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Máquinas e aparelhos

Os vestíveis estão nus

Passado o oba-oba inicial, o Apple Watch parece ser um produto destinado à irrelevância

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Por Camilo Rocha
Atualização:

Reprodução

 Foto: Estadão

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Esses tempos o site TechCrunch publicou uma avaliação do Apple Watch que impressiona pela eloquência. A resenha não tem palavras e se resume a um GIF animado. Na imagem, alguém atira o relógio dentro de uma gaveta com fios e carregadores velhos. A gaveta é fechada com veemência, dando a impressão de que assim ficará por um bom tempo. O site conseguiu expressar com precisão o sentimento que ronda o Apple Watch, passado o oba-oba inicial: é um produto destinado à irrelevância.

Uma pesquisa da Slice Intelligence divulgada na semana passada indicou que as vendas do produto despencaram desde seu lançamento. Logo que saiu, em abril, a Apple estaria despachando cerca de 200 mil unidades do produto por dia nos Estados Unidos. Três meses depois, a média diária naquele país estaria em 20 mil peças, uma queda livre de 90%.

O Apple Watch era considerado, até pelos concorrentes, como o produto que alavancaria a nova categoria dos relógios inteligentes. Antes da Apple, tentativas da Samsung, LG e Motorola foram tiros n'água dos quais ninguém mais se recorda. Mas, com seu dom para reinventar dispositivos e seu toque de Midas, a Apple era a aposta para dar início à era do relógio conectado.

Parece que isso não vai acontecer. Por quê? De início, parece que foram cometidos alguns pecados básicos. De acordo com várias resenhas (eu não testei o relógio), parece difícil navegar com o dedo na interface de aplicativos no visor, a não ser que você tenha dedos iguais aos de uma criança de dez anos. A bateria deixaria a desejar, com relatos de que não passa de duas horas e meia se o uso de apps for intenso - quem quer andar com um relógio desligado no pulso pelo resto do dia?

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Mas a questão maior é a seguinte: que vantagem um Apple Watch traz para sua vida? O que há nele que justifica o desembolso de pelo menos US$ 349 (valor do modelo mais barato nos EUA)? Afinal, com um relógio normal e um smartphone você está basicamente coberto quanto aos recursos que ele pode oferecer. Eis o desafio do Apple Watch: como convencer o público geral de que aquele é um investimento válido? Nem os fãs têm certeza. A editora da edição inglesa da revista MacWorld, Karen Haslam, confessou: "Simplesmente não consigo ver o que ele pode fazer por mim".

A pergunta vale para os vestíveis de modo geral, que precisam mostrar a que vieram. A possível exceção são as pulseiras que monitoram atividades físicas. Uma pesquisa da Canalys mostrou que 7 milhões desses acessórios foram vendidos no primeiro trimestre de 2015 nos EUA. O aumento de vendas em comparação com o mesmo período no ano anterior foi de 150%.

No mais, os últimos anos assistiram a uma sucessão de protótipos e produtos vestíveis que não foram a lugar nenhum. No alto desta pilha de dispositivos supérfluos, descansa o desajeitado (e descontinuado) Google Glass. Certamente há um lugar para vestíveis de aplicações específicas, como o Oculus Rift para jogar games ou o HoloLens, da Microsoft, para aplicações profissionais. Para a maior parte dos mortais, não há muito com que se empolgar.

O caso do Apple Watch serve como choque de realidade em relação à indústria de eletrônicos para consumidor e sua roda viva de "novidades". Quase sempre é muito barulho por nada, de olho apenas na sua carteira.

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