PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Videogames de A(tari) a Z(elda)

As novas regras do jogo

Por João Coscelli
Atualização:

Tem circulado em vários sites e blogs um relato sobre uma reunião da Nintendo na qual o presidente da empresa, Satoru Iwata, afirma que 90% dos jogadores mais jovens não conseguem terminar a primeira fase do Super Mario Bros. original. A história toda já foi desmentida, não passa de uma brincadeira tendo como base algumas declarações do executivo.

PUBLICIDADE

Os números também são exagerados. É inimaginável que apenas um em cada dez jogadores consiga completar o nível básico do clássico jogo do Mario. Outros dados atribuídos falsamente a Iwata - 70% morreram no primeiro Goomba da fase, ou o primeiro inimigo do jogo, e 50% morreram duas vezes nessas condições; muitos acharam que as inofensivas moedas eram inimigos; outros tantos não souberam usar o botão de correr; e um grupo grande não sabia que aqueles buracos sem fundo significavam morte.

A mentira fica escancarada pelos dados exagerados, mas se eles fossem mais verossímeis, poderiam, de fato, ser realidade. Super Mario Bros. é, sim, um clássico, mas nem mesmo a base de fãs mais jovens do encanador está acostumada com as regras e mecânicas dos seus títulos antigos.

É tudo uma questão de aprendizado e verificação de leis, como escreve Steven Johnson em seu livro Tudo o que é ruim é bom para você, do qual já falamos aqui no Modo Arcade. Segundo ele, todo jogo é um conjunto de leis que o jogador aprende somente pelo método de tentativa e erro - até onde ele pode andar, o que pode e o que não pode tocar, o que precisa fazer para abrir uma porta e qual a consequência de saltam sobre determinado objeto.

Essas regras comumente vinham explicitadas em manuais ou em explicações breves dentros dos jogos da década de 80 e do início da década de 90. A maior parte delas, porém, tinha de ser aprendida, como dizem, na raça - era jogando que se percebia como tudo funcionava, o que exigia horas de dedicação dos jogadores para explorar cada canto do mundo virtual.

Publicidade

Nos games atuais, os jogados por essa tal nova geração de jogadores, o método da tentativa e erro não é mais tão recorrente. A maioria dos títulos contém tutoriais, indicadores de objetivo nos mapas e uma série de aspectos que deixam tudo mastigado para quem está jogando, como se o game dissesse "é isso o que você precisa fazer para conseguir aquilo e chegar lá, mas cuidado com esse e aquele".

Quem vivenciou essa geração mais antiga cresceu aprendendo regras sozinho e pouco liga para tutoriais e guias. Fez parte da cultura dos jogos clássicos fazer com que os jogadores se virassem para avançar e descobrir os segredos de cada game. Mas quem iniciou sua vida nos videogames nas gerações mais recentes, que têm mais direcionamentos para o jogador, não está acostumado com esse ambiente autônomo. O caminho inverso também pode ser verdadeiro - quem jogava na década de 80 e ficou longe dos games para voltar somente agora vai estranhar muita coisa.

Existe, portanto, uma mudança nesse aspecto. Se para melhor ou pior, é subjetivo. O fato é que os jogos atuais aproveitam algumas regras dos games mais velhos, mas deixadam várias outras de lado e introduzem outras mais, que podem substituir as antigas ou apenas se juntar ao conjunto de normas. Isso não quer dizer que os jogos estão mas fáceis ou difíceis, e sim que, graças à tecnologia e a outros fatores, foi possível pensar em novas formas e modelos de criação, mesmo processo pelo qual passaram outras modalidades de entretenimento, como o cinema e a literatura.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.