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Opinião|O potencial disruptivo de uma inteligência artificial pequena

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Atualização:
A inteligência artificial nos objetos que interagimos diariamente transformará nossa experiência de uso, os tornará mais seguros e os integrará ao mundo digital. Foto: PxFuel.com

 

O potencial transformador que a inteligência artificial (IA) traz para os negócios e a sociedade tem fomentado o grande interesse e o "barulho" sobre o tema (veja este artigo para maiores detalhes). E se fosse possível colocar IA em todos os objetos? Ela poderia ser utilizada para aprender como os usuários interagem com as coisas e automaticamente adaptá-las para melhorar continuamente a experiência de uso. Tornar os objetos que utilizamos mais espertos (smart) pode trazer vários outros benefícios, como tornar a utilização mais eficiente, segura e até mesmo sustentável. Esse conceito é conhecido como Inteligência Artificial das Coisas (IAC)  ou Artificial Intelligence of Things (AIoT, na sigla em inglês). 

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De forma simplificada, IAC é o conceito de colocar inteligência artificial em várias coisas com as quais interagimos diariamente. O objetivo da IAC é de certa forma colocar inteligência em todos os objetos que fazem parte do nosso dia a dia, tornando-os mais úteis e com uma utilização mais natural e agradável. O conceito de aprender sobre a utilização e personalizar a experiência para o usuário não é novidade. Ele já é utilizado no mundo digital por muitas empresas, como Amazon e Netflix. A novidade trazida pela IAC é a possibilidade de estender esse conceito para o mundo físico. 

Para ilustrar, vamos imaginar dois objetos importantes com os quais interagimos diariamente: o sofá e o colchão. Agora, reflita sobre a dificuldade em escolher esses itens para realizar a compra. Isso ocorre porque a forma como testamos numa loja não é a forma como realmente vamos utilizá-los. Dentro de uma loja, ou seja, num ambiente público, o teste segue normas socialmente aceitas. Assim, por exemplo, um consumidor que costuma se jogar nú no sofá ou na cama diariamente não fará isso em público ao testá-los na loja. Os projetistas desenham um produto imaginando como as pessoas vão utilizá-lo, os consumidores testam o produto numa loja por meio de um uso socialmente aceito, mas, na realidade, sua utilização na vida privada poderá ser bem diferente. 

E se o fabricante resolvesse inserir sensores nos colchões para detectar a sua utilização e, com o uso de inteligência artificial, adaptar a firmeza e ajustar a temperatura das diferentes regiões do colchão para acomodar melhor o corpo do consumidor? Nesse caso, teríamos um colchão que traria uma experiência de uso superior e personalizada para cada usuário, sendo um colchão smart, o que já existe atualmente.

No entanto, para que seja possível ampliar esse mesmo conceito para a maior parte dos objetos que utilizamos, torna-se necessária a utilização de algoritmos leves que possam ser executados por processadores ultra baratos, com baixo poder computacional, pouca memória e que consumam pouca energia. Tais algoritmos são conhecidos como tiny AI (IA muito pequena) ou tiny ML (Aprendizado de Máquina muito pequeno) e se tornaram um campo de pesquisa promissor diante da crescente preocupação sobre o impacto das tecnologias no meio ambiente e da demanda por acrescentar a IA em diversos objetos, além da motivação adicional decorrente da escassez mundial de processadores em 2021. 

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A Inteligência Artificial das Coisas (IAC) ao longo dos próximos anos adicionará uma camada digital no mundo físico e criará uma grande transformação no processo de digitalização de nossas interações com o mundo. Essa quebra de paradigma, que unificará ainda mais o físico e o digital, provocará a disrupção de várias indústrias tradicionais de bens de consumo duráveis e não duráveis, visto que criará um vasto leque de oportunidades para uma real digitalização da experiência na utilização dos produtos criados por essas indústrias tradicionais, as quais, muitas vezes, falham em compreender o fenômeno e em se posicionar corretamente para criar e capturar valor dentro de um novo paradigma tecnológico. Aplicações inovadoras permitirão um novo capítulo na interatividade, criando oportunidades para empresas entrantes orientadas à tecnologia e colocando em risco os incumbentes que não se posicionarem a tempo.

Opinião por Alexandre Nascimento
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