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Quem joga, sabe

'Coming Out Simulator': um jogo sobre estar na pele dos outros

Game criado pelo canadense Nicky Case propõe que jogador 'conte' a seus pais sobre sua orientação sexual

Por Bruno Capelas
Atualização:

Por Bruno Capelas

 Foto: Estadão

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O que você faria se fosse gay ou bissexual e tivesse de contar aos seus pais sobre a sua orientação sexual? Eventualmente essa pergunta pode não ter nunca passado pela sua cabeça (como nunca passou pela minha). Entretanto, ela é presente na vida de muitos adolescentes, e é o mote por trás de um dos jogos mais simples e desafiantes do ano. Coming Out Simulator (em tradução literal: "simulador de sair do armário", ou "simulador de se assumir"), um game para navegadores criado pelo canadense Nicky Case, fala sobre exatamente isso: como contar para os seus pais que você, ao contrário do que parece ser imposto pela sociedade, não é heterossexual?

O game é baseado na própria história de Nicky: em 2010, o rapaz de família de descendência asiática era um estudante do ensino médio e tinha um caso com um cara chamado Jack. Os dois estudavam na mesma escola e, para ficarem juntos, Nicky tinha de mentir para os pais que estava apenas estudando química (quando estava no cinema vendo A Origem). Entretanto, a rede de mentiras de Nicky vai ficando cada vez mais estreita, sua mãe começa a desconfiar de Jack e, influenciado pelo namorado, o rapaz acaba resolvendo que precisa sair do armário, para ver se tudo fica mais fácil. Coming Out Simulator é, especificamente, a recriação da noite em que Nicky conta tudo para seus pais, no meio de um jantar.

 Foto: Estadão

Não espere, entretanto, ações muito complicadas ou comandos de botões: Coming Out Simulator, assim como outros games extremamente psicológicos saídos da seara independente (como é o caso de Suzy and Freedom, que coloca o jogador no papel de Suzane von Richthofen), é construído apenas com mensagens de texto, como uma conversa entre você e alguém no Facebook. Cabe a você, colocado no papel de Nicky, optar entre três respostas possíveis para cada diálogo que vai sendo exibido na tela, com diferentes pessoas: Jack, a mãe, o pai ou até mesmo o próprio Nicky, quando este introduz e termina sua história.

Vale o aviso: assim como na vida real, não existem respostas certas.

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É por não ter comandos complicados e pedir ao jogador apenas que ache a resposta mais verdadeira com o que acredita em sua vida que Coming Out Simulator me conquistou. O game enlaça quem o joga em uma trama psicológica, dizendo muito não só sobre os tempos em que vivemos, mas também sobre a arte de jogar videogames.

Quando eu jogo um game novo, tento sempre pensar que ele vai trazer algo de diferente à minha vidinha cotidiana. Imaginar que eu sou o Neymar marcando um golaço em FIFA, ou um macaco alegre disparando cascos e correndo de kart é um jeito simples de fazer isso (e extremamente divertido).Já, como diriam os ingleses, "me colocar nos sapatos" de alguém que eu não conheço, imaginando como seria passar por essa situação, fez com que eu entendesse o quanto, mesmo em 2014, sair do armário é uma algo delicado e difícil. E, de algum jeito, pode ser que sempre seja: não é só uma escolha, não é só uma questão social. É sobre fazer as coisas do jeito que se acredita, buscando a compreensão das pessoas que realmente importam para você - como seus pais, seus melhores amigos ou qualquer resposta válida.

É óbvio que games não têm de assumir bandeira política ou dar lição de moral para ninguém. Pelo menos não é para isso que, essencialmente, eles são feitos. Mas, em pouco mais de meia hora jogando Coming Out Simulator, talvez eu tenha entendido mais sobre tudo esse tema do que em anos e anos de filmes, livros e conversas sobre o assunto. Minha dica é que você faça o mesmo.

Para jogar Coming Out Simulator, basta clicar nesse link.  Há também versões para download do game no mesmo link.

Coming Out SimulatorDesenvolvedor: Nicky CaseDisponível na web, em inglêsPreço: de graçaPlataforma: qualquer navegador de web

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