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Deu no New York Times

A briga do Final Cut continua

O programa ainda não está pronto para o presente

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Por David Pogue
Atualização:

Esta semana a grande notícia no mundo da tecnologia foi a briga de amor entre a Apple e a comunidade dos editores profissionais de vídeo. E eu consegui me meter bem no meio dessa briga. Na edição de quinta feira do New York Times, fiz uma resenha do novo Final Cut Pro X para os meus leitores: um público formado por leigos.

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Minha conclusão foi a seguinte: "Alguns bugs precisam ser corrigidos, e os recursos prometidos 'para breve' precisam de fato ser implementados em breve. Mas, apesar destas ressalvas, se o usuário for capaz de superar o choque provocado pelas novidades, o Final Cut Pro X já é um programa de uso intuitivo, poderoso e muito agradável". Defendo esta opinião -- para os consumidores, estudantes de cinema e amadores experientes como eu.

Mas, na resenha, cheguei a destacar que as coisas podem não ser assim para os profissionais, que "dizem que o novo programa não conta com recursos avançados como a possibilidade de editar simultaneamente diferentes ângulos de câmera, exportar para fita, gravar em algo além dos rudimentares DVDs e trabalhar com arquivos EDL, XML e OMF (usados no intercâmbio de projetos com outros programas). É possível usar um segundo monitor de computador, mas serão necessários novos drivers de saída para TV para possibilitar a conexão de um monitor de vídeo externo".

No dia seguinte, recebi uma enxurrada de queixas -- nos blogs e na rede, e também via e-mail -- , mas boa parte delas parecia desinformada. As pessoas reclamavam da ausência de recursos que não estavam de fato ausentes. Como não sou um montador profissional, trabalhei com meus seguidores no Twitter e meus correspondentes eletrônicos para produzir uma lista dos 20 principais recursos ausentes, e levei esta informação à Apple num telefonema. Publiquei as respostas da Apple na última atualização deste blog.

Minha esperança era desfazer um pouco a confusão que tinha se instalado entre os profissionais e, com isto, ajudá-los a tomar uma decisão mais informada. Em vez disso, com base em todos os comentários recebidos, o que consegui foi desviar a raiva deles em relação à Apple e transformá-la em raiva direcionada contra mim.

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Hoje, pretendo encerrar a história (certo, certo). Eis, portanto, a minha posição em relação ao tema.

Para aqueles que trabalham profissionalmente com a montagem de vídeos, me parece que a decisão de mudar para o novo programa deve ser tomada com base numa avaliação do tempo que seria consumido pela transição e do possível impacto negativo disto no ritmo de trabalho. (Me impressionam os montadores que anunciaram a intenção de mudar hoje mesmo para o novo programa. Se estão contentes com o antigo Final Cut Pro, continuem a usá-lo. É verdade que um dia a Apple vai parar de oferecer suporte à versão antiga, mas, até lá, o novo Final Cut já terá sido muito aprimorado. A Apple já anunciou, por exemplo, que vai restaurar em breve os recursos de edição com múltiplas câmeras e da exportação para XML.)

Mas -- que não haja dúvida em relação a isto -- , no geral, avalio que a Apple meteu os pés pelas mãos.

A Apple diz que há soluções para a maioria dos recursos ausentes no novo FCP. Nos comentários ao meu post anterior, ficou claro que muitos profissionais discordam disso. Mas, mesmo que a afirmação seja verdadeira, a Apple deixou de levar em consideração o elemento humano: a psicologia dos montadores de vídeo. Concordo que parte da reação exageradamente negativa decorreu do nervosismo e da insegurança em relação às novidades.

Mas isto é apenas uma reação humana, algo que a Apple deveria ter previsto, especialmente nesta indústria na qual o ritmo de trabalho e a eficiência são tão importantes. No ambiente da edição profissional de vídeos, contratempos que prejudiquem este fluxo são muito, muito ruins.

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Vários comentaristas estão dizendo que a aparência e o funcionamento mais amistosos do novo Final Cut Pro são prova de que a Apple teria em vista um público mais amplo -- amadores -- , dando as costas aos profissionais. Eles chamam a atenção para comandos incorporados ao programa como 'Enviar para o Facebook' e 'Enviar para o CNN iReport', que seriam provas absolutamente ofensivas desta tendência.

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Acho que esta interpretação é apenas metade da resposta. Acho que a Apple quer de fato ampliar o apelo do FCP, tornando-o menos intimidante e atraindo um público menos técnico, mas não acho que isto signifique um sacrifício da comunidade profissional. Boa parte dos novos recursos é voltada apenas aos profissionais - suporte à memória de 64-bit, a ferramenta 'Auditioning', organização de metadados, independência entre as resoluções, correspondência de cores e assim por diante.

Todos sabem perfeitamente como tudo isto vai se desenvolver. Já vimos este filme antes, quando a Apple nos arrastou do Mac OS 9 para o Mac OS X, ou do antigo iMovie para o novo iMovie. As coisas sempre funcionam da mesma maneira: a Apple cria uma nova plataforma muito mais capaz que a anterior, e que não traz recursos das versões antigas. Segue-se uma grande indignação do público. Os recursos ausentes acabam retornando, a calma é restaurada e, pouco depois, todos se esquecem da versão antiga do programa.

Depois de ter lido centenas de comentários feitos por profissionais, tanto civilizados quanto incivilizados, estou agora convencido: o Final Cut Pro X pode de fato estar pronto para o futuro. Mas, para os profissionais da edição de vídeo, o programa ainda não está pronto para o presente.

Publicado originalmente em 24/06/2011.

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