Foto do(a) blog

O lado livre da internet

Software livre e governo - uma parceria imprescindível

O software fechado limita a personalização de aplicações e restringe as opções de fornecedor, e não é uma boa escolha para o setor público.

PUBLICIDADE

Por CCSL
Atualização:
 Foto: Estadão

Por Alfredo Goldman*

PUBLICIDADE

Imagine que o dono de uma empresa A precise de um software para atender as necessidades do seu dia a dia; coisas corriqueiras como controle de estoque, cadastro de clientes e acompanhamento de vendas. Atualmente, esse tipo de sistema é bastante usual, sendo que uma forma de implementá-lo é através de um banco de dados para armazenar de forma segura essas informações.

Agora imagine que essa empresa A contrata o sistema de banco de dados da empresa B, pois ela, com seu excelente departamento de vendas, consegue mostrar os inúmeros benefícios dessa escolha, incluindo a personalização do seu sistema que já conta com uma enorme base de clientes instalados, além de exibir sua larga experiência no mercado e diversas certificações com nomes bonitos. Tudo indica que estamos rumando a um final feliz :)

Mas começam a aparecer os primeiros pequenos detalhes que poderiam incomodar o dono da empresa A. Primeiro, o serviço de banco da dados tem um pagamento de licença anual. Mas claro que o dono da empresa A não vê isso como um problema, pois os técnicos da empresa B o convencem que, ao pagar essa licença, ele também ganha o armazenamento seguro em nuvem, sem ter que se preocupar em manter os dados localmente. Segundo, as personalizações não foram tão perfeitas assim, pois havia particularidades do negócio da empresa A que não puderam ser totalmente adaptadas no sistema genérico da empresa B. Mas quem liga para os pequenos detalhes? Ainda assim, também surgiram outros probleminhas: a empresa B, por seu grande sucesso e porte, tem várias empresas certificadas que fazem a personalização de seus sistemas. Naturalmente, como a empresa A não chegava a ter uma demanda de dezenas de milhões de reais, uma dessas certificadas ficou encarregada de fazer a personalização. Aí vieram atrasos, promessas não cumpridas, adaptações necessárias que não foram executadas a contento e alguns probleminhas mais...

Mas vamos tentar melhorar a nossa história! Agora sim, o dono da empresa A tem o seu sistema funcionando e está feliz com o controle informatizado das suas operações. Acaba assim? Infelizmente não...

Publicidade

Naturalmente, negócios evoluem, e é claro que o sistema também teria que se adaptar. Do ponto de vista técnico, não há problema nenhum, pois mudar software em funcionamento já faz parte do dia a dia dos programadores. Mas esquecemos de um pequeno detalhe: o software da empresa B não é livre. Isto é, a empresa A não tem acesso ao seu código fonte e, portanto, não pode fazer modificações nele. Só a empresa B pode... Isso diminui bastante a relevância das leis de mercado para a empresa A: se há apenas um fornecedor, quem controla o seu preço? Além disso, a empresa A se torna dependente da empresa B enquanto quiser o seu sistema funcionando.

Será que há uma solução melhor?

SIM! :) Se a empresa B tivesse entregado junto com o sistema o seu código fonte com uma licença livre, a empresa A teria a liberdade de contratar uma outra empresa, ou mesmo a própria empresa B, para manter o software. A empresa A teria mais poder de negociação para garantir a adequação do produto às suas necessidades e mais opções de escolha de fornecedores para os serviços relacionados ao sistema tanto na implantação inicial quanto na manutenção no longo prazo. E, claro, a empresa B poderia ainda ter seus ganhos assegurados enquanto apresentasse serviços com qualidade e preço competitivos. Todos os envolvidos têm chance de ganhar! Mas, infelizmente, não foi o que aconteceu...

Agora imaginem se a empresa A fosse algum setor do governo? Quem sairia perdendo? Nós, os brasileiros...

Esse texto foi inspirado em um caso verídico.

Publicidade

* Alfredo Goldman é Professor de Ciência da Computação no IME/USP e diretor do CCSL-IME/USP

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.