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BNDES prepara megapacote de R$ 24 bilhões em crédito empresarial e contará com suporte de fintechs

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Por Felipe Matos
Atualização:

 Foto: Fábio Motta/Estadão

Em um momento em que pequenas e médias empresas vêm relatando dificuldade no acesso a crédito emergencial para enfrentar a crise, o BNDES prepara um mega pacote de ações de apoio, que ultrapassa os R$ 24 bilhões.

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As principais reclamações das empresas têm sido na dificuldade de acesso ao crédito, já que ele é fornecido através de bancos de varejo parceiros do BNDES, que muitas vezes não oferecem as linhas governamentais, preferindo empurrar produtos próprios, mais caros. Outro problema está relacionado à necessidade das empresas oferecerem garantias reais, que muitas vezes não possuem, especialmente as empresas menores e startups.

Em conversas essa semana com fontes do banco, eu apurei que uma série de novas iniciativas estão sendo preparadas para atacar alguns desses problemas. A principal delas um novo Fundo Garantidor, de R$ 20 bilhões, que poderá cobrir pelo menos 80% das garantias exigidas para que empresas possam tomar crédito, tanto em linhas do próprio BNDES, como de outros agentes do sistema bancário. Estima-se que para cada R$ 1,00 garantido pelo fundo, até R$ 5,00 sejam concedidos em crédito, o que deve intejar R$ 100 bilhões para empresas de diversos tamanhos, com faturamento anual de R$ 360 mil a R$ 300 milhões. Os recursos para esse fundo virão do Tesouro Nacional e devem ser liberados através de uma Medida Provisória a ser editada nos próximos dias.

Outra novidade que deve afetar o ecossistema de startups é uma Chamada Pública em andamento para aportar R$ 4 bilhões em até 10 fundos de crédito, os chamados FDICs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios). A novidade é que fintechs e redes de maquininhas de cartão poderão da participar da chamada, com prazo aberto até dia 03 de junho. A iniciativa deve irrigar opções de crédito digital e descentralizado, criando potencialmente formatos mais inovadores de produtos financeiros para PMEs, inclusive para aquelas sem acesso ao sistema bancário tradicional. A possibilidade de participação das fintechs só foi possível após uma aprovação do Conselho Monetário Nacional, do BACEN, ocorrida há cerca de um mês, atendendo a pedidos que vinham de longa data das empresas do setor. O BNDES poderá aportar até 80% do valor dos FDICs, até o limite de R$ 500 milhões em cada um. Fontes do banco estimam que o processo de seleção e contratação deve ser concluído em um a dois meses, com a liberação dos recursos ocorrendo na segunda quinzena de julho.

Mais especificamente para o ecossistema de startups, o BNDES planeja ainda reforçar sua linha de fundos de venture capital, com novos FIPES planejados para o segundo semestre, como foco em médias empresas inovadoras de alto crescimento (que faturam acima de R$ 4,8 milhões anuais). Os fundos devem serem lançados nos moldes da linha Criatec, em que um gestor privado do mercado é selecionado para operá-los, mas ainda não há prazo estipulado ou valores estimados.

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Vale ressaltar que o BNDES já havia criado no começo de março uma linha de crédito de R$ 5 bilhões para PMEs com amplo prazo de pagamento, de 5 anos, dos quais 50% já foram desembolsados, com 7 mil empresas apoiadas. Para facilitar o acesso e munir as empresas de informação sobre as linhas disponíveis, o banco criou uma página em seu site, que informa quais bancos de varejo possuem o crédito, em cada cidade e a quais taxas. Segundo eu apurei, os bancos que mais têm concedido o crédito dessa linha são os pequenos e médios, como BTG, ABC, SINCRED, CREDICOR e SAFRA. A dica para o empreendedor é buscar pelo crédito longe dos grandes bancos, que por terem ampla base de clientes e disponibilidade de recursos próprios, têm menos incentivo para promover as linhas públicas.

As notícias são boas para startups e PMEs em geral, especialmente em relação à flexibilização na exigência de garantias. Contudo, um desafio que persiste é a adaptação dos critérios de concessão de crédito para a realidade das startups. Os bancos de varejo usam suas próprias réguas de análise, em geral, pensadas para empresas tradicionais e industriais, que possuem ativos, como maquinário e estoques, e que têm histórico estável de faturamento. Startups normalmente apresentam faturamento baixo, especialmente em suas primeiras fases, quando costumam ser bancados por investimentos de capital de risco. Além disso, operam buscando crescimento rápido, o que faz com a média de faturamento dos meses anteriores seja sempre muito inferior ao patamar atual. Em conjunto, essas características fazem com que os limites de crédito aprovados sejam pequenos ou inexistentes para essas empresas, algo que ainda precisa ser melhor endereçado pelo sistema bancário, de forma geral.

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