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O lado livre da internet

A vaca tussiu!

Até a Microsoft está aderindo cada vez mais ao software livre. E você?

Por Nelson Lago
Atualização:
Imagem retirada de um blog da Microsoft  Foto: Estadão

Em outubro de 1998, Eric Raymond divulgou um memorando interno da Microsoft sobre o Linux e o Software Livre. Nesse documento, o autor Vinod Valloppillil observava que diversos projetos livres tinham atingido alto grau de qualidade, amplitude e sofisticação, ameaçando o modelo de negócios da empresa, e discutia maneiras de "combater o inimigo". Pouco tempo depois, em 2001, Steve Ballmer, então CEO, afirmou que o Linux é um câncer. No entanto, em outubro de 2014, Satya Nadella (atual CEO) afirmou durante um evento que "a Microsoft ama o Linux" e, em 16 de novembro de 2016, a Microsoft anunciou que passou a integrar a Fundação Linux (Linux Foundation) como membro Platinum -- o nível mais alto --, e deverá contribuir com cerca de US$500.000/ano com a fundação. Essas duas ações institucionais são o reflexo do processo que já acontece há algum tempo: a empresa cada vez mais participa e apoia diversos projetos livres, além de ter transformado alguns de seus produtos em software livre.

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Talvez um aspecto importante dessa mudança de atitude venha do mero fato de que as pessoas responsáveis pela liderança da Microsoft não são mais as mesmas que 20 anos atrás. No entanto, o próprio Bill Gates teve papel importante no pontapé inicial nessa direção e os negócios da empresa ainda são a continuação do que eram à época; não se pode creditar uma mudança estratégica tão grande meramente a opiniões pessoais. Trata-se, muito mais, de seguir a máxima: quando não puder com seus inimigos, junte-se a eles.

O computador desktop é o reino quase absoluto da Microsoft e ainda é, e continuará sendo por um bom tempo, peça fundamental em escritórios. No entanto, seu papel para usuários domésticos tem se reduzido a cada dia frente aos tablets e celulares, área em que a empresa tem penetração pífia apesar de investimentos significativos. A computação se expandiu drasticamente em sistemas dedicados, em servidores e, mais recentemente, na computação em nuvem, e o espaço do MS-Windows nesses mercados não só é limitado como é cada vez menor. Não é à toa que o Azure, sua plataforma de computação em nuvem, oferece amplo suporte a Linux e outras tecnologias livres: a computação em nuvem baseada em software livre deve continuar crescendo fortemente por muitos anos. E, de fato, a provável aposta da empresa para o futuro está em serviços, como o Office365 e o Azure, e garantir sua compatibilidade e popularidade com os desenvolvedores é fundamental para seu sucesso.

O que vemos aqui nada mais é que algo que todos envolvidos com TI já sabem há algum tempo: o modelo livre "venceu" ou está vencendo em quase todas as áreas do mercado de software. As razões para isso são puramente comerciais e técnicas; ninguém pode acusar a Microsoft de incompetência quanto a navegar com sucesso no mercado. É interessante observar, no entanto, que muitos de seus clientes não têm a mesma visão do futuro e parecem estar decididos a enfiarem suas cabeças na areia do passado. Como, por exemplo, o governo brasileiro.

* Nelson Lago é gerente técnico do CCSL-IME/USP

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