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O lado livre da internet

Software Livre para quê?

Você está preocupado em saber se o software que usa é livre?

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Por CCSL
Atualização:
 Foto: Estadão

Por Nelson Lago*

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Na semana passada, comentamos sobre a mudança de paradigma que a web vem trazendo para o mundo da computação e mencionamos a importância do Software Livre na infraestrutura dessa "nova plataforma". O que não mencionamos é que a web de hoje se assemelha muito com o mundo dos computadores pessoais nos anos 80 e 90: ela é totalmente dominada pelo software não-livre. Pode parecer uma contradição com o que dissemos antes, mas não é.

As aplicações da web que usamos hoje (do facebook ao pequeno site de uma empresa de bairro) funcionam através de pequenos programas que baixamos e executamos automaticamente em nossos computadores através do navegador e que, por sua vez, se comunicam com programas instalados nos servidores web que acessamos. Embora muitos desses programas se utilizem de trechos de programas livres, o fato é que eles quase sempre são restritos.

Mas, se a maior parte do software por trás dessa infraestrutura é livre, por que alguém deveria se preocupar com isso?

Algum tempo atrás, escrevemos aqui sobre as duas principais categorias de pessoas e empresas ligadas ao Software Livre: de um lado, os "técnicos", interessados em Software Livre por suas vantagens tecnológicas e econômicas; de outro, os "ativistas", mais preocupados com suas vantagens éticas e sociais. Vamos recordar algumas das questões mais relevantes para este segundo grupo: a possibilidade de usar e adaptar o software sem restrições, a disseminação do conhecimento, a redução na dependência tecnológica (para empresas, cidadãos e governos), a segurança e proteção à privacidade e o incentivo à colaboração.

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Agora perceba: se todos os seus dados estão armazenados "na nuvem" (ou seja: em um computador que não é seu) e todas as atividades que você faz no computador envolvem executar programas restritos "na nuvem" (ou seja: em um outro computador que também não é seu), o que acontece com cada um desses aspectos? É verdade que uma enorme parte da infraestrutura que viabiliza a web e suas aplicações hoje é Software Livre mas, do ponto de vista dos ativistas, esse software não cumpre de forma alguma sua missão: isso é irrelevante.

Mas esse software livre todo não é irrelevante: ele cai como uma luva nos interesses da parcela dos "técnicos" da comunidade. Trata-se de software de alta qualidade que é continuamente aprimorado e que viabiliza, com baixo custo, a criação de novas tecnologias e empresas. O conhecimento técnico relacionado à web contido nele está disponível e pode ser estudado livremente. É uma situação muito favorável para os desenvolvedores de software, que podem inclusive utilizar todo esse material para produzir sistemas não-livres. E é por isso que o Software Livre tem tido grande sucesso, movimentando a economia com bilhões de dólares todo ano. Em países de língua inglesa, a expressão "Open Source" se tornou palavra de ordem no mercado da computação, e só alguns poucos ativistas ainda falam em "Free Software". Mesmo no Brasil, onde "Software Livre" é de longe a expressão mais adequada, muitos preferem usar "código aberto" ou mesmo "open source" (até nós! Veja o nome deste blog...). E, por isso mesmo, muitos na comunidade sentem-se bem com esse crescente sucesso.

Então está tudo bem? Hmmm... Num mundo em que toda nossa vida é cada vez mais mediada pela tecnologia, a preocupação dos ativistas se mostra cada vez mais pertinente. Os inúmeros benefícios trazidos pela web e a "nuvem" trazem consigo um preço que, muito provavelmente, ainda não sabemos como ou quando vamos ter que pagar.

* Nelson Lago é gerente técnico do CCSL-IME/USP

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