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O mundo ainda não é tão conectado quanto parece

Celular leva a web para regiões carentes

Por Filipe Serrano
Atualização:

Celular leva a web para regiões carentes

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* Publicado no 'Link' em 4/3/2013.

Embora a tecnologia esteja cada vez mais acessível no mundo, ainda assustam alguns números como os que foram divulgados na semana passada pela União Internacional de Telecomunicações (UIT) - e que mostram que ainda estamos longe de viver em uma rede global, conectada, como às vezes sentimos.

Segundo as estimativas da organização, que faz parte da ONU, até o fim de 2013 ainda 60% da população mundial de 7,1 bilhões de pessoas não terá acesso à internet. O cenário é ainda mais discrepante quando se compara a situação entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Enquanto na Europa 75% das pessoas terão acesso à web, na África o número será de 16%. A região Ásia-Pacífico, embora abrigue mais da metade das linhas de celular do planeta (6,8 bilhões), também tem uma população carente de conexão. Apenas 36% dela estará online. As Américas têm um horizonte um pouco melhor: 61 a cada 100 habitantes terão acesso à rede.

A situação é parecida quando se compara a quantidade de residências com internet fixa: 90% das 1,1 bilhão de casas que não estão conectadas ficam em países em desenvolvimento. Na África, são apenas 7% de residências com uma rede fixa; na Europa, 77%.

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Além do acesso, a velocidade da banda larga também é um problema. No Brasil, por exemplo, pouco mais de 20% das conexões são de 10 megabits por segundo, enquanto em muitos países da Europa tal velocidade representa mais de 50% das conexões. Em países como China, Coreia do Sul e Japão, o número fica próximo a 90%.

É claro que a adoção tecnológica já foi muito pior. Há dez anos, apenas 10% da população mundial estava na internet, como mostram os dados da UIT, divulgados para coincidir com a realização da maior feira da indústria de telecomunicações, o Mobile World Congress.

A evolução, ainda que gradual, ocorreu ao mesmo tempo em que caíram os preços dos serviços de banda larga e de telefonia móvel. A UIT calcula que entre 2008 e 2012 houve uma redução de 82% no custo da internet fixa no mundo. "À medida que os serviços se tornam mais acessíveis, a banda larga fixa mostra um forte crescimento", diz o órgão no relatório. "Mas, ainda existe uma grande lacuna entre as taxas de adoção da banda larga, com 6,1% nos países em desenvolvimento (e menos de 1% na África subsaariana), comparado a 27,2% nos países desenvolvidos."

São principalmente as barreiras econômicas que impedem o aumento ainda maior do acesso à tecnologia. As assinaturas de planos de internet móvel, por exemplo, cresceram muito nos últimos anos. De 2007 para 2012, elas saíram de 268 milhões para 2,1 bilhões. Ainda assim, nos países em desenvolvimento, o que inclui o Brasil, o preço desse tipo de serviço ainda é muito maior do que na Europa ou nos Estados Unidos. Segundo o órgão, o custo dos planos de dados para celular representa entre 1,2% e 2,2% do PIB mensal per capita nos países desenvolvidos, enquanto no restante do mundo o valor da conexão móvel fica entre 11,3% e 24,7%.

"Tivemos um avanço extraordinário nos primeiros 12 anos do novo milênio, mas ainda temos de avançar muito", disse o secretário-geral da UIT, Hamadoun I. Touré, durante a feira. "Dois terços da população mundial - cerca de 4,5 bilhões de pessoas - ainda estão offline. Isso significa que dois terços das pessoas do mundo estão trancadas para fora da maior e mais valiosa biblioteca."

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Para a UIT, é a internet móvel, e não a fixa, que provoca avanços nas regiões mais carentes do planeta. Em apenas três anos, a população da África com acesso à web móvel subiu de 3% para 11%. Algo parecido é visto também em regiões em desenvolvimento, que já têm uma quantidade maior de planos de dados do que o mundo desenvolvido.

Os desafios ainda são grandes. E há um longo caminho a percorrer para que toda a população tenha fácil acesso à informação e ao conhecimento. Quando chegarmos lá, aí sim saberemos o real impacto da tecnologia digital. Estamos só no começo.

- o Coluna anterior 18/2/2013: O que o discurso de Obama diz sobre o futuro da tecnologia

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