, que pagam mensalidade para oferecer o aplicativo às suas conveniadas. 

Mas é bom ressaltar que a tecnologia não dispensa o acompanhamento de um médico. “É importante ter um especialista pré-natal junto com o uso desse tipo de aplicativo”, ressalta Eduardo Zlotnik, ginecologista e obstetra do Einstein. “A gravidez é um momento sensível e esses serviços são importantes para dar segurança para a grávida.” 

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