A lua de mel foi intensa, mas o fogo deve baixar de agora em diante. Depois de anos de exuberância, a venda de tablets dá claros sinais de cansaço. Se no Brasil, no ano passado, elas tinham crescido acima dos 120%, a expectativa para 2014 é de 35,4%, de acordo com a consultoria IDC.
Globalmente, a tendência se repete. No fim da semana passada, a mesma IDC reajustou sua projeção de vendas globais da categoria para o ano de 2014. Dos 260 milhões de peças vendidas da previsão anterior, agora a consultoria fala em 245,4 milhões. Isso dá um aumento de 12,1% nas vendas ano a ano, um número bem mais humilde que os 51,8% de 2012 para 2013.
O astro da categoria está em fase decadente. A última demonstração de ótimos resultados da Apple teve como nota dissonante o iPad, que registrou queda de 16% nas vendas.
Não faz quatro anos que o primeiro iPad surgiu no cenário, inventando toda uma nova categoria e motivando fabricantes de todos os tamanhos e procedências a se aventurarem na fabricação de computadores portáteis sem teclado e com tela de toque.
No Brasil, uma indústria de panelas de arroz conhecida como Doce Lar se reinventou como Digital Life (DL), e se tornou uma das maiores vendedoras de tablets do País.
Algumas coisas podem ajudar a entender o que está acontecendo (que, vale lembrar, não é ainda um declínio, mas um crescimento menor). Em primeiro, o fator novidade do produto esfriou. Em mercados mais desenvolvidos, fala-se até em saturação, que é quando todo mundo que tinha que comprar um produto pela primeira vez já o fez.
Esse movimento aconteceu apenas nos últimos três anos e o tempo de reposição de um tablet é diferente do de um smartphone. Muita gente troca de celular todo ano. É muito mais raro encontrar quem faça isso com tablets.
Mas não há nenhuma garantia que daqui a pouco teremos novos picos, puxados pela reposição. A ascensão dos smartphones de tela imensa promete atrapalhar o futuro desempenho dos tablets. Vários modelos já romperam a barreira das seis polegadas de tela, sendo que a Samsung anunciou para breve um modelo com sete polegadas, que é exatamente o tamanho mais popular de tela de tablet (como a do iPad Mini, por exemplo).
Esses smartphones, além de trazerem armazenamento, câmeras e processadores mais poderosos que a maioria dos tablets, ainda têm a vantagem de conseguirem ligar para a pessoa amada.
Esse movimento foi destacado pelo IDC, que lembrou que o possível smartphone de 5,5 polegadas que especula-se que a Apple deve lançar este ano poderá prejudicar ainda mais as vendas do iPad.
Existe também muito mais informação e experiência de uso acumulada sobre os tablets. Com isso, muitos consumidores já chegaram à conclusão de que esse tipo de produto não serve para suas necessidades e, para uma porção de tarefas, não funciona como substituto do PC/laptop. Eu mesmo nunca tive a menor vontade de escrever estas linhas batucando em uma tela touch.