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Felipe Matos

Precisamos falar sobre Fake News e Eleições no Brasil

23/04/2018 | 19h43

  •      

 Por Felipe Matos

Historicamente, notícias falsas ou, digamos, exageradas, sempre existiram. Seja para sabotar um oponente, manipular a opinião pública sobre um determinado tema, simplesmente para gerar atenção ou ainda como mero meio de “trolagem”, boatos são criados e propagados. Nos últimos anos, contudo, o crescimento das mídias sociais e da adoção de dispositivos móveis ampliaram muito a dimensão e o alcance desse tipo de conteúdo. Basta um clique para compartilhar a informação para milhares de seguidores, que estão logo ali, no celular.

Vejamos o exemplo recente da ex-vereadora Marielle, assassinada no Rio de Janeiro. Enquanto sua bárbara execução causava comoção, um grupo espalhou a informação falsa de que ela era ex-mulher de um traficante e essa “notícia” correu rapidamente os quatro cantos do Brasil. Enquanto um boato se espalha rapidamente, a informação de que trata-se de uma mentira costuma ter propagação bem menos explosiva. Em poucas horas, mancha-se uma reputação, cuja reparação não é tão simples.

Já seria ruim se o uso desse tipo de artifício fosse apenas para difamar pessoas. Porém, e a coisa fica pior quando se pensa no impacto político que esse tipo de conteúdo pode ter em uma eleição. O próprio Facebook está em maus lençóis, não tanto apenas pelo vazamento de dados privados de milhões usuários,  mas pelo fato de esses dados terem sido usados por uma empresa de alta tecnologia para traçar estratégias extremamente eficazes de disseminação de notícias falsas, com o objetivo explícito de alterar o resultado das eleições presenciais norte-americanas. E, pelo que parece, também do plebiscito do Brexit, no Reino Unido, entre outros.

O Caso Cambridge Analytica

O caso foi descoberto porque um dos ex-funcionários da empresa Cambridge Analytica, que faz campanhas políticas em mídias digitais, denunciou publicamente algumas de suas práticas. Primeiro, eles criaram um joguinho de teste de personalidade para Facebook, desses do tipo “Descubra que super-herói você é”. Ao clicar nesse tipo de joguinho, a maioria dos usuários não sabia, mas estava compartilhando todos os seus dados de seus perfis no Facebook com a empresa. Dados como sexo, idade, localização, lista de curtidas e toda sua lista de amigos. Estava tudo descrito nos “Termos de uso do serviço”, aqueles que quase todo mundo aceita sem ler. O caso foi ainda mais grave porque a empresa coletou não só as informações dos usuários que clicaram no joguinho, mas também dos seus amigos e dos amigos desses amigos (e essa parte os termos de uso do Facebook não permitiam). Resultado: 87 milhões de usuários tiveram seus dados coletados (incluindo mais de 440 mil brasileiros, pelo que se reportou).

Mas não pára por aí: a Cambridge Analytica usou algoritmos sofisticados de inteligência artificial para identificar padrões de comportamento e perfis de pessoas com certas preferências políticas e alta predisposição para compartilhar determinados tipos de informações. Então, usando um arsenal de notícias e perfis falsos, a empresa bombardeava essas pessoas com anúncios e mensagens direcionadas, levando-as a compartilhar e endossar determinadas informações, que atingiram níveis alarmantes de propagação, a ponto de muitos analistas dizerem que foi responsável pela decisão nos apertados resultados eleitorais que levaram Donald Trump à presidência dos EUA. Não é à toa que o próprio Mark Zuckerberg, o todo-poderoso da rede social, foi convocado para prestar esclarecimentos ao Senado americano.

No Brasil

Voltando para o Brasil, estamos em ano de eleição, num clima político bastante hostil, com polarização e constante troca de farpas virtuais pelas redes. Infelizmente, também não podemos dizer que vivemos num país com um bom nível de educação, em que boa parte da população tenha discernimento crítico para distinguir uma notícia falsa de outra minimamente apurada e crível. Pesa ainda o fato das notícias falsas serem feitas para gerar atenção e compartilhamento, alimentando o desejo de “estar certo” e “justificar o seu lado”, que fica mais latente nesse período. Esse parece ser o cenário perfeito para a proliferação de fake news como pragas no período eleitoral do Brasil. Não so em redes como Facebook e Twitter, mas também no aplicativo de mensagens onipresente nos celulares de quase todos os brasileiros: o Whatsapp (que também pertence ao Facebook), que deve ser uma das principais ferramentas para a disseminação de conteúdo falso.

