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Videogames de A(tari) a Z(elda)

A serviço da sociedade

Já discutimos aqui no Modo Arcade algumas vezes o conceito de serious games - jogos sérios, na tradução literal, voltados à educação ou à conscientização dos jogadores. O assunto voltou à tona recentemente por conta de uma iniciativa da cidade de Buffalo, do estado de Nova York, nos Estados Unidos. A Prefeitura anunciou uma competição na qual os participantes têm como desafio desenvolver um jogo que promova o município, ensine cidadania e respeito à diversidade e, de uma forma geral, ajude a melhorar o futuro da cidade e de seus habitantes.

Por João Coscelli
Atualização:

O evento vai ser conduzido pelo próprio prefeito, Byron Brown. A prefeitura busca equipes capazes de desenvolver um game que ensine competências e habilidades aplicáveis e que sejam significativas para cidadania; que enfatize a importância da diversidade na sociedade; que eduque e seja divertido ao mesmo tempo em que promova Buffalo; e que possa ser jogado em vários formatos.

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A primeira fase da competição vai acontecer de 20 a 22 de março, no formato de uma jam, em que os desenvolvedores têm um tempo limitado para criar o jogo. Três finalistas serão escolhidos e participarão do estágio final, em abril, quando vão expor seus games para uma bancada de jurados.

A iniciativa parece ter movimentado a cidade, onde os games não pareciam ter tanto destaque na mídia. "Os games agora são mainstream. Eles estão em todo lugar. São usados na educação, nos negócios. O que é fantástico neles é que o jogador mergulha em uma realidade um pouco diferente e aprende coisas importantes", disse Przemyslaw Moskal, professor de Mídia e Artes Digitais do Canisius College, ao Buffalo News, o principal jornal da região.

"Estou empolgado e surpreso que o prefeito tenha proposto esse tipo de competição, por que elas raramente vêm do governo. Somos como desenvolvedores desconhecidos em Buffalo, e de repente a Prefeitura entra em contato conosco para fazer isso. É muito, muito legal", completou.

Em janeiro, a cidade participou pela primeira vez da Global Game Jam, o maior evento independente de desenvolvimento de jogos. A jam chegou à sétima edição batendo recordes - quase 29 mil participantes cadastrados, mais de 5,4 mil games criados em 518 locais espalhados por 78 países. No Brasil, 48 locais receberam equipes de desenvolvedores.

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É interessante ver uma iniciativa dessas partir da própria Prefeitura. Buffalo não é uma cidade grande - tem cerca de 260 mil habitantes, apenas a 73ª no ranking populacional dos Estados Unidos - e poderia investir em dezenas de outras alternativas. Mas talvez tenha justamente o tamanho ideal para jams públicas e com objetivos sérios, que tragam benefícios ao município. Não dá para dizer que seria impossível realizar algo do tipo em Nova York ou em São Paulo, por exemplo, mas seria infinitamente mais difícil, e tornaria hercúlea a tarefa dos desenvolvedores de tocar em cada problema de cidadania desses locais. É uma porta que a Prefeitura abre e que, a depender do resultado, pode inspirar outros órgãos públicos a fazer o mesmo, e talvez até com mais foco - secretarias e conselhos, por exemplo, podem se valer de games para tratar de saúde, esportes, educação sexual, e por aí vai.

Mais importante, porém, é a superação de tabus a respeito dos games. Novamente citando Moskal, "os games agora são mainstream, eles estão em todo lugar", já fazem parte da nossa sociedade e carregam valor cultural, trabalham com contexto histórico, narrativa e, por que não, são ferramentas de comunicação. É um sinal de grande maturidade reconhecer essas características e promover o uso dos jogos como algo que pode prestar serviços à sociedade, uma vez que eles são facilmente assimilados por grande parte da população. Que Buffalo sirva de exemplo a outras cidades e que esse tipo de iniciativa torne-se mais comum não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo - pois desenvolvedores não faltam, como mostram os números da GGJ.

PS: Já faz quase três anos dessa entrevista com Asi Burak, então presidente da Games For Change, mas fica a sugestão para quem quiser ler mais sobre serious games

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