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Deu no New York Times

A opinião dos profissionais sobre o Final Cut Pro X

O que os profissionais acharam do novo programa de edição de vídeo da Apple?

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Por David Pogue
Atualização:
 Foto: Estadão

Em dez anos de trabalho escrevendo colunas para o Times, nunca vi nada assim.

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Na edição de quinta feira, 23, publiquei uma resenha do Final Cut Pro X, da Apple, um programa de edição profissional de vídeo. Não se trata de uma atualização do Final Cut já existente, de longe o mais popular entre os softwares deste tipo; esta nova versão foi completamente redesenhada. A aparência é diferente, as qualidades são diferentes -- e, depois de usá-la por um dia, muitos montadores profissionais de vídeo estão tomando as ruas armados com forcados.

"Este é o pior lançamento em toda a história da Apple", bufou um deles em mensagem de e-mail. "A Apple não faz a menor ideia das necessidades dos profissionais. Estão faltando tantos recursos de alto desempenho que esta versão deveria na verdade ser chamada de iMovie Pro."

Escrevi minha resenha a partir do ponto de vista de um amador experiente; não sou um montador profissional. Fiz quatro filmes usando o Final Cut Pro X, entre eles um vídeo de 20 minutos - um projeto de meu filho para a conclusão do nono ano. O FCP X me pareceu infinitamente mais poderoso do que o iMovie e, ao mesmo tempo, infinitamente menos intimidante do que o antigo Final Cut.

Mas, neste post, vou abordar uma a uma as preocupações dos montadores profissionais de vídeo. (As informações aqui contidas foram obtidas por meio de consulta aos gerentes de produto do Final Cut Pro X, da Apple.)

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Os "recursos ausentes" parecem se encaixar em três categorias: recursos que na verdade estão ali, mas foram deslocados; recursos que a Apple pretende restaurar; e recursos que exigem um complemento ou plug-in de terceiros (ou seja, que não é desenvolvido pela Apple).

Não estou tentando defender a Apple; o FCP X traz inúmeros recursos que a versão anterior não apresentava, mas, dito isto, não conta com todos os recursos do programa anterior. Entretanto, me parece legítimo separar as queixas mais legítimas das meras manifestações histéricas de quem usa a nova versão e exclama "Está tudo tão diferente!".

Queixa: não é possível editar com múltiplas câmeras. No antigo FCP, era possível importar o material de várias câmeras que cobrissem um mesmo evento (uma apresentação musical, por exemplo) simultaneamente a partir de ângulos diferentes, permitindo uma fácil alternância entre elas ao longo da montagem. Este era um dos recursos mais queridos do Final Cut, e não está presente no FCP X.

Resposta: a Apple pretende restaurar este funcionamento com uma atualização, que classifica como "prioritária". Até lá, existe uma solução intermediária possibilitando a montagem simultânea com múltiplas câmeras: ao arrastar dois clipes para duas linhas do tempo paralelas, pode-se escolher 'Clipe --> Sincronizar Clipes'. Ao comparar a faixa de áudio de cada um deles, o programa alinha os clipes com precisão. Assim, sempre que escolher uma parte da faixa de vídeo superior e pressionar a tecla V ("desativar"), você estará editando o material da faixa inferior.

Queixa: não é possível compartilhar um projeto com outros montadores. Nas empresas profissionais de edição de vídeo, os montadores têm o hábito de compartilhar projetos uns com os outros. Mas, no FCP X, "toda a organização de um projeto fica agora contida globalmente dentro do aplicativo, e não no arquivo do projeto. É preciso literalmente entregar seu computador inteiro a outro montador", escreve um blogueiro.

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Resposta: não é verdade. É possível compartilhar o projeto, os arquivos ou ambas as coisas. Se os outros montadores já dispuserem do material audiovisual bruto, basta passar a eles o arquivo do projeto. Os outros montadores devem visitar a 'Biblioteca de Projetos'; na janela de informações, basta clicar em 'Modificar Referências do Evento' para reconectar o projeto às suas próprias cópias dos arquivos de mídia. Se os outros montadores não dispuserem dos arquivos brutos, os vários comandos do menu 'Arquivo' permitem transferir o arquivo do projeto, os arquivos de mídia ou ambas as coisas para outro computador na rede, outro disco rígido ou seja qual for a forma de armazenamento.

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Queixa: não é possível organizar livremente os arquivos de mídia. "Não há como personalizar a organização da mídia de um projeto", reclama um blogueiro.

Resposta: o usuário pode organizar os arquivos livremente desde que se disponha a compreender o novo sistema de marcação por palavra-chave. Arrastar um clipe para uma pasta significa essencialmente aplicar a ele uma nova palavra-chave.

Queixa: não é possível especificar a localização do material importado. "Quando importamos arquivos de vídeo, o FCP X os coloca automaticamente na pasta 'Usuário --> Filmes', como faz o iMovie. Ridículo", diz um leitor via e-mail.

