Suco de US$ 700 vira febre no Vale do Silício

Misto de app, máquina de sucos e fábrica de frutas e legumes, Juicero atrai investimentos pela ‘excentricidade’

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Por Redação Link
Atualização:

Jay Lombard/The New York Times

 

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David Gelles The New York Times

O Vale do Silício é pródigo em financiar ideias malucas, como balanças de banheiro que postam seu peso no Twitter, por exemplo. No meio dessa gente, está Doug Evans: sem experiência com tecnologia e comandando uma rede de lojas de suco que ia mal das pernas, ele conseguiu captar US$ 120 milhões de empresas como Google Ventures e sopas Campbell. Seu produto: uma máquina que custa US$ 700 e produz copos de suco com 227 gramas chamada Juicero.

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Defensor ferrenho dos alimentos crus e usuário de sapatos de cânhamo, Evans é o responsável por uma empresa enigmática. O que ela faz? É um app para pedir suco em casa? Uma engenhoca para a cozinha? Ou, então é uma fábrica de 10.312 metros quadrados, com dezenas de funcionários que lavam e cortam frutas e vegetais em Los Angeles?

É tudo isso, na verdade.

Processador. A máquina produzida pela empresa é uma caixa de plástico branco do tamanho de um processador. Para produzir o suco, você precisa colocar um saco parecido com uma bolsa de soro na máquina e apertar um botão. Alguns minutos depois, um líquido colorido começa a escorrer para dentro do seu copo. Para loucos por saúde dispostos a pagar caro, a Juicero promete o ideal platônico dos sucos. Além disso, a máquina nunca precisa ser limpa.

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Mas para o suco sair da fazenda e chegar ao copo é necessária uma mistura impressionante de hardware, programação e processamento de alimentos. Tudo isso a partir de um app sempre conectado à internet, códigos QR, embalagens de alta tecnologia e um exército de trabalhadores que cortam frutas e vegetais de formas específicas.

Aposta. Muitos magnatas que vivem no Vale do Silício são obcecados com saúde, crentes que a tecnologia pode melhorar qualquer coisa – até mesmo um trivial suco. Além disso, eles creem que os nichos de mercado, se explorados da forma correta, podem se converter em mercados bilionários. A Juicero é a mais recente expressão desses impulsos técnico-utópicos.

“Há cinco anos, sucos prensados a frio eram um mercado de nicho, popular apenas entre os fanáticos por saúde. Agora estão no gosto do público”, diz Andrew Alvarez, analista da consultoria IBISWorld. Para ter sucesso, a Juicero deve tirar proveito das tendências e superar problemas mundanos – como convencer pessoas a pagar uma fortuna por um eletrodoméstico. “US$ 700 por uma máquina que só faz uma coisa é muito dinheiro”, avalia Virginia Lee, da consultoria Euromonitor.

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A empresa também é o exemplo mais recente das startups que conseguem enorme quantidade de dinheiro sem comprovar sua capacidade de dar retorno. No contexto mais conservador da atualidade, uma empresa dessas não atrairia tanto dinheiro. Mas isso não importa.

No fim das contas, o que torna a Juicero tão especial não é algo que possa ser quantificado pela ciência convencional, segundo Evans. “Nem todos os sucos são iguais”, diz o empreendedor. “Sucos orgânicos prensados a frio são a água da chuva, filtrada pelo solo e pelas plantas. Você recebe todos os nutrientes vivos.” É como beber o néctar da Terra, diz Evans, antes de beber mais um gole de seus sucos.

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