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Tudo sobre o ecossistema brasileiro de startups

O ano da regulação: tendências das startups para 2020

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Por Felipe Matos
Atualização:
 

Se o ano de 2019 pode ser considerado o melhor para as startups no Brasil, 2020 se inicia com grandes expectativas. Como faço todo ano, publico aqui uma lista das principais tendências que acredito que deverão estar presentes neste ano no ecossistema de startups nacional.

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Acredito que o grande destaque de 2020 será no campo da regulação. Teremos o Marco Legal das Startups, a entrada em vigor a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e o início do funcionamento do sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central, todas ações da esfera de regulação que podem gerar impactos muito relevantes para o ecossistema de startups no país.

Teremos um Marco Legal das Startups

Em 2020 é esperado o Marco Legal das Startup no Brasil, que deverá trazer novidades importantes para simplificar a facilitar a criação, gestão e captação de investimentos por essas empresas no país. Dentre elas, está a criação de uma modalidade de sociedade anônima simplificada e de abertura digital, modernizando o processo de abertura e resolvendo questões de responsabilidade dos sócios investidores e custos de publicações. Hoje, as sociedades limitadas são consideradas inadequadas para investidores e as anônimas, caras e de gestão complexa demais para empresas iniciantes. Há pontos esperados ainda para a ampliação do tempo de contratos temporários de trabalho em startups e incentivos para compras públicas, permitindo que o governo compre mais serviços de startups.O pacote deve ainda aumentar a segurança jurídica para investimentos e permitir que recursos de empresas com investimento obrigatório em P&D&I (como concessionárias públicas e empresas beneficiadas pela Lei de Informática) possam ser direcionados para fundos de investimento e ações de promoção e educação voltadas ao ecossistema de startups.

Privacidade ganhará mais destaque

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A LGPD deverá entrar em vigor em agosto de 2020 e possivelmente no primeiro semestre desse ano, deverá iniciar a operação da Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD). Há grande expectativa sobre como será a efetiva atuação da agência, que terá o poder de fiscalizar a multar empresas que infringirem a lei com mau uso dos dados pessoais que possuírem. Trata-se de uma lei ampla e geral, que atingirá todos os setores, com impacto especial nas empresas digitais, que coletam, armazenam e processam vasta quantidade de dados. Elas deverão ser mais transparentes sobre as finalidades de uso desses dados, bem como solicitar o consentimento do consumidor de forma mais clara e frequente. Deverão ainda prover meios para que os consumidores consultem que dados pessoais seus estão em poder da empresa, assim como garantir o direito ao esquecimento, ou seja, que tais dados sejam apagados quando solicitado pelo consumidor. Se, por um lado, serão necessários esforços das empresas para se adequarem à lei, por outro, surgirão novas oportunidades de negócios para empresas que construírem ferramentas mais aderentes à nova realidade regulatória, com foco na proteção à segurança e privacidade de dados pessoais. Assim, o tema da privacidade ganhará mais destaque e estará mais presente nos produtos e serviços digitais e nos discursos das startups e grande empresas.

Pagamentos instantâneos impulsionarão o mobile payment

Com o início da implantação do sistema de pagamentos instantâneos, gerido pelo Banco Central, no qual todas as instituições financeiras deverão estar integradas, veremos uma aceleração dos pagamentos móveis, utilizando códigos QR e outras tecnologias sem fio, como NFC e reconhecimento biométrico. Acredito que ainda leverá alguns anos para esse tipo de pagamento se popularizar fortemente, mas a início dos pagamentos instantâneos deve impulsionar essa tendência em 2020. Há aqui, um efeito em toda a economia digital, já que pagamentos instantâneos devem reduzir o custo de transações como DOC e TED e facilitar o fluxo e divisão de recursos em todo o sistema de pagamentos, com impacto em marketplaces e e-commerce. Pagamentos instantâneos associados à facilidade de abertura de contas e carteiras digitais devem, a médio prazo, matar o boleto bancário, dinamizando o comércio eletrônico como um todo.

