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Videogames de A(tari) a Z(elda)

'Setor de games precisa de mais incentivos do governo'

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Por João Coscelli
Atualização:

Os números mostram que o Brasil cresce a cada ano como um mercado potencial para os games, mas ainda tem muito que melhorar no que diz respeito ao desenvolvimento dos jogos eletrônicos. O que falta para chegarmos ao nível dos países mais desenvolvidos nesse aspecto? Incentivos do governo, segundo Esteban Clua, professor do instituto de computação da Universidade Federal Fluminense e atual presidente do XI Simpósio Brasileiro de Jogos e Entretenimento Digital (SBGames), que ocorre entre os dias 2 e 4 de novembro no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília.

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Para Clua, o País não deixa a desejar quando o assunto é pesquisa e formação de profissionais para atuar no desenvolvimento dos games, mas ele admite que algumas barreiras ainda devem ser vencidas para que o Brasil desperte também neste segmento. "Precisamos de incentivos como os que o governo deu para o cinemas. O cinema viveu uma reviravolta nos últimos 15 anos por causa dessas políticas", diz o pesquisador. Veja abaixo a íntegra da entrevista concedida por Clua ao Modo Arcade.

O que é o SBGames? É a maior conferência sobre desenvolvimento de jogos na América Latina atualmente. Mas não é uma feira - é um congresso com foco no desenvolvedor, no pesquisador e nas universidades que trabalham com jogos. É um grande encontro de todos que têm a ver com o processo de se fazer um videogame, por isso há também empresários e órgão governamentais.

Por que é importante que essas pessoas se reúnam? Só assim os profissionais se inteiram de tudo o que está acontecendo no cenário nacional. O desenvolvedor não tem como enxergar o que está acontecendo com as tendências comerciais, o fornecedor não tem como saber quais são as tendências tecnológicas. É fundamental para todo mundo ficar sintonizado e tem sido extremamente valioso para todos, tornando-se um marco da comunidade. Além disso, a área de games é multidisciplinar, com programadores, artistas, comunicadores, a parte dos negócios e de empreendimento, e o encontro permite que haja um intercâmbio desses setores de naturezas tão diferentes.

Como você avalia o cenário nacional de pesquisas sobre games? Nas áreas de academia, pesquisa e ensino estamos praticamente no mesmo nível que os países mais desenvolvidos no setor de jogos e é impressionante a quantidade de universidades e pessoas dedicadas aos games. Isso é interessante para as grandes empresas, que vêm buscar profissionais aqui para trabalhar lá fora, já que formamos uma mão-de-obra extremamente capacitada. Isso se reflete na qualidade dos trabalhos científicos apresentados, muitos dos quais ganhando relevância internacional e sendo publicados em periódicos importantes. Nosso cenário acadêmico é muito rico.

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Temos uma formação boa, mas não estamos entre os melhores desenvolvedores... Nosso setor de desenvolvimento é fragmentado. Não há uma indústria muito bem organizadas, com investimentos pesados e produções hollywoodianas. Há muitas empresas ligadas ao desenvolvimento, mas com investimentos baixos, sem grandes projetos. O que falta é capital, a entrada das grandes companhias no Brasil, o que seria extremamente importante para que déssemos um passo em direção à maturidade.

O que você sugere para que esse cenário mude? Acredito muito que precisamos de incentivos como os que o governo deu para a área do cinema. Nos últimos 15 anos, pudemos perceber que a indústria do cinema nacional viveu uma reviravolta. Precisamos de políticas semelhantes, com isenções fiscais e que tragam benefícios para as empresas que investem nesse setor. Falta essa ajuda político-governamental.

Há futuro para o desenvolvimento de games brasileiro? Sem sombra de dúvidas. É só ver a quantidade de brasileiros que estão trabalhando lá fora graças à mão-de-obra altamente qualificada que formamos. Aqui as empresas encontram excelentes desenvolvedores e também somos um grande potencial do ponto de vista do consumo. Mas há o problema dos impostos, que não são problema da área de games, e sim da indústria como um todo. O trabalhador custa para a empresa quase o dobro do que ganha por causa dos encargos. No Canadá, por exemplo, onde o governo enxergou o setor de games como estratégico, as autoridades subsidiam parte da produção vendo essa política como garantidora de contrapartidas, que atraem os investidores.

Qual o nível de maturidade do Brasil em relação à indústria de games? Eu diria que estamos passando da adolescência e entrando na fase do jovem profissional. Não somos mais aquele adolescente empolgado, mas pouco maduro e que comete uma série de erros. Estamos em um período de transição para aquele que já acerta um pouco mais, mas que ainda não tem tanta experiência. Melhoramos, mas não podemos dizer que somos profissionais maduros.

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