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O lado livre da internet

A importância de dados abertos

Colaboração e acesso à informação são fundamentais para a democracia.

Por CCSL
Atualização:
 Foto: Estadão

Por Alfredo Goldman*

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Nos últimos dias, temos passado por diversas mudanças no país que não dá para ignorar. Mais do que isso, há uma tendência muito forte das pessoas em tomarem partido, defendendo uma posição. Aqui no blog, preferimos não declarar preferências partidárias, procurando apoiar apenas os valores ligados ao Software Livre. Mas, em defesa de uma maior transparência e possibilidade de controle, vamos sim defender a maior divulgação de informações.

Os dados relativos a orçamento de governo devem ser, na medida do possível, abertos, de forma a permitir um controle fácil do que ocorre, não apenas pelo Ministério Público, mas também por toda a população. Quanto mais olhos observando, mais fácil de se encontrar possíveis problemas. É claro que existem casos onde há a necessidade de deixar os dados com acesso restrito, mas esses devem ser exceções e não a regra.

Para evitar entrar em polêmicas desnecessárias, vou citar dois exemplos nos quais o acesso a dados abertos fez a diferença. Os dois exemplos estão bem longe de qualquer problema na atual política brasileira: um é um exemplo científico e o outro um caso ligado a campeonatos de Bridge.

O primeiro está relacionado à astronomia. Como se sabe, temos hoje vários telescópios, incluindo o bem conhecido Hubble, fazendo imagens do espaço. Mas mesmo as técnicas computacionais e o poder de processamento disponíveis atualmente não permitem que todas essas imagens sejam analisadas de forma automática. Logo, uma ótima iniciativa foi deixar o acesso livre às imagens, de forma a permitir que astrônomos amadores procurem por novos corpos celestes, muitas vezes em colaboração com pesquisadores profissionais, ou a auxiliar na pesquisa de outras formas.

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O outro exemplo é mais recente e envolve uma suspeita de trapaça em torneios de jogos de Bridge. De forma superficial, o jogo de Bridge envolve duas etapas importantes; na primeira, há um leilão para decidir qual das duas duplas vai escolher qual será o trunfo e, na segunda, há o jogo em si, onde a cada rodada vence a carta mais alta (ou o trunfo). O leilão é uma etapa importantíssima do jogo, pois nele os parceiros devem comunicar, através de poucos códigos, o conteúdo da sua mão de cartas.

Sem entrar em mais detalhes sobre o jogo, um jogador experiente começou a desconfiar de uma dupla que sempre conseguia passar as informações de forma correta, mesmo com as várias formas de prevenção de fraude existentes (há uma separação entre as duplas, a passagem das mensagens se faz por plaquinhas e cada dupla deve informar previamente a estratégia de comunicação). Mas, só com a desconfiança, não havia evidências suficientes.

Logo, esse jogador criou uma página na Internet chamada bridge cheaters e colocou as imagens das partidas envolvendo os jogadores suspeitos (todas disponíveis no youtube) para que mais pessoas pudessem tentar descobrir se havia trapaça. Com mais olhos, foi possível descobrir padrões bem sutis que evidenciaram que havia formas de comunicação entre a dupla suspeita além das convencionais. Essa descoberta só foi possível com a ajuda de vários colaboradores que procuraram juntos pela técnica dos suspeitos. Uma versão bem completa de toda a história pode ser encontrada na revista do The New Yorker, vale a leitura.

É por isso que a transparência é tão importante: esse é mais um contexto em que o esforço colaborativo pode ir muito além do que é possível contando apenas com recursos restritos, como o Ministério Público. Podemos todos ajudar!

* Alfredo Goldman é Professor de Ciência da Computação no IME/USP e diretor do CCSL-IME/USP

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