Resposta: mais uma vez, não é verdade. Na caixa de diálogo 'Importar', há uma opção chamada 'Copiar arquivos para a pasta Final Cut Events'. Se ela for desligada, o Final Cut deixa os arquivos importados onde estão.

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Queixa: não existe comando 'Reconectar' quando a mídia está offline. Quando os arquivos de mídia não podem ser acessados, o programa mostra ao usuário uma tela vermelha com um ponto de exclamação. Não existe mais a possibilidade de usar o 'Reconectar Mídia', presente em versões anteriores.

Resposta: é verdade. Dito isto, vale lembrar que a antiga caixa de diálogo 'Reconectar' trazia muitos problemas às pessoas; elas com frequência reconectavam um projeto aos arquivos errados, ou às versões erradas dos arquivos. O FCP X designa, nos bastidores, um único elemento identificador a cada clipe de vídeo individual. Quando o disco rígido faltante é reconectado ao sistema, o projeto localiza os antigos arquivos automaticamente, mesmo que tenham sido movidos de pasta ou que o disco rígido tenha sido renomeado. É impossível restabelecer uma conexão com a mídia errada.

Queixa: não é possível dividir o áudio em diferentes faixas. "Todos os nossos arquivos de áudio são mixados no ProTools", escreve um montador num e-mail. "Sempre deixamos a narração nas faixas 1 e 2, as entrevistas nas faixas 3-6, e assim por diante. Isto permite que nossos engenheiros de som saibam exatamente o conteúdo de cada faixa. Mas a estrutura 'sem faixas' do FCP X torna isto impossível."

Resposta: por enquanto, é possível usar uma ferramenta chamada Automatic Duck Pro Export 5.0 (atualização que sai por US$ 200) para criar e gerenciar estas faixas automaticamente quando o material for exportado para o ProTools. A Apple diz que o recurso será restaurado ao FCP X.

Queixa: não é possível personalizar o número de quadros por segundo e nem o tamanho do quadro. Os montadores se queixam de não poderem mais especificar a quantidade de quadros exibidos por segundo e nem as dimensões dos quadros.

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Resposta: não é verdade. Ao criar um novo projeto é possível especificar qualquer número de quadros por segundo e qualquer tamanho de quadro desejado na própria caixa de diálogo 'Importar'. Pode-se também alterar o número de quadros e o tamanho deles quando o produto final for exportado - desde que o usuário esteja disposto a gastar outros US$ 50 no Compressor.

Queixa: não há suporte para câmeras digitais RED. As câmeras RED são o tipo preferido entre os cineastas; são capazes de gravar vídeos de altíssima resolução diretamente num disco rígido. Mas o FCP X não consegue importar seus arquivos.

Resposta: a Apple está trabalhando em parceria com a RED para criar um plug-in que vai conferir ao FCP X suporte nativo aos formatos RED. Enquanto isso, o usuário pode configurar sua câmera RED para filmar e capturar vídeos no formato QuickTime, facilmente importado pelo FCP X. Pode-se também usar o programa gratuito de conversão oferecido pela RED, que converte seus próprios arquivos para o formato Apple ProRes, preferido pelo FCP X por ser muito mais rápido e fácil de editar do que o formato nativo dos arquivos RED.

Queixa: nada de suporte aos cartões P2. As câmeras profissionais Panasonic registram o material em cartões de memória especiais chamados de P2. Os montadores estão acostumados a inserir o cartão P2 num leitor de cartões e importar diretamente o vídeo armazenado nele para o Final Cut.

Resposta: o FCP X importa os arquivos armazenados em cartões P2 sem problemas. O truque é usar o comando 'Importar da Câmera' (apesar de se tratar de um cartão), em vez de ir em 'Importar --> Arquivos'.

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Queixa: não há como pausar ou subdividir o 'Salvamento Automático'. O Final Cut Pro salva automaticamente o trabalho enquanto o usuário o altera. Com isto, os montadores reclamam da impossibilidade de salvar diferentes versões de um projeto conforme este evolui.

Resposta: um projeto pode ser duplicado a qualquer momento, efetivamente preservando uma cópia de sua versão atual. Basta clicar na 'Biblioteca de Projetos' e escolher 'Arquivo --> Duplicar Projeto'.

Queixa: não se pode especificar quais serão os discos de rascunho. Nas versões anteriores do Final Cut Pro, era possível escolher discos rígidos individuais para armazenar os arquivos de pré-visualização de um projeto. Mas, para aqueles que não sabiam o que estavam fazendo, as coisas podiam se complicar bastante a partir daí. Um exemplo: talvez um projeto fosse armazenado num determinado disco, e seus arquivos de renderização, em outro; então, mais tarde, o projeto poderia ser aberto quando o disco contendo os arquivos de renderização não estivesse disponível. Isto obrigaria o usuário a renderizar novamente o projeto todo.

