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Inovação e Tecnologia

A vida nos EUA após o Pokémon Go

Reuters

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Por Ligia Aguilhar
Atualização:
 

Começou de forma despretensiosa, como todos os vícios. Meu namorado me enviou uma mensagem, no fim da semana passada, perguntando: "Você está acompanhando a história de um jogo chamado Pokémon Go?" Curiosa que sou, fui logo ao Google checar do que se tratava. A pergunta "O que é Pokémon Go?" já estava no topo das pesquisas. Resolvi fazer o download do tal jogo de realidade aumentada que estava fazendo sucesso. E aí, bem... aí vocês já sabem o que aconteceu!

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Oi, meu nome é Ligia, e eu ando pelas ruas de Chicago caçando Pokémons (só por causa do meu trabalho, claro - só que não).

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Nem parece que hoje faz apenas uma semana que o Pokémon Go foi lançado aqui nos EUA (e se você ainda não sabe direito do que se trata, dê uma espiadinha nessa matéria do Link que explica tudo sobre o game).

O jogo é uma febre em todo o mundo - mesmo em países onde ainda não foi lançado oficialmente, como no Brasil -, ejá tem mais engajamento e popularidade do que o Tinder, Twitter, Facebook, Snapchat e Instagram.

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Oficialmente, trata-se do maior jogo para celular da história, com um total de 21 milhões de usuários ativos por dia nos EUA.

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It is a Pokémon world

A vida nos EUA anda bem diferente desde que o jogo foi lançado. Em cada esquina, é possível encontrar alguém com os olhos atentos ao celular, andando em círculos e parecendo um pouco perdido. Não tem erro: é sempre um jogador de Pokémon Go.

De vez em quando, essa pessoa perdida sou eu. Dia desses, tentei disfarçar enquanto jogava na estação do metrô, mas ao me ver com o celular virado para o horizonte, tirando foto de "nada", o segurança olhou para mim e sorriu: "Caçando Pokémon, hein!" É sempre este comportamento que me denuncia. Eu adoro tirar fotos dos Pokémons em lugares inusitados e ver as fotos engraçadinhas que as pessoas postam nas redes sociais. E esse é um dos motivos pelo qual o aplicativo se popularizou tão rápido.

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Ligia Aguilhar

 

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

A verdade é que eu tento resistir ao jogo, porque eu não gosto muito da ideia de andar olhando para o celular e perder o que está ao redor. Meu primeiro pensamento ao baixar o game foi o risco de as pessoas serem assaltadas enquanto andam distraídas olhando para a tela do smartphone. Aqui nos EUA, já há dezenas de casos de assalto de jogadores de Pokémon Go.

É a fixação coletiva que acaba atiçando minha curiosidade pelo app. O clima ("como está quente/frio"), assunto favorito de nove entre dez moradores de Chicago, já perdeu espaço para o game nas conversas de corredor. Mesmo quem não gosta de jogos baixou o aplicativo e joga de vez em quando, para tentar entender o que está acontecendo ao redor. É nessas conversas que eu fico sabendo dos fatos mais absurdos.

Um colega diz que o metrô de Nova York já está alertando jogadores sobre os perigos de jogar Pokémon Go distraidamente nas plataformas. Outra amiga, que viajou para o Texas, conheceu um garoto que estava viajando para lá apenas porque ouviu dizer que existe uma variedade grande de Pokémons naquela região.

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Em Chicago, as lojas já estão tentando lucrar com o fenômeno. Uma pizzaria oferece 20% de desconto para quem pedir uma "PokePizza" enquanto joga no local. Uma loja de cheesecake está oferecendo sobremesa de graça para quem comprar almoço enquanto caça Pokémons dentro da loja. Os funcionários de uma lanchonete, que aparece como "PokéStop" (pontos turísticos que aparecem em destaque no mapa do Pokémon Go, nos quais o usuário pode encontrar itens essenciais para usar no jogo), foram orientados a convidar os jogadores que estiverem do lado de fora da loja a entrar no estabelecimento e fazer um lanchinho.

Pelo Facebook, recebi um convite para um encontro de jogadores de Pokémon Go no próximo domingo, em frente ao Cloud Gate, tradicional ponto turístico da cidade. Mais de 8 mil pessoas já confirmaram presença e 23 mil indicaram interesse no evento.

Outras cidades também estão sentindo o impacto do sucesso do game. Esse vídeo mostra como estava o movimento no Central Park, em Nova York, na tarde de terça-feira, por causa do jogo.

Reprodução/YouTube

 

Muita gente também está brava com a popularidade do game - e com razão. O museu do Holocausto, em Washington D.C., pediu para ser retirado do jogo. O museu está recebendo um volume grande de pessoas que vão ao local apenas para caçar Pokémons, desrespeitando a memória das vítimas do Nazismo. Aliás, esse é um dos grandes problemas do Pokémon Go: colocar lugares inusitados como PokéStop ou Pokémon Gym (o local onde o jogador pode treinar Pokémons). Um morador do Massachusetts, por exemplo, agora tem que lidar com o movimento de pessoas ao redor da sua casa, que aparece no aplicativo como uma academia para treinar Pokémons. Na rua da minha casa, uma mesquita aparece como PokéStop.

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E sempre há quem tente ganhar dinheiro com esses fênomenos. Na Craigslist, tradicional site de classificados aqui dos EUA, já há anúncios de pessoas que oferecem seus serviços como treinadores de Pokémon (é sério).

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Qual o futuro do Pokémon Go?

É assustadora a febre do Pokémon Go nos EUA e como a população e a imprensa falam do assunto incessantemente em um momento tão delicado para o país, que vai eleger um novo presidente este ano e tem passado por diversos conflitos raciais.

Há, porém, benefícios interessantes do jogo. Muitas pessoas voltaram a fazer atividade física, já que precisam andar pelas ruas para encontrar novos Pokémons. Outro ponto positivo: o jogo traz aprendizados interessantes sobre a cidade onde se vive. Eu descobri várias atrações e pontos importantes de Chicago por meio dos PokéStops.

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É difícil saber quanto tempo a febre Pokémon Go vai durar. Eu duvido que o engajamento vá continuar no outono e inverno dos EUA, quando as temperaturas caem drasticamente e a neve volta a dominar as ruas em alguns estados. O jogo, porém, é um marco da tecnologia. E um aperitivo do que vem por aí nos próximos anos, à medida que a realidade aumentada e a realidade virtual se popularizarem.

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