Diante da catástrofe iminente, com resultados potencialmente nefastos para as eleições, pouco parece estar sendo feito para combater de forma efetiva o problema. Alguns empreendedores e ativistas da área de tecnologia, contudo, tem se movimentado. O Instituto SEB, em parceria com empresas de mídia, academia e cerca de 100 entidades ligadas ao movimento “Sou Responsável”, coordenado pela OAB/SP, lançou um prêmio de R$ 100 mil para apoiar tecnologias que ajudem a combater o problema. A tecnologia premiada foi o robô Fatima, desenvolvido pela agência de fact-checking Aos Fatos, em parceria com a empresa de inteligência artificial Estilingue. Ele será usado, com apoio da Microsoft e de um grupo de pesquisadores da ESPM, para indicar quando uma notícia aparentar ser falsa. Para verificar a veracidade de um conteúdo, contudo, o usuário deveria consultar a ferramenta, que por enquanto só seria capaz de avisar sobre fake news de forma pró-ativa através do Twitter – e ainda assim, somente após a publicação do conteúdo falso. Há também algumas iniciativas na área de fact-checking, como a agência Lupa, mas com abordagens similares, cujo alcance parece ser ainda muito limitado.

Enquanto nos EUA e Europa há diversas startups construindo soluções, como a Factmata, NewsGuard e dezenas de outras, que já receberam dezenas de milhões de dólares em investimentos, pouco está sendo feito por aqui ne mesma direção.

Quais os caminhos para resolver o problema?

Trata-se de um problema complexo e multifacetado, com elementos éticos, comerciais, ideológicos e tecnológicos. Acredito que, embora toda iniciativa na direção de combater o problema seja bem-vinda e necessária, como  a criação de agências independentes de fact-checking e campanhas de conscientização, só teremos um chance real de melhora quando utilizarmos alta tecnologia, com envolvimento direto e contundente dos principais canais de consumo de informações da internet. Estou falando especialmente de Facebook, Twitter e mesmo do Google, que controlam os principais meios de disseminação, busca e consumo de conteúdo online.

Sabe quando você está prestes a entrar em um site inseguro e recebe um aviso no navegador? Quando o site de e-commerce aparece sem o “cadeado se segurança”? Imagine se seu navegador pudesse informar caso a página em que você se encontra tenha sido listada como fonte de informação duvidosa ou falsa por agências independentes de fact-checking? Ou que o algoritmo do Facebook reconheça quando uma publicação segue um padrão anormal de compartilhamento e sinaliza automaticamente para checagem acelerando sua verificação por essas instituições? Imagine que antes de você clicar em “Compartilhar”, pudesse ser informado que aquela página tem mais de 70% de chances de conter informações falsas, segundo o algoritmo de inteligência artificial?

Enquanto as empresas não se movem, eu espero que alguém crie logo um plugin para o navegador com essa função. #ficaadica

É claro que nenhuma solução será perfeita. Há subjetividades nas análises, poderá haver julgamentos incorretos e alguns podem até alegar o ataque a direitos de liberdade de expressão. Isso sem contar que um movimento como esse pode mexer no bolso de certos produtores de conteúdo, ao modificar potencialmente padrões de audiência. Entretanto, acredito que os malefícios gerados ao não se atacar de frente o problema superam muito aqueles que virão junto a possíveis soluções.

O que diz o Facebook

O Facebook afirma estar fazendo sua parte. Mudou as políticas de acesso a dados de usuários por parte de aplicativos e vem aplicando medidas mais restritivas no controle de como as informações privadas de seus usuários são compartilhadas. Procurada, a assessoria de comunicação da empresa no Brasil listou uma série de atividades realizadas pela empresa desde o ano passado, com o objetivo de tornar mais fácil a identificação das fontes de conteúdos, a denúncia de abusos, ou para permitir que usuários deixem mais facilmente de seguir páginas e pessoas. A empresa afirma também ter apoiado iniciativas nacionais e internacionais na área de fact-checking e enviou ao blog a seguinte nota:

“As pessoas querem ver conteúdo autêntico no Facebook, e nós também. Estamos trabalhando para reduzir os incentivos econômicos por trás de notícias falsas e desenvolvendo novos produtos para reduzir a propagação de conteúdos enganosos na plataforma. Também temos apoiado projetos de especialistas no Brasil para ajudar as pessoas a escolher as notícias que elas leem. Vamos continuar a fortalecer nossa plataforma para garantir que os brasileiros encontrem informações autênticas e relevantes, o que é ainda mais importante em um ano eleitoral”

PS: Procurada, a assessoria do Twitter no Brasil até o fechamento deste post não havia respondido.

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Sobre o Blog

Empreendedor em série desde os 14 anos, Felipe Matos já apoiou mais de 10 mil startups ao longo de sua carreira. É fundador da aceleradora Startup Farm e diretor executivo do grupo Dínamo, que luta por melhorias em políticas públicas para startups. É conselheiro de diversas startups e de organizações nacionais e internacionais, como a Associação Brasileira de Startups e a rede Startup Nations. Foi diretor do programa Start-Up Brasil, do governo federal, e é cofundador da gestora de venture capital Inseed Investimentos e do Instituto Inovação. Neste blog, Matos vai contar histórias sobre o ecossistema brasileiro de startups.

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