Resposta: no FCP X, os arquivos de renderização são armazenados no mesmo disco que o projeto, evitando assim que sejam separados uns dos outros. Ainda é possível armazenar os arquivos em qualquer disco; isto é determinado pelo local escolhido para o armazenamento do arquivo do projeto.

Queixa: não se pode exportar para fitas. As fitas de vídeo estão em extinção - é difícil encontrar hoje em dia uma câmera que as aceite - e por isto o recurso não foi incorporado ao FCP X. Esta é uma das muitas características que mostram como o FCP X é claramente um software voltado para o futuro, e não para o passado.

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Resposta: pode-se comprar programas controladores de gravação em fita como o AJA VTR Exchange e o Black Magic Media Express. AJA e Black Magic são duas grandes fabricantes de placas periféricas adicionais para a edição de vídeo. Estes aplicativos funcionam com seus respectivos produtos.

Queixa: não é mais possível exportar arquivos EDL. Trata-se da sigla em inglês para Listas de Decisões de Montagem: um formato de exportação em vídeo único e texto ASCII criado há 30 anos que pode ser transferido de fita para fita, permitindo que a montagem de um projeto possa continuar em outro computador. O FCP não mais importa nem exporta arquivos neste formato.

Resposta: não há solução à vista. Várias empresas de edição de vídeo ainda usam os arquivos EDL, mas a Apple acha que este formato antigo deve ser aposentado. Há formatos muito melhores para a mesma finalidade (continue lendo).

Queixa: não se pode exportar arquivos AAF nem OMF. Trata-se de formatos sucessores do EDL. Eles permitem que o projeto seja exportado a outros programas, como Avid, Quantel ou Pro Tools, para uma edição mais refinada.

Resposta: O Automatic Duck Pro Export 5.0 acrescenta os recursos de exportação para AAF e OMF ao FCP X. Haverá outras empresas oferecendo plug-ins de exportação similares (incluindo o formato EDL, por sinal) depois que a Apple publicar seu arquivo XMS especificando os parâmetros de programação para o programa (API).

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Queixa: não é possível conectar o sistema a um monitor externo. Os profissionais trabalham com o Final Cut na tela do Mac, mas preferem assistir ao resultado da montagem numa segunda tela dedicada a esta função. Apesar de o Final Cut Pro X funcionar normalmente com uma segunda tela de computador - basta escolher 'Janela -- Mostrar Eventos na Segunda Tela' (ou 'Janela --> Mostrar Visualizador na Segunda Tela') - há queixas quanto à impossibilidade de ligar o sistema a um monitor de vídeo externo (TV), que oferece aos profissionais uma maior fidelidade de cor.

Resposta: como já ocorria, é necessário um Mac Pro com placa de saída de vídeo para que seja possível a conexão com um monitor de TV. A Apple espera que as fabricantes deste tipo de placa de vídeo logo ofereçam os drivers necessários para a integração de seus produtos ao FCP X; a AJA, uma das principais fabricantes deste tipo de periférico, já tornou disponíveis versões beta de tais drivers. A Apple está trabalhando em parceria com a Black Magic para desenvolver drivers para os dispositivos desta marca.

Queixa: não se pode especificar os parâmetros da exportação para QuickTime. No FCP7, o projeto podia ser exportado como filme do QuickTime, oferecendo ao usuário controle total sobre o número de quadros por segundo, o tamanho dos quadros, as preferências de compressão e assim por diante. O FCP X oferece ao usuário algumas opções predefinidas, mas não o controle completo sobre tais opções.

Resposta: o programa parceiro do FCP, Compressor, traz uma gama completa de opções de compressão. Trata-se de uma compra de outros US$ 50, e suas predefinições podem ser instaladas diretamente no FCP X.

Queixa: é impossível importar arquivos antigos do FCP.

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Resposta: como apontei em minha coluna, isto é verdade; os projetos antigos ficaram ilhados para sempre na versão mais antiga do FCP. Será necessário manter ambas as versões no disco rígido e usar o programa mais antigo para editar os projetos mais antigos. Quando o novo FCP é instalado, ele mantém intacta a instalação da versão anterior.

Resumo da história: a Apple seguiu a típica sequência da empresa: 1) lançar às pressas algo que seja popular e confortável de usar, ainda que cada vez mais ultrapassado, 2) substituir o produto por algo que seja ágil, moderno, vanguardista e incompleto, 3) passar os próximos 12 meses finalizando o produto, restaurando os elementos que faltaram.

Os montadores profissionais devem 1) aprender a distinguir entre aquilo que está mesmo faltando e aquilo que foi apenas deslocado para outra parte do software, 2) reconhecer que ainda não existe nenhuma obrigação de mudar para a nova versão do programa, 3) acompanhar o avanço do FCP X e seu ecossistema e, principalmente, 4) estar dispostos a imaginar que uma nova reformulação radical possa parecer estranha, mas pode, no longo prazo, se mostrar melhor do que a versão anterior.

*Publicado originalmente em 23/06/2011.

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