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Máquinas e aparelhos

O acesso das crianças à tecnologia pede cuidados

Por Camilo Rocha
Atualização:

Michael Kooren/Reuters

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Semana passada, foi noticiado que a nova assistente de voz para aparelhos da Microsoft, Cortana, estava proibida de ter contato com crianças com menos de 13 anos nos Estados Unidos. Quem não deixa é o governo americano, através de sua Lei de Proteção da Privacidade Online da Criança (Coppa). A legislação restringe a coleta de informações de crianças sem a autorização dos pais, que é exatamente o que a Cortana faz para poder "conversar".

A vulnerabilidade de crianças diante de potenciais perigos da internet motiva leis similares ao redor do mundo.

Hoje, quando se fala em crianças e tecnologia, as preocupações quase sempre giram em torno dos dados e do conteúdo. Mas, a julgar por sucessivos alertas de especialistas, talvez fosse uma boa ideia dar mais atenção para o próprio acesso a aparelhos como PCs, smartphones e tablets.

A Academia Americana de Pediatria, uma das maiores entidades de classe daquele país, diz que crianças entre 0 e 2 anos não deveriam ter nenhuma exposição à tecnologia. Para outras faixas etárias, os limites recomendados chegam a duas horas diárias apenas. Representantes da Sociedade Brasileira de Pediatria já fizeram eco às recomendações de seus colegas dos EUA, sugerindo que crianças não tenham TV ou computador dentro do quarto.

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Poucos estão ouvindo. A ONG norte-americana Common Sense Media, especializada em questões da família, divulgou ano passado que 38% das crianças com menos de dois anos nos EUA já usam dispositivos móveis. Não há números para o Brasil, mas uma pesquisa recente da empresa de segurança AVG mostrou que 97% dos meninos e meninas entre 6 e 9 anos e que têm pais que acessam a internet também estão conectados. Mais: a média de horas que nossos pequenos passam no Facebook é o triplo da média mundial. Pode-se inferir portanto que as crianças brasileiras também são usuárias frequentes de aparelhos eletrônicos.

Embora ainda falte comprovação científica de longo prazo dos efeitos desse uso prolongado, muitos especialistas acham melhor não pagar para ver. O psicólogo brasileiro André Trindade sugeriu em artigo recente para a Folha de S. Paulo que habilidade motora e postura são prejudicadas "enquanto as mãos e o olhar estão presos em um tablet por horas a fio". O educador americano Kim John Payne, autor do livro Simplicity Parenting, alerta para o excesso de estímulos despejado por aparelhos eletrônicos em cérebros que já têm muito trabalho decifrando o mundo que estão em processo de descobrir.

Não se trata de deixar as crianças à margem de uma sociedade cada vez mais tecnológica. Tablets, smartphones e PCs podem e devem estar presentes no lazer e na educação. Mas é preciso moderação. A recomendação também vale para fabricantes e varejistas. Uma extensa consulta em sites de lojas e de marcas encontrou muitos modelos direcionados a crianças. Em nenhum momento, porém, qualquer orientação sobre tempo de uso ou idade mínima.

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