Foto do(a) blog

Tudo sobre o ecossistema brasileiro de startups

Google, Apple e Facebook podem virar bancos. E agora?

PUBLICIDADE

Foto do author Felipe Matos
Por Felipe Matos
Atualização:
Crédito da imagem: Pexels 

Em tempos de fintechrização, o gigante das buscas anunciou a criação de uma conta digital nos EUA. Na mesma semana, o Facebook também anunciou um serviço de pagamentos em sua plataforma de aplicativos, que incluem também Whatsapp, Messenger e Instagram.

PUBLICIDADE

Uma das perguntas de efeito mais feitas para empreendedores sobre possíveis ameaças às suas startups é "o que você vai fazer se o Google criar um concorrente para o seu negócio"? A gigantesca base de usuários ativos e a presença em suas vidas digitais dessas pessoas dão o tamanho do estrago que um movimento desses pode trazer para qualquer empresa iniciante.

Em tempos de fintechrização, quando não só inúmeras fintechs surgem e crescem, diversos negócios tradicionais e digitais caminham para tornarem-se fintechs ou para adicionar serviços financeiros digitais como parte relevante de seus negócios, a movimentação dos gigantes de tecnologia nesse setor deve ser acompanhada de perto pelo mercado.

Semana passada, a gigante das buscas anunciou os planos para oferecer serviços bancários nos EUA, em algo parecido com uma conta digital do Google. Muitos detalhes ainda não foram revelados, mas sabe-se que será um conta associada ao serviço Google Pay e que será criada em parceria com o Citigroup e com uma espécie de cooperativa de crédito ligada à Universidade de Stanford.

Esse é o segundo grande movimento da Google em relação a pagamentos, após a carteira digital Google Wallet, que associada ao Google Pay, permite pagamentos instantâneos por aproximação usando a tecnologia NFC e pagamentos rápidos em aplicativos e sites. Na semana passada, o Facebook também anunciou a criação de um sistema de pagamentos associado a sua plataforma de aplicativos de comunicação, que deve permitir transações financeiras entre usuários e empresas, que parece vir de forma independente da sua também anunciada criptomoeda Libra. A novidade se seguiu de uma campanha de marketing da plataforma chamada "Zero fricção", sugerindo que anúncios na plataforma passarão a permitir ações imediatas de pagamento pelos consumidores que interagirem com eles. Por fim, mais não menos importante, a Apple que foi pioneira no lançamento de sua waller de pagamentos - a Apple Pay - também já tem seu próprio cartão de pagamentos associado, o Apple Card, que segundo a empresa promete ser mais seguro, privado e conectado com os serviços da empresa.

Publicidade

Mas o que toda essa movimentação significa para startups do setor? Ainda é cedo para uma análise completa, mas arrisco aqui alguns palpites sobre pontos fortes e desafios para as gigantes e oportunidades para as empresas já estabelecidas nesse cenário, sob alguns aspectos, que compartilho a seguir.

Penetração e credibilidade

Evidentemente, a maior vantagem das gigantes reside em seus bilhões de usuários, que já utilizam e confiam nos serviços das empresas, A capacidade de lançar um novo produto ou serviço que rapidamente alcance milhões de pessoas é um de seus grandes trunfos, mas ao mesmo tempo, seu calcanhar de aquiles. Diferente de uma startup, que começa pequeno e pode errar e ajustar o modelo à medida que cresce, um serviço desse porto de um gigante já nasce grande e com atenção do mercado. Um mal começo pode custar a credibilidade das gigantes e por isso, seus lançamentos nessa área tendem a ser mais lentos e o roll-out deve acontecer aos poucos em cada região onde as empresas atual. Para startups em outras regiões é uma oportunidade de crescer mais rápido, tornando-se no futuro um competidor forte ou um player local relevante para integração com o ecossistema dos gigantes.

Privilégios de acesso e usabilidade

Outro ponto importante e controverso é sobre o privilégio que o controle das plataformas e sistemas operacionais que quase todos nós utilizamos diariamente dá a um sistema de pagamentos embutido nelas. A carteira de pagamentos do Google ou Apple estará embutida no sistema operacional Android e iOS, o que vai permitir uma experiência de uso muito mais fluida, rápida e integrada. Por exemplo, vai bastar um movimento simples como apertar um botão enquanto desbloqueia o celular com biometria para ativar o pagamento por aproximação. O problema aqui é que um competidor que não esse nível de privilégio de acesso ao sistema operacional não poderá competir em pé de igualdade com essas plataformas, o que possivelmente pode gerar questionamentos e até ações anti-truste. Nesse caso, startups de pagamento deveriam tentar se integrar ao sistema de pagamentos dos gigantes para tirar vantagem dele.

Publicidade

Integração ao ecossistema de pagamentos e regulação

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Diferentemente do mundo dos aplicativos puramente digitais, como em busca, redes sociais e software puro, o mundo financeiro tem uma série de particularidades. Trata-se de um mercado regulado, cujos atores devem possuir uma série de licenças e requisitos para operar. Cada país tem moedas  diferentes, com regras específicos e ecossistemas diversos. Por isso, as gigantes terão que se adaptar localmente se  integrar a cada ecossistema de pagamentos local. No Brasil, por exemplo, a penetração de cartões de crédito é baixa, mas o sistema bancário utiliza largamente o boleto, que não existe em outros mercados. Essa necessidade de integração com os ecossistemas de pagamento local certamente irá gerar oportunidades para empresas que se proponham a ser plataformas para esse fim. Acredito ainda que surgirão plataformas agregadoras, que farão a ponte entre sistemas de pagamento existentes e as plataformas dos gigantes, que estão por vir. Aqui é onde os bancos estabelecidos ainda terão relevância e será interessante observar o jogo de forças que deverá surgir entre os players.

Dados, dados e mais dados

O Google sabe tudo o que você busca e os lugares onde você vai com seu smartphone Android.  O Facebook conhece como ninguém os seus gostos,  preferências e sua rede de relacionamentos. Imagine todos esse conhecimento combinado com dados sobre cada coisa que você compra e seu saldo bancário? A capacidade desses dados gerarem publicidade ainda mais direcionada para anunciantes é gigante, por outro lado, traz diversos questionamentos sobre os limites de privacidade quanto ao uso de dados pessoais. Nesse ponto, a Apple parece se diferenciar dos demais, ao dizer que não usará dados financeiros dos usuários para qualquer outra finalidade. Essa combinação de big data é sem dúvida uma das razões para a corrida pelo acesso à carteira dos usuários e será interessante ver como o uso desses dados se dará em um mundo pós Cambridge Analytica, onde as preocupação com privacidade das pessoas são crescentes.

Unidos venceremos?

Publicidade

Para startups, tendo a enxergar nesse cenário mais oportunidades que ameaças. A menos que você seja muito grande e estabelecido, não terá muito a perder com a entrada dos gigantes nesse mundo, pelo contrário. Carteiras digitais de gigantes serão oportunidades de distribuir seu produto ou serviço de forma ainda mais universal, com possibilidade de receber pagamentos de forma digital de forma mais ágil e simples. É provável também que as empresas invistam recursos para distribuir a novidades, portanto, integrar-se a elas pode ser uma forma de pegar carona. Algo como ser um dos primeiros aplicativos nas app stores logo que elas começaram. Com toda essa disputa pela carteira do usuário, devem sobrar promoções e ofertas aos consumidores, beneficiando a todos nós.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.