Sim, continuaremos vendo novos unicórnios - e cada vez mais coelhos

As empresas bilionárias continuarão a aparecer. Aliás, já começaram, com o anúncio fresquinho da Loft, que tornou-se o primeiro unocórnio de 2020 logo nos primeiros dias do ano. Essas empresas são resultado dos últimos anos de investimento no crescimento de startups nacionais e como esse investimento cresceu bastante nos anos passados, deve crescer também o número de novos unicórnios. Fica a dúvida sobre o quão acelerado será esse crescimento, que na minha visão, dependerá da quantidade de capital de risco disponível para os estágios mais avançados de crescimento. Hoje, poucos fundos de investimento, quase todos internacionais, - com destaque para o Softbank - atuam nessa faixa no país. Ao mesmo tempo, a região da América Latina tem alto potencial de crescimento desse tipo de investimento se comparado ao resto do mundo. Uma melhora na economia pode animar mais investidores internacionais e locais, aquecendo o mercado e, por consequência, aumentando o número de novas empresas com avaliações bilionárias. Mais do que isso, em um mundo "pós WeWork", veremos uma presença e valorização cada vez maior dos chamados coelhos (do inglês, RABBIT: Real Actual Business Building Interesting Tech,  ou traduzindo: Negócio real que constrói tecnologias interessantes). São empresas menos propensas a crescer rapidamente sem dar lucro, o oposto dos unicórnios tradicionais. Seu crescimento é lento, porém constante. Controlam seus gastos, não queimam dinheiro com frivolidades e focam em gerar lucro. Ainda que não sejam multibilionárias, a presença em quantidade dessas empresas deverá consolidar de vez a economia das startups no país.

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Consolidações se tornarão mais frequentes

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Com tantos unicórnios e startups em crescimento e mais investimentos fluindo para o setor, associado a um momento de crescimento da economia e retomada da indústria, deveremos assistir a uma intensificação de fusões e aquisições, tanto puxados por startups buscando se fortalecer, como por aquisições de grandes empresas nacionais e estrangeiras, como estratégia de defesa ou para entrar no mercado local.

Indústria, Saúde, Educação e Govtech serão setores de destaque

Se 2019 foi o ano das fintechs, em 2020 elas continuarão tendo destaque, mas veremos uma diversificação maior nos setores das empresas, como ênfase especial em startups voltadas para os setores industriais e para as áreas da saúde e educação, que representam mercados gigantescos no país e deverão estar mais abertos para inovações das startups nesse ano. Como boa parte do próprio mercado de saúde e educação é puxado pelo setor público, as novas regulações de compras públicas deverão puxar esses setores, assim como impulsionar as govtechs, startups focadas em vender para o governo.

O maior desafio de 2020: contratar gente qualificada

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Nunca tivemos tantas startups como agora e o volume e tamanho dessas empresas tende a crescer em 2020. Infelizmente, a disponibilidade de mão-de-obra qualificada, que já era pequena no país, não deve crescer na mesma velocidade. A busca por profissionais para preencher vagas especialmente nas áreas de desenvolvimento de tecnologia, gestão digital e ciência de dados, deve inflacionar salários e poderá se tornar um gargalo para o crescimento acelerado. Já vejo empresas buscando profissionais fora do país e abrindo sedes de desenvolvimento longe dos grandes centros, em busca de talento. Aqui vivem também diversas oportunidades, em especial em setores como recrutamento, educação, automação e prestação de serviços relacionados, que deverão lucrar nessa onda - muito embora muitos dos efeitos de investimentos dessa natureza só sejam sentidos no longo prazo.

E você? O que acha dessas tendências? Concorda? Discorda? Sentiu falta de outros pontos? Deixe sua opinião nos comentários.

Correções

O post foi atualizado para incluir o fato do ano de 2020 já ter começado com seu primeiro unicórnio, a Loft.

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