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Máquinas e aparelhos

A era do vídeo

Para muita gente, a palavra escrita não é o modo de expressão mais confortável

Por Camilo Rocha
Atualização:

Com dois anos de idade, minha filha em breve já saberá fotografar e filmar. Digo isso não com orgulho, mas estarrecido. Apesar do uso do celular ser restrito, ela já o manejou o suficiente para entender algumas coisas sobre o funcionamento da câmera. Para se ter uma ideia, outro dia tirou sua primeira selfie.

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Crianças nascidas na era do smartphone terão tanta familiaridade com recursos de foto e vídeo que será como andar para a frente. Todo um repertório técnico que era prerrogativa de especialistas até pouco tempo atrás (luz, posição, enquadramento, ângulo) vai se tornando absolutamente banal.

Muita coisa já mudou em termos de costumes e comportamento com a disseminação da fotografia via celular. Agora é a vez do vídeo tomar conta. Com a melhoria na conexão e ferramentas de hardware e software cada vez mais fáceis de operar, a imagem em movimento caminha para se tornar o modo de comunicação favorito da internet.

Para a maioria, usar vídeo para conversar ou expressar uma ideia faz mais sentido do que escrever. Ele registra com fidelidade a maneira como nos comunicamos no dia a dia: com fala, gestos e expressões faciais. O procedimento é mais direto e, na maior parte das situações, mais prático do que digitar.

A escrita deixará de ser a principal via da comunicação online. Isso será positivo. Para a maioria, a palavra escrita não é a manifestação do pensamento mais confortável ou natural. Antes da internet, em que momentos da vida escrevíamos? Cartões postais, recados, documentos, provas... certamente não a toda hora, para qualquer assunto. Com a rede, fomos forçados a escrever como nunca, e cada vez mais. E-mails, mensagens, posts, comentários, twits, chats, respostas, WhatsApps. Novas linguagens se desenvolveram a partir do batuque de bilhões de novos escritores ao redor do mundo, com gírias, expressões e símbolos próprios.

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Há quem defenda que nem comunicação escrita tudo isso é. É o caso da escritora e pesquisadora An Xiao Mina no artigo "A cultura digital é como a escrita da cultura oral", publicado no Medium. De acordo com a pesquisadora, a explosão das redes sociais impôs um padrão de comunicação que tem muito mais a ver com a conversa do dia a dia do que com a escrita formal. Para An, selfies, fotos de comida, vídeos de gatos só são fúteis ou narcisistas se vistos sob a ótica da cultura escrita. Se pensarmos em tudo isso como cultura oral, elas fazem sentido, pois dizem respeito a assuntos que teriam lugar em uma conversa cotidiana. O mesmo vale para uma linguagem escrita sem preocupação com regras gramaticais e cheia de neologismos, corruptelas e códigos. No vídeo, essa cultura oral encontra uma moldura bem mais apropriada.

As plataformas correm para atender a demanda. O Facebook vem privilegiando o alcance de posts com vídeo, além de ter estreado a função de chamadas em vídeo no Messenger. O Twitter comprou em janeiro por supostos US$ 100 milhões o Periscope, aplicativo de transmissão de vídeo em tempo real.

Os dois aplicativos mais comentados de 2015 são plataformas que convidam o usuário a ser criativo com vídeo: o já citado Periscope, baixado 1 milhão de vezes em dez dias, e o Dubsmash, que permite dublagens em cima de sons pré-gravados e alega ter hoje 20 milhões de usuários.

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