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Impressão Digital

Sem popstars, a atração da Campus Party é o público

Evento acerta ao mirar o futuro e não o passado

Por Alexandre Matias
Atualização:

Acompanho a Campus Party desde sua primeira edição, em 2008, quando o evento chegou ao Brasil e era realizado ainda no Pavilhão da Bienal, no Ibirapuera. Fui a todas as edições, sempre cobrindo para o Link, além de participar de debates e entrevistar alguns de seus convidados. Mas duas coisas sempre me deixaram com a pulga atrás da orelha.

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Uma delas diz respeito à velocidade de conexão do evento, que, desde a primeira edição, era vendida como um dos grandes trunfos do encontro, permitindo downloads numa velocidade muito além da que tínhamos em casa, há cinco anos - espantosos 5 gigabytes de banda larga! Quem acompanha o mundo digital há um mínimo de tempo sabe que a tendência é que tal velocidade cresça a cada ano. Por isso me perguntava qual seria a grande atração da Campus Party depois que conexões ultrarrápidas virassem algo comum para a maioria das pessoas. Como já acontece hoje.

O segundo ponto era o fato de o evento se preocupar em trazer medalhões para atrair a atenção de um público ainda em construção. Assim, foram chamados nomes que às vezes nem eram tão cruciais para a história do mundo digital - como, especificamente, o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore -, mas que garantiam audiência e mídia. Ou nomes importantíssimos, como o criador da world wide web, Tim Berners-Lee, que, na hora de falar, não fez jus à sua importância histórica.

Claro que houve exceções - e boas -, como a vinda do cofundador da Apple Steve Wozniak no ano passado ou a presença do hacker Kevin Mitnick na edição do ano anterior. Mas ia chegar uma hora em que a lista de figurões se aproximaria do fim, pois o mundo digital só agora alcança a maturidade.

Sem contar o fato de a Campus Party sempre pregar a colaboração e a participação como duas de suas principais bandeiras - que perdem força a partir do momento em que as grandes atrações do evento se resumiam ao público assistir a palestras, em que a maior interação com o palestrante seria depois da apresentação, em encontros como a (enorme) fila de autógrafos para o livro de Woz, no ano passado.

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Eis que a Campus Party deste ano apresenta sua programação sem nenhum medalhão. Há nomes importantes e de peso, mas todos precisam ser apresentados detalhadamente para quem não é do ramo. Não há nenhum palestrante que mobilize atenções para além da cobertura de tecnologia e um dos principais debates reunirá nomes quase anônimos, mas que representam grupos que se estabeleceram coletivamente, como na mesa formada por integrantes de levantes políticos do ano passado (a Primavera Árabe, os Indignados da Praça do Sol na Espanha e o Occupy Wall Street) que se encontrarão para discutir este tipo de mobilização na tarde da próxima sexta-feira.

Sem nenhum popstar, a principal atração da feira volta a ser o público. E, para este público, o coordenador-geral do evento, Mário Teza, repete com insistência uma palavra-chave: inovação. Dito como uma tag, o termo "inovação" pode confundir, pois é comumente associado à novidade, à mudança. Mas não é tão simples assim. Em se tratando de tecnologia e cultura digital, inovação é a gasolina do motor. A lógica eletrônica é oposta à industrial, que a antecedeu: importa menos manter as coisas como estão e mais antever as mudanças do futuro. E elas não vão parar. Erra quem cogita que as transformações digitais são passageiras, que, em algum momento, essas mudanças irão cessar e o ritmo da vida irá voltar a ser como era antes. Esqueça: a mudança é a regra.

Por isso a Campus Party 2012 acerta ao apostar mais no futuro do que no passado da nossa idade eletrônica. Ao trazer nomes de menor calibre, facilitam até mesmo o acesso dos acampados aos palestrantes, que podem conversar com eles sem ter o receio comum do encontro com celebridades. Resta saber se, uma vez no Anhembi, vamos ter menos problemas do que as edições anteriores - mais especificamente nos debates, sem que o áudio de uma mesa redonda se misture ao das vizinhas.

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